Inúmeros abrigos pela cidade passam pela mesma realidade: a solidão dos idosos assistidos. O Abrigo Frederico Ozanam, no bairro Primavera, zona Norte de Teresina, que acolhe 47 idosos, estava tranquilo no dia do Natal. "Eu ganhei vestido, pulseiras e estou feliz, mas espero que alguém passasse um tempo comigo". É o que conta dona Neuza Maria, 83 anos, moradora do lar há três meses. Talvez soubessem que receberiam uma visita colorida e repleta de sorrisos neste feriado de Natal nesta quarta (25). Um grupo de voluntários promoveu uma manhã inesquecível para os idosos solitários. Em dezembro, o lar costuma receber mais atenção do público. Porém, os funcionários ressaltam que a compaixão e a presença deveriam durar o ano todo.
Teresina tem hoje o quantitativo de 200 idosos morando em sete instituições, privadas, públicas e filantrópicas destinadas para este fim. De acordo com dados do Instituto de Geografia e Estatística (IBGE), no Piauí existem quase 300 mil idosos (com 60 anos ou mais), o que representa cerca de 15% da população do estado. Não é simples encarar a tarefa de envelhecer. Virão as dores, a pele irá enrugar, os esquecimentos, os muitos remédios. Falta atenção das famílias para lidar com essa parcela cada vez maior da sociedade e inúmeros abrigos pela cidade passam pela mesma realidade: a solidão dos idosos assistidos.
Neuza já até ganhou presentes, mas sente falta de sua rotina. "Eu ganhei muita coisa e aqui cheguei em setembro e sinto falta da minha casa em Timon", pede a octogenária. O abrigo Frederico Ozanam é aberto para quem quiser visitar e doar presentes, produtos básicos ou minutos de atenção aos abrigados. Exemplo este que partiu da família da estudante Ananda Lustosa, 21 anos. Para ela, o carinho e a presença são o verdadeiro espírito natalino. "A minha irmã e minha prima tiveram esta ideia de vir todo mundo e imaginamos que seria bem bacana nesta data especial de visitar, tomar café e conversar um pouco com eles e ouvir suas histórias", conta.
A manhã no abrigo logo foi preenchida com alegria e muita conversa, teve lanche, bolo e até partida de xadrez com os assistidos. "Isso é muito legal e gratificante. A gente vê a felicidade no olhar deles de fazer companhia", conscientiza o motorista de aplicativo, Felipe Rafael, 29 anos, que dedicou um pouco do seu tempo para jogar tabuleiro com os velhinhos.
Há anos morando na casa, a piauiense Antônia Soares, 76 anos, afirma não ter grandes pedidos. Questionada sobre o porquê, ela pede para o repórter que fale mais alto. “Minha audição”, explica. "Eu estou aqui e está bom demais", fala de forma destemida e dando uma gargalhada.
Se tudo a faz lembrar de ser alegre, aos poucos o sorriso largo deu lugar às lágrimas mansas que caíram do seu rosto quando voltou a lembrar. "As visitas? Eles não vêm, é difícil virem porque dizem que moram longe, olha, bem aí em Demerval Lobão", afirmou.
Crédito: Efrém Ribeiro
A diretora da Casa Frederico Ozanam, Socorro Barbosa Ribeiro, afirma que a instituição atualmente atende 47 idosos, sendo 17 homens e 30 mulheres, e se mantém através de doações. Ela também revela que o pouco pode fazer a diferença. "Uma idosa me disse: ninguém veio me visitar, e sempre digo eu estou aqui (uma pausa em lágrimas), todo mundo gostaria de estar com sua família hoje, mas aqui não deixa de ser uma família. Acolho e converso de um por um”.
Outro pedido de Socorro é de que as boas ações não fiquem restritas a dezembro. "Necessitamos muito desse carinho, não só no Natal, desse ouvido que é o principal", frisa.
Coordenação do Abrigo pede fraldas geriátricas
Qualquer demonstração de afeto vale muito, como a sua presença. No momento, o que mais pesa é a eventual falta de fraldas descartáveis geriátricas. "Sempre precisamos de fraldas descartáveis, utilizamos 110 por dia, mas além disso, recebemos produtos de limpeza, de higiene”, solicita a diretora. Para doar ou visitar, basta que qualquer um conheça o abrigo. Para mais informações (86) 3223-0018.
A diretora da instituição Casa São José, instituição localizada na Rua Orlando Carvalho, 4470, Bairro Santa Isabel, Helena Amaral, confirma que as dificuldades são comuns para todos os lares. O dinheiro que entra sempre é pouco para suprir todas as necessidades dos idosos. Mas nem só de doações vivem os idosos. A maioria necessita mesmo é de um pouco de atenção por sentirem a ausência da família. Helena diz que percebeu que há voluntários que colaboram com doações, mas não querem ou não têm tempo para ficar com os velhinhos. Foi aí que ela considerou, a melhor forma de contribuir também pode vir da sua presença.
“As pessoas dizem que querem ser voluntárias, mas não sabem fazer nada. Então sempre falo: venha, sente ao lado do idoso, pegue na mão dele e deixe que aquele instante seja como um livro aberto e você ganhará o dia. Se você não tem nada para doar e tem um coração grande e aberto, por que não visitar os idosos? Isso é uma terapia para si próprio e você faz uma ação de coração aberto e será muito gratificante”, invocou.