O Piauí apresenta uma gastronomia diversificada, diferente das outras culinárias típicas do Nordeste em muitos aspectos e que tem conquistado diversos chefs Brasil afora. A larga utilização dos temperos frescos tornam a cozinha piauiense única. Outro diferencial na sua culinária é a utilização constante da farinha de mandioca. A região dispõe de excelentes pratos à base de carnes, peixes e frutos do mar que satisfazem os mais exigentes gostos e sabores.
No estado, há uma forma própria de temperar os pratos, mas há quem diga que o grande diferencial da comida piauiense é a forma como ela é preparada. Em cada canto do Piauí, há uma receita peculiar. A carne de sol e o capote são típicos do município de Campo Maior. O capote misturado ao arroz é facilmente encontrado nas cidades de Barras, Batalha, Esperantina e Piripiri.
No litoral piauiense, os frutos do mar e peixes ganham um lugar especial no paladar dos piauienses e turistas. As principais receitas servidas são à base de peixe, camarão, caranguejo e ostras. Já em Teresina, o prato mais desejado é a mistura de arroz com carne seca de gado, conhecida como 'Maria Isabel'. A combinação também funciona com carne de bode, com capote, galinha caipira e pato. A carne de sol socada no pilão e misturada com farinha e cebola branca é conhecida como 'paçoca'. O prato é servido com banana ou baião de dois.
O gastrólogo e restaurateur José Neto, destaca que a gastronomia piauiense é de resistência, principalmente, devido ao clima extremo e simplicidade do povo. Baseada em grande parte na pecuária, vários pratos locais vêm do consumo dos animais criados pelos vaqueiros e tratados principalmente, através da cura, como a carne de sol. Nesse processo é feita a conservação do alimento, se utilizando sal.
“O Brasil está descobrindo com muito amor, o nosso combo mais tradicional: Maria Isabel e Paçoca. Prato que tive a oportunidade de levar para o Sul do Brasil e que é muitíssimo bem representado pelo restaurante Fitó, em São Paulo, que já ganhou alguns prêmios do Guia Michelin”, afirmou o chef piauiense.
José Neto acrescenta que devido a situação atual, os brasileiros estão se voltando mais para o consumo local e regional. Valorizando o que existe de insumo próximo. “Com esse pensamento, muitos de nós gastrônomos, estamos recriando pratos afetivos e mostrando ao Brasil e ao mundo os sabores que nos criaram em nossa base cultural e a gastronomia nordestina, ainda é muito generalizada e pouco conhecida em suas individualidades. Tendo como pratos mais conhecidos o Acarajé, o Rubacão, a Carne de Sol e Baião de dois. A importância disso é mostrar a pluralidade da gastronomia brasileira, que mesmo dentro do universo do Nordeste, segue ainda muito vasta e pouco explorada”, acrescentou.
Culinária rica e com diversidade de sabores
Para o consultor gastronômico e chef de cozinha, Igor Rocha, a cultura e gastronomia piauiense é uma das mais ricas do Brasil e se compara a grandes gastronomias que tem maior visibilidade. O que ainda falta para a culinária local, para que os sabores do Piauí possam alçar voos cada vez mais altos. Ele lembra ainda que um dos legados que os indígenas deixaram para o Piauí foi a culinária.
“Costumo dizer que o Piauí é muito rico, porque temos uma dimensão muito grande em extensão territorial. Conseguimos na região Sul, por exemplo, pegar um pouco da cultura gastronômica do estado do Goiás e do Tocantins. Lá, trabalhamos muito com bode, pequi, abóbora, frutos e frutas dos cerrados. Na região central existe muita criação de gado, temos a carne de sol que é muito famosa em Campo Maior. Temos também a influência dos indígenas em todo estado, com a cultura de manter um canteiro ou horta no quintal de casa sempre com um tempero à mão. No Norte, temos muitas farinhadas, mandioca, peixes e frutos do mar, então são diversos fatores que fazem a gastronomia piauiense ter esse diferencial, mas acho que o mais importante é que ela consegue contar um pouco da nossa história e de onde a gente veio”, afirma o chef.
Diversos chefs renomados tem feito releituras de pratos típicos do Piauí e da região Nordeste. Igor Rocha destaca que esse movimento tem uma importância muito grande, porque muitas vezes esses sabores, receitas e pratos típicos, começam a ser perdidos ao longo do tempo, muito disso, antigamente não foi registrado e o consultor considera um dever da nova geração de gastrônomos, cozinheiros e chefs de cozinha, trazer à tona toda essa cultura novamente.
“Essa releitura que as pessoas fazem é muito boa, porque traz em voga novamente tudo que a gente fazia antigamente. Por exemplo, em um risoto de galinha caipira que as pessoas gostam bastante. Preparo galinha caipira da maneira correta e depois a gente dá uma repaginada, prepara um risoto que é uma receita italiana, só que com todos os sabores piauienses. Temos ainda o capote que é muito bom e as pessoas não tem muito costume de trabalhar com o capote pelo país, que é uma carne muito boa. Esse movimento é super válido, para que a gente consiga expandir cada vez mais, que não seja da forma originária das receitas, mas que seja dando essa nova roupagem, fazendo essas leituras para todas essas receitas”, acrescentou.
Pratos piauienses integram festival nacional
O Piauí participa pela primeira vez do Festival Gastronômico Brasil Sabor, que está em sua 15ª edição. O evento teve início na última quinta-feira (13) e segue durante todo o mês de maio, com a participação de 25 restaurantes de Teresina, Parnaíba, Luís Correia, Altos e Uruçuí. Os chefes José Neto e Igor Rocha participaram da consultoria para a definição dos pratos participantes. Segundo Igor Rocha, afirma que para seleção dos pratos foi levado em consideração principalmente algum sabor regional marcante e a valorização dos diferenciais dos próprios restaurantes.
“A ideia do Festival é que as pessoas consigam ir nos restaurantes, montar seus roteiros gastronômicos e assim conseguir visitar o maior número de restaurantes possíveis, e quem tiver preferência, pode fazer esses pedidos por delivery. Quando fomos escolher os pratos conversamos com os empresários, chefs de cozinha e cozinheiros e tentamos entender qual era a proposta de cada restaurante e assim conseguimos dar um indicativo. A ideia principal é que a gente tenha um toque de regionalismo, tanto para valorizar a cultura quanto gastronomia piauiense, então, pedimos que os pratos tivessem toques da nossa região ou algum ingrediente típico e assim todos conseguiram montar pratos muito bons”, afirma Igor Rocha, um dos curadores do evento.
O festival é realizado simultaneamente em 12 estados e terá formato híbrido por conta da pandemia. Os pratos poderão ser servidos nos restaurantes e também recebidos em casa por delivery ou na modalidade “para levar” (take away). O objetivo é impulsionar o setor de alimentação fora do lar.
Além da valorização à pluralidade gastronômica brasileira, o festival também se consolida como um momento oportuno para divulgação das casas participantes, que aproveitam não só para atrair e fidelizar a clientela, mas também para ouvir a opinião do público e divulgar ações e boas práticas.