?Eu me descobri diferente das minhas irmãs e das minhas amigas, aos 18 anos de idade. Eu não sabia ao certo o que acontecia comigo, até cheguei a casar por achar que tudo aquilo que eu vivia era porque não tinha um homem ao meu lado?. Esse é o depoimento da homossexual Cristiane*, de 38 anos de idade. De tanto ser tratada como inferior, ela acreditou que era e por três vezes tentou suicídio.
?A verdade é que minha família nunca aceitou que eu sou diferente e por isso eu saí de casa e hoje nossa relação é bastante complicada. Somos muito distantes. Não tenho amigos, não tenho ninguém.
O que mais me angustia é quando pessoas que dizem que gostam de mim se distanciam quando eu me mostro?, relatou a homossexual que tem dois filhos adolescentes, resultados do seu casamento que durou três anos. ?Meus filhos me respeitam e me aceitam como eu sou. Só eles?, completou.
A realidade vivida por Cristiane não é única em Teresina e é mais comum do que se pensa. A psicóloga Carina Moura explica que a nossa sociedade foi educada ao longo dos anos para tachar como imoral a homossexualidade e por causa disso a aceitação ainda é muito difícil.
?Mesmo quando temos pais que aceitam, o histórico mostra que até chegar à aceitação o processo foi complicado e bastante doloroso. As mães tendem a aceitar mais facilmente do que os pais, mas não deixa de ser, também para elas, um processo longo e complicado?, disse.
O terapeuta sexual Noronha Filho explica que essa repressão dos pais começa bem cedo, ainda na fase infantil, quando os filhos não podem ter determinadas posturas sem ser repreendidos pelos pais, que fazem logo cedo a divisão entre ?atitudes de meninos? e ?atitudes de meninas?. ?Ainda existem muitas famílias repressoras em Teresina, mas a melhor saída ainda é o diálogo, o respeito pelo outro e abaixo o autoritarismo?, disse.
Essa não aceitação familiar e do restante da sociedade deixa consequências psicossociais muito graves em quem vivencia essa realidade. Quem sofre esse tipo de rejeição pode desenvolver desde um quadro depressivo até cometer suicídio.
Rejeição pode ser responsável por suicídio entre homossexuais
A Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, realizou um estudo sobre a relação entre a opção sexual e o suicídio entre jovens. Os resultados mostraram que os homossexuais têm mais probabilidade de praticar o ato.
Além disso, a pesquisa concluiu que o local de convívio social também exerce bastante influência. Ambientes mais abertos à homossexualidade apresentam menos casos de suicídio.
Os adolescentes que vivem e estudam em locais que aceitam melhor gays e lésbicas têm 25% menos probabilidade de tentar suicídio do que os ambientes mais repressores.
Carina explica que a aceitação é a melhor alternativa a ser seguida pelos familiares e por toda a sociedade para evitar traumas e principalmente atitudes mais extremas, como o suicídio. "A vida é mais importante do que qualquer outra coisa.
Os pais precisam aceitar, dialogar com seus filhos. Quando se chega à situação extrema do suicídio, os pais acabam sofrendo mais do que sofreriam com o processo de aceitação.
Esse é um trauma e uma culpa que ficará com eles pela vida inteira. Além dos pais, a escola também tem um papel muito importante nesse processo de acolhimento do jovem, de fazê-lo se sentir seguro", disse.
Cerca de 32.000 jovens anônimos participaram do estudo. Os dados analisados pela equipe são provenientes de uma pesquisa anual realizada pelo estado do Oregon, a Oregon Healthy Teens Survey.
Os participantes são alunos de escola púbica entre 13 e 17 anos. Com base nas respostas dos jovens, a pesquisa concluiu que a probabilidade de um homossexual cometer suicídio é cinco vezes maior do que um jovem heterossexual.
Pais começam a rever seus conceitos e aceitar opção sexual dos filhos
Teresina ainda possui muitos pais conservadores, muitas famílias que se distanciam quando percebem que um membro da família é homossexual. No entanto, muitas pessoas já começam a despertar para a necessidade de apoiar seus filhos quando eles se descobrem com uma orientação sexual diferente daquela que é tida pela maioria como correta.
O terapeuta sexual Noronha Filho conta que muitos pais buscam inclusive auxílio profissional para si e para os adolescentes que estão em fase de descoberta.
"Ainda existem as famílias mais conservadoras que não aceitam que seus filhos sejam homossexuais. Essas famílias acabam violentando psicologicamente e até fisicamente esses adolescentes e jovens, o que pode trazer sérias consequências. Mas também já temos muitos exemplos de pais que aceitam seus filhos sem repressão nenhuma.
Essa, eu acredito, é a melhor saída para isso que os pais veem como um problema. O afeto, diálogo e o respeito devem ser os principais ingredientes dessa relação", disse.
Um estudante, de 22 anos, que não quis ter seu nome revelado, conta que sua relação com sua mãe ficou muito conflituosa, quando ela descobriu que ele é homossexual, mas hoje os dois têm uma ótima relação e ela convive muito bem com essa realidade.
"No início ela quis surtar. Mas fui até ela e disse que eu não era nenhum vagabundo ou usuário de droga, eu só era gay e não havia problema nenhum nisso. Hoje ela aceita, sabe do meu namoro, conhece meu namorado e gosta muito dele. Hoje não tenho mais problemas com isso", afirmou.
Marinalva Santana, do Matizes, afirma que essa é a melhor atitude a ser seguida pelos pais que têm em casa um filho homossexual. "Muitos pais querem esconder seu filho quando descobrem que ele é homossexual, mas esse é um dano a essa pessoa.
É importante que a família acolha seu filho e o aceite como ele é. As pessoas precisam entender que homossexualidade não é aferidor de caráter de ninguém", pontuou.