Alguns homens e mulheres considerados ?anormais? até o século passado eram submetidos a choques elétricos, lobotomia (cirurgia no cérebro usado em casos graves de esquizofrenia, a técnica foi abolida por ser ineficaz, além de cruel) e remédios que lhe davam a sensação de afogamento. No dia 28 de junho de 1969, porém, uma parte deles no bar Stonewall Inn, na cidade de Nova York (EUA), resolveu não mais abaixar a cabeça e esconder o rosto diante de agressões, prisões ilegais e extorsões. Nascia o movimento gay.
43 anos depois, em um auditório da Fiepi (Federação das Indústrias do Estado do Piauí) outra parte deles, agora organizada em associações, fez o VI Encontro de Travestis, o III Encontro em Saúde Mental entre Travestis e o IV Encontro de Gays da cidade de Teresina, para discutir a cidadania e direitos humanos LGBT, um grande avanço ?em um estado machista?, disse a travesti Laura, após pegar o microfone e pedir silêncio. ?Esse evento é algo sério, estamos debatendo nosso futuro?.
E é sobre o futuro do movimento que Safira Benngel, coordenadora de DST-Aids da Fundação Municipal de Saúde, quer debater com os candidatos às eleições desse ano. ?Não precisamos de candidatos gays, precisamos de candidatos capacitados e comprometidos. Precisamos de pessoas com desejo de trabalhar?.
E como há trabalho para ser feito no Piauí. Segundo dados do relatório da Secretaria Especial de Direitos Humanos de 2011, divulgado nesse mês, o Piauí é o Estado brasileiro que registra o maior número de agressões praticadas contra homossexuais. Como é o caso da travesti Renata Desiré, que foi brutalmente assassinada em setembro do ano passado na cidade de São Raimundo Nonato. As fotos chocantes do corpo de Desiré perfurado por balas de revólver foram amplamente divulgadas, mas o homicídio premeditado ficou sem solução. ?Muitos falam que somo agressivas, mas como não ser, temos que nos defender?, disse no encontro Talita Freitas que tem um trabalho social e de saúde para as travestis que se prostituem nas ruas de Teresina.
Nem tudo é tristeza. Entre risos e aplausos, assunto não faltou no encontro, desde o desejo por mais espaço no mercado de trabalho, passando pela conscientização da diversidade sexual por parte das escolas, até o preconceito enrustido entre os próprios gays. Sobrou até para a Dilma, que virou presidente e não presidenta, maneira como a imprensa costuma grifar. Quem apontou o erro de gramática foi a candidata à Câmara Municipal Samanta Brasil, figura já carimbada no horário eleitoral gratuito.
Foi assim com uma platéia divertida e com muito bom humor (os palestrantes por vezes eram interrompidos por piadas e graçinhas) que o Encontro de Travestis e Gays de Teresina 2012 debateu os dramas vividos por essa comunidade que, apesar dos graves problemas sofridos, não deixa de rir e, (por que não?!), falar dos ?bofes?.