O manual do ATR 72, o mesmo modelo envolvido no acidente no interior de São Paulo, alerta sobre o risco de perda de sustentação e rotação da aeronave quando exposta a áreas com gelo severo. A ATR considera essa condição como uma "emergência". Com informações do g1.
O DIA DO ACIDENTE
No dia do acidente, o ATR da Voepass sobrevoava Vinhedo a 5.100 metros de altitude, onde havia relatos de formação de gelo severo. Meteorologistas estimaram uma probabilidade de 35% para a presença de gelo na região. Imagens do acidente mostram a aeronave caindo descontrolada e girando, indicando um possível estol. A queda resultou na morte de 62 pessoas, incluindo 58 passageiros, dois comissários, o copiloto e o comandante.
INVESTIGAÇÕES
O Cenipa, órgão da Aeronáutica, está investigando as causas do acidente. Os gravadores de dados de voo e de voz foram encontrados e serão analisados, mas ainda não há prazo para a divulgação do relatório final.
GELO PODE PREJUDICAR VOO
De acordo com o manual do ATR, a aeronave é especialmente suscetível ao impacto de gelo devido às características das asas e à altitude de voo, que é inferior à de jatos. Apesar de possuir um sistema de proteção contra gelo e dispositivos de alerta, a fabricante adverte que o acúmulo severo de gelo nas superfícies de voo pode não ser removido pelo sistema e pode comprometer seriamente a performance e o controle da aeronave.
Em um manual de 2011 intitulado "Operações em tempo frio - prepare-se para o gelo", a ATR destaca que o acúmulo rápido de gelo pode exceder a capacidade dos sistemas de proteção e recomenda que a tripulação saia da condição imediatamente. Este manual foi distribuído para as companhias aéreas que operam o ATR, como Voepass e Azul.
PREVISÕES
Embora radares não detectem gelo severo, as previsões meteorológicas podem alertar sobre tais condições. O professor Jorge Leal Medeiros, especialista em transportes aéreos, explicou que o gelo altera a aerodinâmica da aeronave, reduzindo a sustentação da asa.
O manual do ATR fornece procedimentos de emergência para situações de gelo severo, que incluem a aplicação máxima de potência, desligamento do piloto automático, e abaixamento do nariz da aeronave para escapar da área com gelo. O sistema de alarme de estol, conhecido como "stick shaker", pode não ser acionado se a asa já estiver severamente contaminada.
O comandante norueguês Magnal Nordal, com 24 anos de experiência em ATR, destacou que, embora o ATR tenha uma reputação de insegurança sob condições de gelo devido a um acidente em 1994, a aeronave é certificada para voar com segurança e é amplamente utilizada. Nordal observou que, em acidentes anteriores relacionados a gelo severo, a tripulação aguardou autorização para descer, o que levou à perda de controle devido ao estol. No caso do ATR da Voepass, o Cenipa informou que não houve contato com o controle de tráfego aéreo.