2013: HUT já registrou 400 atendimentos de pacientes feridos com armas de fogo

Os dados apresentados assustam e causam preocupação

No processo de reabilitação a ajuda da família e a fé religiosa são grandes auxiliares | Reprodução
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Um dado repassado pelo Hospital de Urgência de Teresina (HUT) ajuda a entender um pouco do impacto que as lesões por arma de fogo causam na sociedade: No ano passado, o hospital fez 670 atendimentos a feridos dessa natureza.

De janeiro até junho de 2012, o HUT recebeu nada menos que 349 vítimas de ferimentos à bala. E 2013 já dá sinais de que a situação será mais grave: de janeiro a junho deste ano, o Hospital de Urgência já fez 400 atendimentos do tipo.

De acordo com uma pesquisa divulgada em março último pela Agência Brasil, de cada três mortos por arma de fogo, dois estão na faixa dos 15 a 29 anos ? o público dessa faixa de idade representa 67,1% dos mortos por essa causa.

Além disso, a análise dos dados de morte de jovens no país no ano de 2010 mostra que as armas de fogo são a principal causa de morte no próprio segmento.

Sem dúvidas, esse é um fator que causa prejuízos à saúde pública, mas o maior dano é sofrido por quem é atingido por esse tipo de lesão. É o caso da teresinense Maria do Socorro Fernandes, que há pouco mais de quatro anos viu sua vida mudar drasticamente.

A data: 27 de maio de 2009. Maria havia saído de sua residência, na cidade de Goianésia do Pará, e seguia em direção ao trabalho. No meio do caminho, ela caiu de repente em uma calçada, sem entender o que havia acontecido. Só depois descobriu que havia sido atingida por um tiro nas costas, que veio do que pareceu ser um assalto do outro lado da rua.

Ela relembra o momento do tiro. ?Você fica paralisado, perde os movimentos no momento do tiro mesmo, é imediato?. A partir daí, começou uma difícil trajetória com o objetivo de recuperar pelo menos parte dos movimentos perdidos, já que a bala atingiu parte da medula de Maria do Socorro.

?Na época, fiquei igual a um vegetal, até porque minha lesão foi torácica?, resume ela. A encontramos na seção de fisioterapia para adultos no CEIR (Centro Integrado de Reabilitação), em Teresina.

?Tem que ter muita fé em Deus?, diz paciente

Em meio aos exercícios, Maria do Socorro (sempre de bom humor) recebeu a visita de duas filhas (ao todo são cinco filhos) e de uma das netas ? a pequena Híris Luciele, de apenas três meses de idade.

Com visíveis evoluções, ela faz os exercícios de fisioterapia e confia na própria força. Maria deixa um recado para os que são vítimas de armas de fogo. ?Tem que ter muita fé em Deus e muita força de vontade. Além dos exercícios, venho recebendo o acompanhamento psicológico, que também é fundamental.

A minha recomendação é de que não desistam? A paciente demonstrou preocupação, e fez um apelo: ?A imprensa deve continuar mostrando esse problema ? não só dos lesionados por arma, mas também dos que sofrem com acidentes de trânsito. Aqui no meu grupo do CEIR existem muitas pessoas que sofreram acidentes de carro ou moto. Nós ajudamos um ao outro, numa boa troca de experiências?, finalizou.

Altura da lesão determina chances de sucesso nos tratamentos

Em meio a um exercício e outro, a fisioterapeuta Priscila Carvalho, que atende Maria do Socorro no CEIR conversou com o Jornal Meio Norte, e comentou os pormenores do tratamento de pessoas que são atingidas por bala.

?Na verdade, o problema maior não é a causa (tiro), e sim a região atingida. No caso da medula, as lesões comprometem a sensibilidade e a movimentação do paciente. Quanto mais alta a lesão, mais difícil a recuperação, porque uma maior parte do corpo é atingida?, diz a fisioterapeuta.

Resumindo: as chances de recuperação estão diretamente ligadas à forma com que a medula é atingida. ?Avaliamos se a lesão foi completa ou não. A completa acontece como se você tivesse passado uma faca na medula. Daquele ponto para baixo, nada se sente.

Quando o corte não é completo ? parando no meio da medula, por exemplo ? só a metade que ficou preservada vai ter movimentação e sensibilidade. É esse o caso da Socorro. Ela teve o lado esquerdo mais comprometido?, disse Priscila.

Ainda de acordo com a médica, a maior parte dos pacientes lesionados com tiro é composta por homens jovens, abaixo dos 30 anos. No CEIR, a recuperação é focada no sentido de trabalhar com as sequelas que ficaram da lesão: alterações de força, perdas de movimentos, encurtamentos musculares por conta do tempo da lesão, ?porque às vezes o paciente vem para cá um mês depois de ter se lesionado, mas em outros casos isso demora mais tempo.

Direcionamos o tratamento para a vida diária. O que aquele paciente deixou de fazer? Tentamos, dentro das limitações, devolver a autonomia à pessoa, para que ela possa tomar banho sozinha, comer, etc?.

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