Depois de dezenas de mulheres denunciarem João de Deus por assédio sexual, Dalva Teixeira, filha do médium, veio a público revelar que foi estuprada pelo próprio pai. Por motivo de segurança, ela está escondida e é representada pelo advogado Marcos Bocchini num processo movido neste ano e que corre sob sigilo em Goiás.
Segundo fontes, Dalva foi estuprada pelo pai quando ainda era menor de idade e hoje pede uma indenização de R$ 50 milhões numa ação judicial de reparação por danos morais sofridos em razão de estupro continuado.
Sabrina Bittencourt, ativista social pelos direitos humanos e Doutora Honoris Causa por seu trabalho humanitário pela UCEM - Universidad del Centro, no México, é quem está em contato com a filha do líder espiritual. Segundo ela, Dalva está protegida e vive escondida. Autorizada pelo advogado a falar em nome de Dalva em entrevista exclusiva à Marie Claire, Sabrina explica que os filhos de Dalva entraram com um processo contra o avô em 2017 para tentar atenuar o sofrimento da mãe, mas foram coagidos – na mesma época – a gravar um vídeo desmentindo a acusação de abuso.
“Ela sofreu danos emocionais sérios. Os filhos querem tirar a mãe disso", diz. "A Dalva só pode falar em audiência e foi coagida a fazer um vídeo em 2017, que foi divulgado agora como se ela o tivesse feito hoje, como se fosse um vídeo deste ano. Dalva foi internada contra a própria vontade e ficou sedada por muito tempo. A equipe do João foi até a clínica e a obrigou a gravá-lo. Se ela não fizesse isso, os filhos dela seriam mortos. Por conta disso, ela não seguiu com o processo. Ela conseguiu sair da internação e hoje tem sido ameaçada de morte pelos capangas do João de Deus”, alega Sabrina.
A ativista está articulando a proteção de Dalva e do advogado de defesa juntamente a organismos de direitos humanos internacionais. Foi Sabrina quem ajudou a denunciar os casos de abuso sexual cometido pelo líder religioso Sri Prem Baba (divulgados em 30 de agosto pela revista Época), e tem focado seus esforços nas investigações das denúncias contra João de Deus. Morando fora do Brasil, Sabrina conta que tem fugido, de país em país, por medo de represálias.
“Fui ameaçada de morte e me mudo de casa a cada dez dias", afirma a ativista. "Estou em um autoexílio há muito tempo por causa dessas causas. Não tenho interesse específico de destruir João de Deus, até porque ele está se destruindo sozinho. Quero apenas abrir os olhos para esses fatos que estão acontecendo pelo mundo. O feminismo não pode ser seletivo. Essas mulheres precisam ter voz”, acredita.
Sabrina produziu um vídeo intitulado #OprahWeNeedYou (em português, “Oprah, precisamos de você”) para chamar a atenção da apresentadora norte-americana, uma das admiradoras de João, e convidá-la a engrossar o coro pelas mulheres que denunciaram o médium. Oprah, inclusive, foi com sua equipe a Abadiânia, sede do santuário de João de Deus, no interior de Goiás, para produzir uma reportagem sobre o líder religioso para seu programa de televisão. O vídeo está atualmente indisponível no canal da apresentadora.
“Isso deve ser de interesse do poder público internacional. As vítimas estrangeiras dele têm que procurar as embaixadas brasileiras para fazer uma denúncia formal. Diplomaticamente, o Brasil vai ter que dar uma resposta a isso", entende Sabrina. "Recebi relatos de pessoas denunciando-o por garimpos ilegais e por colocar muitas pessoas como laranjas nestes lugares e em suas fazendas. Todo esse material e essas testemunhas estão sendo encaminhados para as autoridades brasileiras investigarem”, esclarece ela sobre as denúncias feitas anteriormente a João de Deus, que já foi acusado por assédio sexual em 2010 e absolvido por falta de provas.