O ex-governador e presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae Piauí, Freitas Neto, participou de mais uma edição do Diálogo.com promovido pelo Movimento Empreender Piauí (MOVE) na noite dessa segunda-feira (15). Com vasta carreira no cenário político administrativo do Piauí, Freitas Neto falou sobre o tema: Gestão e Governança – como governar o governo. O encontro reuniu empresários e profissionais liberais que buscam propor ações ao Governo para criar um ambiente favorável aos investimentos e que estimule o empreendedorismo, além de tornar o Estado focado em resultados.
Anfitrião da noite, o empresário Andrade Júnior, deu as boas-vindas a todos os presentes e destacou o crescimento do MOVE que inicialmente contava com poucos participantes e hoje vem aumentando o número de adeptos movidos pela causa. “Uma causa legítima de querer o bem do nosso Estado, um ambiente de negócios favorável, não só para nós que estamos no mercado como também para os jovens. Que seja um mercado de perspectivas para o nosso jovem que tem tido como meta principal o concurso público, mas que essa concepção já vêm mudando. O empreendedorismo é a salvação do nosso país, sem dúvidas. Temos como exemplo a China, onde muitos jovens já empreendem”, disse Andrade Júnior, acrescentando que o MOVE se reúne quinzenalmente e que já trouxe grandes nomes para importantes discussões. “Nós como empresários e profissionais liberais queremos entender como podemos efetivamente contribuir com propostas para melhorar o nosso Estado”, pontuou.
O ex-governador Freitas Neto iniciou sua fala reforçando a importância da participação do empresariado e de iniciativas como o MOVE para provocar as mudanças políticas. “Procurar estudar os problemas do Estado, participar - inclusive em contato mesmo - porque um movimento como esse é suprapartidário, não tem partido, ele é a favor do Piauí. E quando é um movimento a favor do Piauí ele tem que dialogar com as autoridades constituídas mesmo que simpatize ou não com o seu pensamento”, disse.
Tendo exercido os cargos de prefeito de Teresina, deputado estadual e federal, presidente da Assembleia Legislativa, presidente da Telepisa e Governador do Estado, ele assumiu o Governo em um momento muito delicado com salários atrasados, impossibilitado de contrair empréstimos e realizar qualquer investimento. Durante sua carreira política, Freitas Neto teve participação efetiva em áreas administrativas, fator este considerado fundamental ao longo desses anos.
“Sempre tive uma vida marcada com a parte administrativa e isso ajudou muito na minha atuação. Então governar, você tem que olhar em primeiro lugar para a questão administrativa, mas se você foi eleito pelo povo você não tem como deixar a questão política, principalmente em um sistema político como o de hoje”, disse. O ex governador aproveitou e fez uma crítica ao atual governo e o sistema partidário. “Não existe no mundo um sistema com 39 partidos políticos e outros tantos na fila. Eles não representam mais coisa nenhuma, a maior parte serve apenas para barganhar com o presidente da República, governador do Estado, prefeito da cidade. Nas Câmaras Municipais do interior do Piauí, com partido forte tem um ou dois vereadores. Com esse sistema bagunçado assim, que não tem representatividade, se nós não mudarmos isso dificilmente a gente tenha condições de ter uma administração pública quer no plano federal, estadual ou municipal, uma mais eficiente”, criticou.
Freitas Neto afirmou também que governar é tomar decisões difíceis, seja como governador, prefeito, no executivo ou legislativo. “Porque as vezes você é obrigado a votar olhando se aquele projeto de lei ou aquela emenda constitucional, ela pode ser impopular, mas ela tem que ser feita, como por exemplo a Reforma da Previdência. Então você tem que ter responsabilidade”, afirmou, relatando algumas duras medidas adotadas durante sua gestão no Governo do Estado.
Governar o governo
Segundo Freitas Neto para governar o governo só precisa bom senso, usar as quatro operações da matemática e fazer as contas. “Se eu autorizar isso aqui, isso vai me custar um determinado valor. Então eu tenho que saber qual é a disponibilidade do Estado. Meu secretário de Fazenda me dava todo dia isso. Eu sabia exatamente o que eu poderia fazer e estava dentro desse limite”, afirmou.
Outro ponto destacado é estar bem assessorado. “É preciso se assessorar bem. Tem aqui o secretário de Estado e o diretor de autarquia. Onde um é bom funciona bem, onde um é regular funciona regularmente, e onde um é ruim não funciona. Então escolher é fundamental. Feito o dever de casa administrativo vai para as outras coisas. Não existe governar um Estado pobre como o Piau, que precisa de tudo, se você não tiver uma escala de prioridades. E tem que olhar também aquilo que é factível fazer”, afirmou.
Reforma política
O ex-governador encerrou o diálogo pontuando que sem uma reforma política que reduza o quadro partidário ficará muito difícil ter um presidente eficiente, um governador ou um prefeito. “O sistema político dificulta muito. E minha mensagem é que o MOVE coloque dentro da sua bandeira de luta uma reforma que moralize e der legitimidade ao sistema. Que o partido seja representativo, que ele represente uma corrente ideológica”, declarou Freitas Neto.
MOVE em ascensão
Segundo o presidente do Movimento Empreender Piauí (MOVE), Arthur Feitosa, o Movimento rapidamente está se transformando em um fórum importante para identificação e proposição de solução de muitos problemas. “Sem a percepção e o entendimento de que se não juntarmos em união poderosa todos os setores da cadeia produtiva do Estado, estaremos contribuindo para colocar em risco não só o futuro do Estado, e sobretudo, de maneira mais imediata os nossos próprios negócios”, discorreu.
Ele também pondera que aguardar os governantes para que todos os problemas sejam resolvidos é querer o impossível. “Ou colocamos a mão na massa ou caminharemos tristemente para a permanência desse status quo ou, ainda, para o retrocesso do já tão pouco alcançado. O Piauí não serve de exemplo para nenhum estado brasileiro. Mas temos a oportunidade de olhar sempre para o espelho retrovisor. Nosso vizinho Ceará, que há muito tempo fez a lição de casa e agora cresce anos após ano. E agora o Maranhão, que mesmo com todos os obstáculos políticos, consegue mover sua economia rumo ao desenvolvimento”, finaliza Arthur Feitosa.