A menina Kemilly Vitória Pereira de Souza, de 2 anos e 8 meses, que tem o corpo coberto por pelos, fez a segunda sessão de laserterapia na quinta-feira (19), Hospital Materno Infantil (HMI), em Goiânia. Pela primeira vez, a garota se viu no espelho com o rosto totalmente livre dos pelos. A menina sorriu e tocou por várias vezes a face. A mãe da criança, a dona de casa Patrícia Batista Pereira, de 22 anos, chorou de emoção ao ver o rosto da filha após o precedimento: "O que eu mais queria era ver o rostinho dela assim. É um sonho realizado".
Kemilly sofre de uma doença genética e hereditária chamada hipertricose lanuginosa, também conhecida como "síndrome do lobisomem". O procedimento desta vez foi aplicado do lado direito da face e reforçado no lado esquerdo, onde os pelos haviam sido removidos no dia 5 deste mês.
A mãe diz ter ficado muito feliz com o resultado das duas primeiras sessões. "A gente gosta dela do jeito que ela é, mas queremos vê-la sem esses pelinhos, porque a incomoda bastante. Sem contar que ela sofre preconceito", afirma.
Médico responsável pelo caso, cirurgião pediátrico Zacharias Calil explicou que começou pelo rosto porque a região e considerada a mais incômoda. A paciente deverá retornar ao HMI no dia 16 de janeiro, quando ele espera aplicar a luz pulsada em parte do braço direito e do tórax. "Vamos por etapa, o laser provoca uma queimadura e temos que tomar cuidado para não lesionar a pele", explica.
Sessão quinzenal
A previsão inicial era que o tratamento fosse realizado mensalmente. Mas agora, Zacharias Calil pretende diminuir o intervalo entre uma sessão e outra. "Como ela está reagindo bem, acho melhor aproveitar e fazer de 15 em 15 dias", avaliou.
Calil estima que a menina deverá se submeter a um total de 40 sessões de laserterapia, para matar a raiz dos pelos e evitar que a lanugem volte a crescer. Caso a mudança no cronograma realmente aconteça, o tempo de tratamento cairia de 3 anos para 1 ano e 6 meses. Mas a viabilidade ainda é avaliada pelos pais.
A família de Kemilly mora em Augustinópolis, no norte do Tocantins. O eletricista Antônio de Souza, 34 anos, não sabe se terá condições de viajar uma distância de mais de 1.200 km, entre Goiânia e a cidade natal, quinzenalmente. "Não temos condições de pagar e estamos recebendo a passagem do governo do Tocantins. Não sabemos se eles vão nos dar essa ajuda para vir de 15 em 15 dias", explica.
Patrícia não descarta a possibilidade de se mudar para a capital goiana. "Por ela, vale qualquer sacrifício", diz. Mas Antônio prefere não deixar a cidade onde tem casa e emprego.
A mãe conta que, desde o nascimento da menina, a família percebeu que os pelos cobriam todo o corpo da criança, mas que eles foram escurecendo ao longo do tempo. ?Felizmente, ela é saudável e se desenvolve como uma criança normal. O problema mesmo é o excesso de pelos em todo o corpo. Só os pés e as mãos delas não têm?, destacou.
Os pais chegaram a Goiânia no dia 16 de novembro, em busca de uma solução para o problema da filha. Desde então, estão abrigados na casa de familiares. Com passagem marcada para o próximo dia 23, a família não vê a hora de voltar para Augustinópolis. "Queremos passar o Natal em casa", diz Antônio.