O casal Wagner Fernandes, 60 anos, e Paola Fernandes, de 36, comemorou a união nessa quarta-feira, em Campinas (79 km de São Paulo), do modo tradicional: registro em cartório com certidão de casamento, troca de alianças, beijinho para os fotógrafos e sobrenome do marido transferido à cônjuge na certidão – de batom vermelho, vestido branco e buquê de rosas vermelhas. “É meu quarto casamento”, disse o noivo à reportagem. “O primeiro, porém, com um travesti”, ressalvou. “Minhas ex-mulheres até sabem, mas meu filho ainda não aceita muito bem”, admitiu.
No começo do mês, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que foram registrados no Brasil, no ano em que a resolução do CNJ entrou em vigor – ainda que, tecnicamente, o Judiciário reconhecesse a união homoafetiva desde 2011 –, um total de 3.701 casamentos entre pessoas do mesmo sexo ; a maioria (52%) entre mulheres e na região Sudeste (65,1%). O número representa 0,35% das 1,1 milhão de uniões que aconteceram no mesmo período.
As uniões civis em Campinas foram organizadas pelo Centro de Referência LGBT, serviço municipal implantado em 2003 e primeiro do gênero, no poder público, criado no País. É a segunda iniciativa do órgão.
Casamento foi "um sonho realizado", diz travesti
Para os casais, a medida é um primeiro passo para ao menos garantir a segurança jurídica do parceiro – tais como direitos a bens, em caso de separação ou morte, ou mesmo a inclusão do nome como beneficiário de plano de saúde.
Nascida em Imperatriz (MA), Paola contou que o casamento foi “um sonho realizado”. “Estamos felizes, não temos do que reclamar na vida social e conjugal. Queria muito ter o nome do meu marido, estamos juntos há seis anos. Agora é comemorar nossa lua de mel, que vai ser top: tem uma banheira com flores e champanhe nos esperando no hotel”, contou a cabeleireira. “Oficializamos mais pela segurança dela por exemplo em relação à minha aposentadoria, e também porque era um sonho. E nunca sofremos discriminação – também porque todo mundo acha que ela é mesmo uma mulher”, completou o marido.
Para casal gay, "faltam leis aos LGBT"
Mulher foi impedida de ver companheira no hospital
“Há dois anos, ela sofreu um acidente de moto e ficou internada. Só consegui vê-la no hospital com um mandado judicial, pois a família dela, que não me aceitava, proibia a minha presença lá. Enquanto houver esse preconceito, as pessoas não vão ter tanta coragem de se assumir, isso é fato”, analisou Regina, que é porteira. “Agora minha mãe nos aceita, mas meu pai, de jeito nenhum. E aí fora é só olhar com atenção: se antes era xingamento, agora a coisa parte até para a agressão e a morte”, disse Adriana, que é encarregada.
“E curioso é que pagamos impostos como qualquer outro cidadão. Se na eleição os políticos não vêm perguntar nossa orientação sexual para pedir voto, o mínimo que deveriam fazer é garantir que os direitos sejam iguais para todos, porque eles ainda não são”, arrematou Regina.
"Já somos uma família", diz casal de lésbicas com filho
“Casamos pela estabilidade jurídica, porque uma família já somos faz tempo”, disse Carmen, ao lado do “filho de coração” – adotado ainda bebê após três anos de espera na fila. Ela pediu que o nome do menino não fosse publicado para evitar “mais bullying na escola”. “Ele já sofreu, mas isso foi corrigido”, mencionou, recebendo do filho um sorriso cúmplice.
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