Além de cobrar o conhecimento adquirido durante a vida escolar, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) utiliza fatos recentes, as chamadas atualidades, para abordar determinados conceitos.
Por conta disso, para se dar bem no Exame, é preciso que os estudantes atentem para esses temas. Os fatos recentes podem embasar questões de História, Geografia ou atualidades.
De acordo com a professora de História, Tatiana Magalhães, os vestibulares cobram esses temas de maneira contextualizada. ?Geralmente, nessas provas, não são cobrados detalhes das notícias, tais como números ou acontecimentos específicos, mas sim o contexto em que elas estão inseridas?, explica a professora.
Com o formato do Enem, assuntos como a morte de Hugo Chávez e de Margaret Thatcher, a renúncia do Papa e a tensão entre as duas Coreias têm maior possibilidade de cair na prova devido à intenção de testar a capacidade crítica do vestibulando.
O professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Alcides do Nascimento, coloca que a melhor maneira de estudar esses assuntos, já que eles ainda não constam nos livros, é tendo acesso aos meios de comunicação.
?A leitura de jornais, revistas, livros, ver na TV programas educativos, mas também noticiários jornalísticos podem ajudar. Além disso, a discussão dos assuntos em pequenos grupos de estudo auxilia na formação de opinião sobre o tema, bem como na memorização de palavras-chaves, importantes quando da realização da prova?, diz o professor, ao acrescentar que alguns sites especializados em educação destacam o fato histórico e fazem um resumo para os vestibulandos.
Alcides do Nascimento alerta que os adolescentes precisam saber lidar com a internet para não haver dispersão.
?Eles adoram um site e, por isso, podem deixar de estudar para ver outros assuntos. Não tenho dúvidas de que um bom programa que trate de política sobre a América Latina, por exemplo, pode ajudar na compreensão do papel de Hugo Chavez como presidente, mas também como um articulador político dos interesses dessa parte do continente americano.
O ideal seria se os estudantes fossem incentivados a ler tudo que chegasse às suas mãos, mas também deveriam ser incentivados a refletir sobre o que fosse lido e escrever sobre eles?, completa o professor.
Embora muitos vestibulandos saibam da importância do estudo dos temas históricos atuais, alguns ainda não se preocupam em ter conhecimento sobre esses assuntos.
Estar por dentro dos temas jornalísticos, para manter-se informado e preparado para as provas, não é uma atividade feita pela maioria dos estudantes, que estão mais preocupados em decorar os conteúdos, o que os impede de absorver aquilo que realmente importa.
A estudante Layane Oliveira, 17 anos, vai prestar vestibular para Enfermagem e afirma que acompanha as notícias, mas não se preocupa em saber mais sobre os temas históricos.
?Os fatos mais recentes como a morte da Margaret Thatcher, eu soube mesmo só no dia que aconteceu. Eu nem tinha pensado que isso poderia ser cobrado?, comenta.
Outro aluno, Railson Gomes Ylear, 19 anos, também não tem muita preocupação com os temas. ?Sempre assisto aos jornais, sempre vejo as manchetes dos principais portais, mas muita coisa não vou atrás.
A renúncia do Papa, por exemplo, eu fiquei sabendo porque faço parte de um grupo católico e discutimos muito isso, mas já sobre a morte da Margaret, ainda não fui atrás de nada?, finaliza.
Assuntos históricos podem ser tema da redação
Existe ainda a possibilidade de um tema histórico recente ser usado como tema da redação. As temáticas abordadas nas redações do Enem são sempre sociais e com intenções de propor soluções para os problemas apontados, levando em consideração a justiça social e os direitos humanos.
De acordo com o professor Alex Romero, é preciso que os alunos estejam atentos aos jornais e revistas para se manterem informados e "abastecidos" de argumentos e pontos-de-vista no momento da produção de seus textos. "Daí a importância da leitura e interpretação.
Os professores estarão sempre atentos às situações histórico-sociais para fazer as discussões temáticas. E os alunos com tais informações e discussões podem exemplificar e embasar seus textos", explica, ao frisar que não há mais espaço na prova de redação para o senso comum de informações ou apenas dizer o que já se sabe do assunto, mas sim argumentos consistentes e proposta de solução coerente para o problema colocado na proposta.
"Um aluno sem leitura de mundo e focado na distância dos temas atuais (típicos de quem vive apenas em redes sociais com informações supérfluas e sem aprofundamento crítico) tende a dizer o óbvio e ser premiado com notas baixas ou medianas.
O melhor é respeitar a prova e o processo como um todo, pois as receitas de sucesso no ensino superior não incluem "miojo" e nem ridicularizações de qualquer ordem", acrescenta.
Pensando assim é que Rômulo da Costa, 17 anos, está sempre atento ao que pode ser cobrado tanto na redação, como na prova em geral. "A internet é meu principal meio de informação. Procuro ainda assistir aos principais noticiários, ver o que eles abordam e depois me aprofundo mais no assunto, através da busca pela internet", destaca.
Professores falam sobre possíveis abordagens
A professora Tatiana Magalhães explica que a abordagem de temas históricos nas provas pode vir em forma de questões trabalhadas. Ela coloca que no caso da Margaret Thatcher, pode ser abordado o fato de ela ser chamada de "Dama de Ferro" no momento da mudança econômica e ainda pode ser feita uma comparação entre ela e a Dilma Rousseff, por ela ter sido a primeira mulher a ser ministra inglesa.
"Já a questão da renúncia do Papa pode ser associada ao processo medieval de ontem e de hoje. Ainda são as mesmas configurações religiosas? Em relação a Hugo Chavez, podem ser cobradas questões que abordem o governo totalitário.
Já a tensão entre as duas Coreias pode ser feita uma comparação entre o que aconteceu na 1ª e 2ª guerras, se existe um mesmo contexto dessas duas e se pode haver uma terceira", enumera Tatiana.
Alcides do Nascimento, também professor de História, conta que, caso fosse um redator de questões, elaboraria questões sobre o golpe de 1964, uma vez que no próximo ano, ele completará meio século.
"Além disso, eu proporia uma pergunta que destacasse o nome do Papa e as razões dele e da Igreja Católica. Eu discutiria ainda a expansão do uso das drogas e a forma como o poder público tem tratado o assunto", diz.