O mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras, o escritor Ignácio de Loyola Brandão é, além de grande referência na literatura pelo conjunto de sua obra, um cidadão e amigo do Piauí. Aqui, já conferiu palestras no Salão do Livro, conheceu a Escola Casa Meio Norte, conversou com estudantes e ficou impressionado com o empenho e empolgação dos alunos com a leitura, a dedicação dos professores.
Quando recebeu o título de cidadão piauiense na Assembleia Legislativa do Piauí, ele declarou que a Escola Municipal Casa Meio Norte, na Cidade Leste, em Teresina, o ensinou que para mudar a realidade não é preciso de armas, mas é possível fazer mudanças com literatura, pela vontade e pela fé.
Para o escritor, conhecer a Escola Casa Meio Norte foi uma experiência singular. “Como é que eu posso esquecer quando eu conheci aqui a Casa Meio Norte. Quando Wellington me falou da Casa e me descreveu, eu falei: ’para com isso, mentira’. Terminamos o almoço e fomos para lá, não estavam avisados de nossa recepção. O que eu tive foi outro encantamento de ver pessoas fazendo o que fazem a partir da narração, na contação de histórias. Aí eu descobri que minha geração queria mudar com armas na mão, em aprendi que através da literatura você pode mudar. A Casa Meio Norte me ensinou isso. Escrevi sobre isso, falo sobre isso aonde eu vou. A Casa Meio Norte mudou algo dentro de mim, me tornou confiante de que mudanças podem ser feitas com literatura, pela vontade, pelo esforço e pela fé”, declarou Ignácio Loyola Brandão, em seu discurso proferido por ocasião da entrega do título de cidadão piauiense.
A visita à Escola Casa Meio Norte rendeu uma crônica de Ignácio de Loyola Brandão no Jornal O Estado de S. Paulo. No texto, ele comenta que a “a cada passo, o espanto.Por fora me parecia uma escola normal, o muro alto vedando a visão. Transposto o portão, o inesperado, a absoluta limpeza. Logo, outro assombro, não há uma só grade. Antes de ser apresentado à diretora, fui ao banheiro. Imaculado. Não estava entendendo. Não é uma escola pública em um dos bairros mais afastados da capital do Piauí? Um dos bairros mais violentos, abandonados? Não me disseram que é uma escola para alunos carentes, aqueles a quem a vida pouco dá, ao contrário, com o correr dos anos vai tirando? Nenhuma grade para proteger do mundo exterior, nenhum grafite nas paredes e nem uma janela quebrada”.
O autor descreve também como foi o diálogo com os alunos e finaliza sua crônica afirmando que “há um Brasil aparente e um Brasil oculto com pessoas admiráveis sobre as quais não cai um foco de luz e elas não precisam, são alimentadas por sonhos e ideais. É o Brasil que caminha”.
Escritor ocupa cadeira 11 já ocupada pelo jurista Hélio Jaguarib
Eleito por unanimidade para ocupar a cadeira 11 da ABL, Ignácio trabalhou no jornal Última Hora e nas revistas Claudia, Realidade, Setenta, Planeta, Ciência e Vida, Lui. Encerrou a carreira escrevendo para a revista Vogue. Atualmente escreve uma crônica quinzenal para o jornal O Estado de S. Paulo.
Autor de obras, como Zero, Não Verás País Nenhum e do recente Desta Terra Nada Vai Sobrar a Não Ser o Vento Que Sopra Sobre Ela, todos publicados pela Global, Ignácio vai ocupar a cadeira, outrora ocupada pelo jurista Hélio Jaguaribe, que faleceu no dia 10 de setembro de 2018.
Surpresa por eleição na ABL
Pelo conjunto de sua obra, recebeu o Prêmio Machado de Assis, em 2016, em seu novo formato, quando passou a ser o único outorgado pela Academia Brasileira de Letras. Publicou mais de 40 livros, entre romances e contos, crônicas, viagens, infantis e infanto juvenis e uma peça teatral.
Premiado, reconhecido no Brasil e no mundo, a eleição para ABL o deixou surpreso. “Nunca imaginei que iria estar aqui e estou. O menino de Araraquara está aqui”, afirmou o escritor, lamentando que seu pai não estivesse presente para saborear essa vitória. “Estou muito feliz. Cheguei em um ponto que ainda terá muitos outros pela frente. É apenas mais um degrau. O começo da vida”, avaliou o escritor em matéria publicada na Agência Brasil.