No trajeto de pouco mais de dez minutos que vai levar o papa Francisco de carro fechado até a residência oficial da Arquidiocese do Rio, no alto do Sumaré, 700 metros acima do nível do mar, o Pontífice vai ter muito o que ver. Certamente a primeira coisa que observará é a paisagem semelhante à de um bairro de classe média da sua Buenos Aires, seja em Santa Teresa, seja no Rio Comprido (as duas opções de caminho terrestre). Logo depois da primeira grande curva à direita, ele vai passar pelo seminário de São José, principal centro formador de padres da cidade do Rio. No muro do seminário, poderá ver um grande mural pintado com sua figura, ao lado de uma inscrição que diz ?Bienvenido Santo Padre?, na língua materna dele, o espanhol.
Subindo um pouco mais, o papa Francisco vai ter a tentação de quebrar o protocolo. É que ele vai passar bem no meio da comunidade do Turano, que desde dezembro de 2010 foi retomada pela Unidade de Polícia Pacificadora (UPP). E a tentação é porque Francisco, ainda quando cardeal Bergoglio, era um visitante assíduo das favelas e comunidades bonairenses. Ia sem fazer alarde, sem avisar, entrava nas casas, conhecia a realidade das pessoas e buscava ajuda. E quando passar por aí, principalmente na hora de voltar para o seu descanso, é que o papa Francisco não vai estar, em princípio, acompanhado por nenhuma câmera ou repórter. E poderá pedir ao motorista que dê um paradinha. Na sexta-feira, quando o Terra percorreu o caminho do Papa, a prefeitura ainda trabalhava capinando a beira da estrada do Sumaré, ajeitando uma coisa ou outra, recolhendo o lixo. Mas pode ser que deixem o Papa ver um pouquinho de realidade, que não consegue se maquiar com facilidade.
Passado o Turano, o papa Francisco, um torcedor apaixonado pelo seu clube de futebol, o San Lorenzo, de Almagro, vai ter uma belíssima vista do centro e da Tijuca, com o Maracanã outra vez brilhando, e da ponte Rio-Niterói. Olhando para a esquerda, poderá ter um pouco mais de vista do centro do Rio e parte da zona sul, embora logo a estrada volte a ser mata fechada até chegar à portaria do Sumaré. Do portão, recentemente pintado de azul, o Papa pode optar por fazer um breve caminhada de cerca de 100 metros até a casa.
Mas a chegada do Papa a sua casa no Rio pode ser também pela terceira via, a aérea. Um heliporto fica bem em frente ao portão de entrada da residência do Sumaré e também vai ser utilizada pelo Papa. Como desde a vinda do Papa João Paulo II, em 1997, o heliponto não é muito utilizado, foi preciso cortar alguns arbustos na beira da estrada para facilitar as manobras de pouso e decolagem da aeronave. Deste ponto, o Pontífice poderá ver a Igreja da Penha ao longe e o estádio do Engenhão.
O que o Papa não poderá ver são os corredores e ciclistas que passam em frente ao portão todos os dias. É que, com o forte esquema de segurança que vai ser montado a partir de domingo no local, pelo exército e pela Polícia Federal, vai ser bem complicado até mesmo ver a cor do portão da residência. Os bloqueios vão começar bem antes de qualquer tentativa de subir e homens do Exército vão estar espalhados pela mata. Só terão permissão de passagem os membros da comitiva do Vaticano, policiais e, claro, o Papa. Até mesmo os funcionários da casa vão ter que ficar confinados por uma semana nos alojamentos existentes no terreno. Quem não pode ficar, ganhou uma semana de folga. Mas vai ficar sem ver o Papa.