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Faz parte da tradição de Natal e Réveillon soltar fogos de artifício. Os fogos dão um brilho especial à festança, mas há várias razões para se abolir o costume. O primeiro motivo é que o estrondo causado pelas bombas aterroriza os pets, que têm a audição muito mais apurada que a do ser humano. O segundo é que isso pode levar a crises nervosas, convulsões, fugas e até à morte, no caso dos cães e gatos com doenças cardíacas.
Recentemente, o caso da cadela Magui, que morreu por problemas nervosos abraçada ao dono durante queima de fogos de artifício, em Chubut, na Argentina, vem levantando essa discussão.
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“Devido aos fogos de artifício, o barulho incomoda muito os animais e eles ficam muito excitados, há casos que eles têm problemas cardíacos, e em certas condições neurológicas, chegam a ter crises convulsivas. Acontecem muitos casos de acidentes, já recebi pets que caíram do 4º andar para se livrar do barulho”, afirma o médico do Hospital Veterinário da Universidade Federal do Piauí, Daniel Rodrigues. “Muitos, em seu desespero, são atropelados, enforcam-se na guia, se machucam severamente na tentativa de escapar", alerta.
Quem tem todo um cuidado especial aos bichanos com os fogos é o casal Ariane e Wenner Nascimentos. Eles têm dois cães, um da raça Poodle, o Lup, e a cadelinha da raça Vira-lata, Luna, em casa, e sabem bem o medo que os animais passam.
“Não deixamos eles ficarem sozinhos. A Luna (cadelinha) fica chorando com o coração ofegante, língua para fora e com muito medo; a maneira que a gente encontrou na hora da queima de fogos foi ficar com ela, colocá-la em nosso colo e com isso ela se sente mais segura com a gente”, disse.
O cuidado com os pets é tanto que eles nunca ficam em casa sozinhos. “Até mesmo em viagens, quando eu ou meu esposo viaja, sempre deixamos os cães com alguém, e vice-versa”, conta Ariane.
O professor universitário aposentado, Ubirajara Arente, tem três animais em casa, e o que mais sofre é o seu cão da raça Pastor. “Não tem como, a única coisa que dá é ficar junto dele e apaziguar o medo. Meus animais são meus companheiros. Tem cidades que já proíbem os fogos, é questão de cultura”, sustenta o professor.
Recomendação à risca
O veterinário Daniel Rodrigues indica o que fazer para tentar diminuir e proteger o animal desse incômodo sonoro causado pelos fogos de artifício neste período de datas comemorativas.
“Recomendamos que o tutor mantenha o animal em um local calmo, pode ser um quarto da casa, ele vai se sentir mais seguro para tentar diminuir o barulho. Pode-se colocar pedaços de algodão na orelha do animal para diminuir o som, o tutor deve estar junto ao animal para ele se sentir protegido e estar sempre supervisionando os pets. Em locais restritos, pode-se ligar a TV, deixar uma música para diminuir esses efeitos dos fogos”, orienta.
Em caso de viagem, o veterinário recomenda que os pets fiquem em “hotéis” — espécies de clínicas especializadas, que cuidam dos bichinhos. “Esses hotéis têm pessoas capacitadas que cuidam desses animais brincando, interagindo com outros cães e gatos. Outra saída é deixá-lo com parentes, isso traz um certo conforto para o animal, visto que a saída do dono causa certa angústia e estresse”, atenta.
Fogos silenciosos
Muitas cidades no mundo já aboliram fogos com barulho. No Brasil, algumas cidades já proíbem o uso de fogos de artifício que produzem barulho maior do que 85 decibéis. Em Teresina já está em vigor, desde 2018, a Lei Municipal Nº 5237, de autoria dos até então vereadores Venâncio Cardoso e Teresa Britto, que proíbe a queima e soltura de fogos de artifício próximos a animais. A multa em caso de descumprimento tem valor de R$ 2 mil, podendo chegar a R$ 10 mil em caso de reincidência.
Algumas lojas na Rua Paissandu, no centro, já oferecem opções de fogos de artifício que não emitem som. Deste modo, podemos apreciar o brilho e as cores dos fogos no céu sem o incômodo do barulho, poupando a todos os animais.