A cuidadora de idosos Agerlândia Miranda, de 25 anos, teve queimaduras de terceiro grau nas pernas e partes íntimas causadas pelo ex-marido dela, Jessé Nogueira. O caso ocorreu no último dia 12 no município de Sena Madureira, interior do Acre.
A vítima foi transferida para a capital acreana e está internada no Hospital de Urgência e Emergência de Rio Branco (Huerb) sem previsão de alta.
Agerlândia conta que durante uma briga, o ex-companheiro jogou água fervendo em cima dela. Ainda muito abalada, ela diz que a agressão foi motivada por ciúmes e porque Nogueira não aceitava o fim do relacionamento.
Como o ex não trabalhava, Agerlândia arcava com todos os gastos da casa. Um dia antes do crime, ela decidiu dar um ponto final na relação porque as brigas eram constantes entre o casal.
“Um dia antes disse que queria terminar, expliquei meus motivos e disse que para pagar as contas que tínhamos arranjaria um trabalho à noite. Fui à uma lanchonete trabalhar como atendente e na volta parei na casa de um amigo. Ele foi até lá, perguntou que horas eu voltaria para casa e disse que eu pagaria ele”, conta a mulher.
A vítima tem três filhas, de 10, 9 e 2 anos. As duas mais velhas são de outro relacionamento. Com medo do que ele poderia fazer com as meninas, ela voltou para casa após a ameaça.
Na terça-feira (12), Agerlândia seguiu a rotina normalmente. Saiu para trabalhar e perto do almoço foi surpreendida pela ligação da filha mais velha informando que Nogueira havia saído com a bebê de dois anos e que as outras meninas não teriam o que almoçar. Ela, então, voltou para casa.
No mesmo dia, o ex-marido mandou mensagem para a irmã da vítima pedindo que ela saísse de casa.
“Eu disse que não sairia de casa, porque ele [ex] sempre vivia às minhas custas e eu disse que ele que tinha que sair. Ele disse que queria que eu morresse e quando eu estava na porta do quarto, ele me empurrou, veio para cima de mim, segurei no pescoço dele e minhas filhas começaram a gritar desesperadas”, conta.
‘Escolheu onde ia queimar’
Toda a briga aconteceu na frente das crianças, que pediam ajuda sem sucesso. Ao chegar na casa, Agerlândia disse que viu a leiteira no fogo, mas não imaginava que seria para machucá-la.
“Fiquei sem saber qual das minhas filhas eu ia acudir. Até que vi ele se aproximando com a leiteira fumaçando, me afastei e coloquei a minha mão para tentar me defender, mas ele escolheu o local para jogar a água fervendo. Ele jogou, tentei me defender de novo e ele jogou mais água”, relembra emocionada.
As filhas da cuidadora entraram em desespero e Nogueira conseguiu fugir, enquanto ela e as duas crianças seguiam para o banheiro e jogavam água fria para tentar amenizar as queimaduras, que atingiram, principalmente, as partes íntimas de Agerlândia.
“Eu não aguentava mais de dor. Fui tomar banho e o pior de tudo é saber que isso foi na frente das minhas filhas, que ficavam dizendo que eu ia morrer”, lamenta.
‘Foi covarde’
As filhas da vítima conseguiram ligar para o avô, Aldemir Miranda, de 45 anos, que estava em uma oficina próxima de onde tudo aconteceu. Ele chegou em seguida e conseguiu acionar a ambulância para ajudar Agerlândia.
Revoltado, ele diz que espera que Nogueira seja preso e pague pelo que fez com a filha dele. “Uma pessoa ver a filha queimada, na situação que eu vi, se tremendo toda, o couro caindo. Não é todo pai que aguenta ver o que vi. O que ele fez foi uma covardia. Aquilo não é coisa que se faça com uma mulher”, desabafa Miranda.
Água em formigueiro
O caso foi registrado na Delegacia de Sena Madureira e o inquérito está sendo presidido pelo delegado Marcos Frank. Ele conta que o Jessé Nogueira se apresentou na delegacia da cidade três dias após ter cometido o crime e alegou que foi um acidente.
“Ele disse que estava com uma panela de água quente na mão, ia jogar no formigueiro e ela foi bater nele e, por acidente, foi se defender e a água caiu em cima dela”, conta o delegado.
A vítima e o pai contestam essa versão e alegam que o crime foi premeditado. Os dois estavam juntos há 3 anos e, segundo Agerlândia, o suspeito não quis aceitar o fim. Ela disse ainda que já havia sido agredida por Nogueira quando estava grávida da filha mais nova e não teve coragem de contar para a família.
“Acredito que ele fez de propósito, porque um dia antes eu tinha falado que não ia dar mais certo e ele disse que eu ia pagar ele. Poderia ter jogado a água em qualquer outro canto, mas ele escolheu minhas partes íntimas", afirma a vítima.
Lesão corporal
O suspeito foi indiciado por lesão corporal e, após ser ouvido, foi liberado. Porém, o delegado disse que as investigações continuam. “Se apresentou com o advogado e tratamos o caso como lesão corporal. Ele foi ouvido e liberado, mas o inquérito não terminou. Pelas fotos que vimos, a situação da vítima foi muito grave”, explica.
Para tentar amenizar o trauma, Agerlândia também recebe acompanhamento psicológico no hospital em Rio Branco. “Eu quero que ele seja preso e pague pelo que fez. Ele foi um covarde”, diz a vítima.