Ignorância, burrice e maldade, por José Osmando de Araújo

A manifestação repulsiva do xenofóbico e racista vereador Sandro Santinel, de Caxias do Sul, trouxe uma série de reações

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A manifestação repulsiva do xenofóbico e racista vereador Sandro Santinel, de Caxias do Sul-  que vomitou todo o seu ódio contra trabalhadores baianos retirados de trabalho escravo de vinícolas do Rio Grande do Sul, trouxe em cadeia uma série magnífica de reações contrárias e de posições formais de instituições contra a atitude desse parlamentar. 

Apresentadora repate falas racistas de vereador (Foto: Reprodução/Internet)

E uma delas chamou especialmente a atenção. Refiro-me à fala da âncora de um telejornal de Salvador (BA), Jessica Serra, que se expressou de modo competente, lúcido e corajoso, pondo o arrogante e odioso representante gaúcho no seu devido lugar. A atitude da jornalista, com seu pronunciamento rico de sabedoria, alcançou enorme repercussão no dia de ontem, ganhando destaque de maneira ampla na mídia nacional. Destaque, aliás, muito merecido, por uma atitude que merece ser copiada. 

Reflexão

Trago esse tema de volta aqui, porque merece preocupação e reflexão. É impossível ignorar, deixar passar em branco, gestos grosseiros, desumanos, intolerantes, xenofóbicos, racistas, preconceituosos, como esse praticado pelo vereador gaúcho. Assim, também, não podemos deixar de aplaudir aqueles que tomam a dianteira da denúncia, que assumem a responsabilidade de levar adiante esses abusos inqualificáveis que têm crescido em direção a negros e pobres do Brasil, com especial destaque aos nordestinos. 

Ignorância x burrice

Em sua manifestação na televisão, Jessica Senra nos traz à lembrança uma análise perfeita produzida pelo escritor mineiro Luiz Ruffato acerca da diferença existente entre “ignorância” e “burrice”. Ele explica que a ignorância é a falta de conhecimento sobre determinado assunto, enquanto a burrice é a incapacidade de compreender a realidade, por teimosia ou arrogância. E, para a ignorância, o antídoto é o conhecimento. Já para a burrice, é necessária uma forte pressão social e, no caso presente, a punição exemplar desse parlamentar indigno. A aplicação rápida e implacável da justiça, quer com a cassação de mandato ou condenação por danos, torna-se urgente e necessária. 

Luiz Ruffato, aliás, num ótimo artigo publicado em 2017 no jornal El País, sustentava que ignorância é perdoável, pois muitas vezes deve-se à baixa escolaridade ou a um sistema de ensino ruim. Já a burrice não se justifica— é a obstinação com que certas pessoas se agarram a ideias pré-concebidas, independentemente de seu grau de instrução ou a que classe social pertença.  

Burrice e intolerância 

Segundo Ruffato, geralmente, a burrice prospera em espaços adubados pela intolerância. Quanto menos luz, mais sentimentos estúpidos de superioridade (étnicos, religiosos ou sociais); quanto mais escuridão, mais afundamos no atoleiro. Em um país hipócrita, racista, violento e corrupto como o Brasil, a burrice impera com o vigor do animal que empresta, injustamente, seu nome ao substantivo. 

E ele completa: “a escalada do discurso da intolerância no Brasil está nos empurrando para um beco sem saída.” 

Maldade

Eu adiciono à ignorância e à burrice um outro ingrediente igualmente nefasto. Refiro-me à maldade. Que se serve desses outros condicionantes, para impulsionar o ódio aos diferentes- sobretudo a pobres, negros, gays, nordestinos-,  ao ponto de querer exterminá-los. Esse conjunto de coisas ruins está levando o Brasil a uma pobreza espiritual sem medidas. 

É hora de parar, pensar e agir para conter essa escalada do mal.

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