Recebi muitas palavras de conforto, todas retratando o Noé das formas mais claras e verdadeiras possíveis, por isto estou fazendo um relato de desabafo e despedida. Tais palavras me acalentam. Sei que são verdadeiras porque vocês o conheceram muito bem. Realmente, um marido inigualável, além de pai, amigo e, acima de tudo, um cidadão com “c” maiúsculo.
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Sempre fui tratada como uma princesa, pois tudo de melhor partindo dele era para “Terezinha, minha boneca”, que era como ele me chamava há 53 anos. Foi de quando começamos a namorar e assim ficou até quando foi entubado.
São 48 anos de casados e nunca teve qualquer desrespeito verbal ou de qualquer natureza para com os filhos, funcionários, parentes, amigos, colegas e, principalmente, comigo.
Um ser humano inigualável e grato. E eu tive a oportunidade e a coragem de dizer isto para ele em vida. Dizia para ele: “você não existe, Noé”.
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Você vê coisas nas pessoas que eu não consigo ver. Você agradece demais, você ajuda demais. E ele dizia: “esta é a nossa missão. Só estamos passando um tempo aqui e somos muito privilegiados por tudo que temos, quem somos, e, principalmente, por termos um ao outro e vivermos em tanta harmonia.”
Nossa conversa não acabava, era diária, e tínhamos assunto o tempo todo. Conversávamos como dois amigos que há muito não se encontravam. Como tinha muito humor nas conversas, elas eram agradáveis. Aprendi muito com este homem.
Quando senti as coisas piorarem, e como somos católicos praticantes e participantes da paróquia, telefonei para o pároco, chamado Padre Tony, e pedi a extrema-unção para ele que me respondeu: “não precisa, Tetê, porque o Noé é um homem de Deus, de paz, é meu amigo, meu confidente e ele já tem Deus com ele. Se ele for, ele irá em paz total, porque ele é a paz. Eu entendi perfeitamente porque é assim que eu o via e sentia.”
Foi embora meu amigo, meu pai, meu protetor, meu marido e, acima de tudo, um grande amor. Sinto meu coração realmente partido neste momento. Esta pessoa existiu. Era real.
Recebemos mais de 5 mil mensagens através de WhatsApp, telefones, entre áudios, fotos, reprises, Instagram, Facebook, tanto no meu telefone, quanto no dele e dos filhos. Estamos lendo e ouvindo tudo, absolutamente tudo, e tentando responder a cada um, mas não tem sido possível.
O que nos deixa estarrecidos é que em todas as mensagens, seja de pessoas novas entre 18 a 20 anos, até idosas ou contemporâneas, as falas são as mesmas, mudando apenas os adjetivos, e que adjetivos. Estão aqui enumerado alguns que copiei de uma mensagem de um amigo. Estes adjetivos vieram do porteiro do hospital, funcionários domésticos ou dos serviços por onde ele passou, médicos, clientes, parentes (principalmente os sobrinhos), ex-alunos, amigos de nossos filhos, chefes maiores, prefeito, governador, Assembleia Legislativa, padres, etc.
“Generosidade, carinho, dignidade, amor, paixão, compaixão, dedicação, compromisso, humanização, tolerância, zelo, elegância, harmonia, altruísmo, educação, paz, e, acima de tudo, gratidão.”
E não teve uma palavra que eu ou os filhos e funcionários da casa, que convivíamos o tempo todo com ele, discordássemos. Pelo contrário, achamos que era mais ainda.
Eu precisava falar! É uma despedida!
Um grande abraço.
Terezinha das Graças Oliveira Fortes