Falsas ofertas de trabalho se espalham pelo Facebook

Postagens são para roubar senhas e perfis

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Chico Marés, Cris Tardáguila e Nathália Afonso

Uma nova (e perversa) modalidade de informação falsa parece ter tomado conta do Facebook brasileiro. Além de textos, imagens e vídeos com conteúdos distorcidos e enganosos, os usuários da plataforma agora precisam driblar ofertas de trabalho inverídicas. Postagens criadas com requintes de crueldade para — até onde os olhos alcançam — roubar senhas e perfis.

Nas últimas semanas, quem navega com frequência pelo NewsFeed do Facebook deve ter percebido que proliferam na plataforma posts voltados para os desempregados. São textos que sempre vêm acompanhados de fotografias e logotipos nacionalmente conhecidos e que, com toda a maldade que existe neste país, buscam ludibriar os mais desavisados.

Que fique claro: por trás dessa ação, não há qualquer promessa de empregabilidade real. Procuradas pelos checadores profissionais do Brasil, empresas como Havan, Localiza, Cacau Show, Casas Bahia, Atacadão, Nespresso, Vivo e Claro negaram veementemente que seus setores de recursos humanos façam seleção de pessoal pelas redes sociais. Ou seja: se vir uma postagem desse tipo, denuncie.

Levantamento realizado pela Agência Lupa entre os dias 26 de junho e 7 de outubro de 2019 indica que pelo menos 35 URLs que prometiam vagas nas empresas acima citadas foram compartilhadas mais de 51 mil vezes no Facebook. No total, esse conjunto de links angariou mais de 56 mil comentários, o que significa que, em média, cada um deles teve mais de 3 mil interações no período analisado.

Em todos os casos estudados, o post informava sobre vagas de emprego sem especificar a cidade e/ou o estado em que a pessoa trabalharia. Pedia apenas que o usuário respondesse com um “ok” ou “sim”, no campo de comentários como forma de confirmar seu interesse na “candidatura” apresentada.

Ao digitar qualquer palavra no campo de comentário, o usuário recebia então uma resposta automática, oriunda de um robô (bot). Seguindo as instruções digitais, deveria então curtir a página onde “as vagas” haviam sido postadas e compartilhar a publicação original em ao menos cinco grupos de Facebook.

Após alguns minutos, o indivíduo era novamente contactado pelo bot, que liberava então um “valioso” link de acesso ao sonhado “cadastro das vagas”. Ao clicar nessa URL, porém, o usuário do Facebook era redirecionado para uma página falsa que simulava a página inicial da plataforma de Mark Zuckerberg.

Esse site, registrado no exterior, pedia que o usuário digitasse seu login e senha de Facebook. Ao fazê-lo, no entanto, o desempregado se surpreendia. Caía numa página que anunciava outras vagas, com mais e mais campos de cadastros – sem qualquer informação de contato. Mas, naquele instante, já não havia volta. Seus dados pessoais já haviam sido furtados.

Desde o dia 1 de outubro, Agência Lupa e Aos Fatos publicaram uma série de checagens sobre falsas ofertas de emprego. As duas plataformas integram o projeto de verificação de notícias que o Facebook trouxe para o Brasil em 2018 e, portanto, também passaram a etiquetar como “falsos” dezenas de posts desse tipo. Encaminharam ao Facebook listas com links que haviam sido verificados, buscando alertar a empresa sobre possíveis falhas de segurança. Afinal, ainda não há clareza quanto ao uso que será (ou está sendo) feito desses perfis furtados.

O Facebook respondeu com uma nota , agradecendo o esforço de reportagem e informando que as páginas listadas haviam sido “removidas por violar os Padrões da Comunidade”. No texto, também trazia uma recomendação: “que as pessoas ativem a verificação de dois fatores para login no Facebook, adicionando uma camada de segurança a suas contas”.

Mas os dias se passaram, e a sensação entre os checadores é de que andam enxugando gelo. A cada manhã, novos posts com o que parecem ser novas falsas vagas de emprego reaparecem no Facebook, usando o mesmo formato.

Os textos das publicações são semelhantes aos que foram classificados como enganosos e encaminhados ao Facebook dias atrás. Agora, no entanto, algumas das páginas passaram a oferecer brindes e/ou a omitir o nome das supostas empresas envolvidas na “oferta de vagas” – o que inviabiliza a verificação do conteúdo. As fotos que antes mostravam logotipos ficaram mais genéricas.

Em comum com a primeira leva avaliada há ainda o fato de que boa parte das postagens se apropria de perfis que estavam dormentes na rede social e que, de cara, não parecem ter qualquer relação com o universo da “empresa que está contratando”.

No último dia 9, por exemplo, a página Lugar de Pipa é na Quebrada , que não publicava nada desde 2016, passou a anunciar emprego na Vivo. A página Top Spetus , que faz delivery, tinha vagas de trabalho na Havan.

E, para finalizar, vale dizer que são de rachar o coração os comentários que acompanham esses posts. Colocamos alguns deles aqui, mantendo os erros de ortografia/digitação e omitindo o nome dos autores:

“Oi Boa noite tenho 3 filho estou precisando muito de duas Vargas de emprego pra min e pro meu marido”.

“E para meu irmao adotivo ele precisa dessa oportunidade ele esta precisando muito, ele tem 24 anos e esta desesperado precisando de um servico”

Além da série de telefones celulares e informações sobre farta disponibilidade de horário.

O Brasil tem 12 milhões de desempregados — e é triste que haja muita, muita gente querendo tirar proveito disso.

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