Nos últimos dias, relatos de abusos sexuais contra mulheres tomaram as redes sociais com a hashtag #exposed. Por meio de contas anônimas, adolescentes e jovens manifestaram casos estupro, importunação sexual, ameaça de divulgação de fotos íntimas e pornografia de vingança.
O movimento vem sendo puxado por várias regiões do país e também alcançou o Piauí, evidenciando a imensa subnotificação de crimes sexuais, uma realidade de muitos estados.
Com a hashtag #ExposedTeresina, no Twitter, diversas pessoas relataram os crimes. Alguns casos envolvendo professores de várias instituições de ensino da capital resultaram em investigações da Polícia Civil.
Anamelka Cadena, delegada de Polícia Civil, aponta que é importante a ascensão do debate e dos movimentos de denúncias que acontecem nas redes sociais.
"O que vem eclodindo na internet fornece espaço, ela passa a ser um campo mais constante desse tipo de compartilhamento de informação e gera também um empoderamento, um fortalecimento entre todas outras pessoas que já sofreram algum tipo de assédio e violência sexual de todas as modulações possíveis a serem identificadas", detalha a delegada.
O desabafo cria laços de fortalecimento com quem compartilha do mesmo acontecimento e esse ato forma também um suporte que acalenta a angústia e as dores deixadas pela violência sexual.
"Nessa perspectiva, a gente percebe que é muito positivo esse tipo de movimento, principalmente porque, às vezes, fatos que estavam sob aspectos da subnotificação, começam a ser desvelados", afirma Anamelka.
Com encorajamento de vítimas que foram violentadas sexualmente, pode-se desencadear a identificação de autorias e grandes investigações. Diante disso, quaisquer informações devem ser feitas de forma legítima. A delegada pede atenção às cautelas necessárias para quem for tomar a atitude de expor algum caso nas redes sociais, que são canais de grande alcance.
"Não expor a imagem ou nome da pessoa que praticou o ato. Evitar essas informações mais específicas para aquela denúncia informal, que termina muitas vezes engatilhando procedimento, principalmente quando estamos falando de práticas de ação penal pública incondicionada", aconselha Cadena.
De acordo com ela, o indicado é fazer o relato do ocorrido para o movimento de encorajamento coletivo e evitar possíveis detalhes que possam ser utilizados pelo investigado contra a vítima.
"Fora essas cautelas, a gente tem uma preocupação muito grande e orienta a quem vai expor essas informações pelo risco que pode correr. Apesar dos movimentos serem positivos, fortalecedores e garantirem o encorajamento coletivo, é muito importante denunciar formalmente", frisa.
As contas exposeds mostram força e sororidade e podem fazer uma grande diferença se, juntamente com os relatos, informarem os canais de ajuda que possibilitam denúncias e registros formais que podem garantir à vítima possibilidades jurídicas legais de proteção, além de facilitar o trabalho policial, investigativo e garantir futuramente uma advertência severa ao agressor.
"Se é caso de relação interpessoal, há possibilidade de solicitação de medida protetiva, iniciada a investigação. Precisamos dizer que utilizar os meios republicanos através do registro formal de ocorrência também deve acontecer, mesmo havendo esse movimento nas redes sociais", completa Anamelka Cadena.
Denuncie
Feitos com toda cautela, os relatos inseridos no movimento encorajam outras pessoas. Casos de violência ou assédio, a qualquer hora do dia ou da noite, devem ser comunicados pelo telefone 190. Qualquer pessoa pode fazer a denúncia: a própria mulher, vizinhos, parentes ou quem estiver presenciando, ouvindo ou que tenha conhecimento do fato. Para os casos não emergenciais, o Disque 180 ou o Disque 100 também recebem denúncias e oferecem orientações.