As vendas de carros importados de marcas sem fábrica no Brasil em julho caíram 4,1% na comparação com o mês de junho e despencaram 41,5% no confronto com os números de 2011, informou nesta terça-feira a Abeiva (Associação Brasileira das Empresas Importadoras de Veículos Automotores). Algumas marcas, como as chinesas Lifan e Effa, zeraram suas vendas no mês. Com tais números, a entidade já fala em "cenário insustentável", com possibilidade real de fechamento de portas (sem especificar quais marcas correm risco) -- ou seja, perda de empregos no setor.
"A viabilidade dos negócios em nosso setor chega a um ponto insustentável?, afirmou o presidente da Abeiva, Flavio Padovan, que também comanda a Land Rover no Brasil, em comunicado enviado à imprensa.
O balanço das importadoras para o mês é mesmo ruim: julho foi fechado com entrega de 10.739 unidades, contra 11.202 unidades emplacadas em junho. Apenas para comparação, em julho de 2011 haviam sido entregues 18.346 carros importados.
A entidade e suas associadas também reclamam dos números acumulados desde janeiro: com taxação extra de 30 pontos sobre o IPI, concorrência de modelos nacionais mais básicos, que contam com IPI menor por contarem com motorização abaixo de 2 litros, e fatores externos como o dólar valorizado, os importadores amargam queda de quase 25% nos últimos sete meses.
Com isso, a participação das marcas importadoras no mercado caiu para 3% em julho e de quase 6% para pouco mais de 4% no acumulado do ano. Foram emplacados 81.710 carros (em 2011, o total de entregas chegou a 108.864 no mesmo período), enquanto o mercado nacional de carros como um todo celebrou alta superior a 3% no período, entregando um total de 1.984.218 unidades (contra 1.926.027 de janeiro a julho de 2011).
QUEM PERDEU
Embora a entidade fale pelo conjunto das marcas importadoras, nem todas reclamam. A Audi, por exemplo, viu suas vendas subirem quase 60% no mês e 10% na comparação com 2011 (veja a tabela da Abeiva com desempenho por marca).
As americanas Chrysler, Dodge e Jeep, marcas do grupo Chrysler (agora controlado pela Fiat) citadas pela revista Forbes em reportagem que ironiza os preços de carros praticados no Brasil (leia aqui), também têm pouco a questionar: a marca-mãe vendeu 6,5% a mais em julho, em relação a junho, enquanto a segunda cresceu mais de 10% no mesmo período e mais de 140% desde 2011 e a última saltou quase 18% no mês e 106% em 12 meses.
As marcas orientais, por outro lado, estão cada vez mais no vermelho: a Kia perdeu mais de 42% no ano, enquanto Effa e Lifan não emplacaram uma unidade sequer no último mês, ao passo em que entregavam de 290 (Lifan) a 1.000 (Effa) unidades há um ano.
De toda forma, a Kia tenta manter a cabeça erguida: em entrevista num programa televisivo, o presidente da marca José Luiz Gandini afirmou que a marca pretende manter-se atenta às oportunidades do país e que vai manter o calendário de lançamentos, garantindo a apresentação da nova geração do sedã Cerato durante o Salão do Automóvel de São Paulo, em outubro, e sua chegada às lojas em fevereiro de 2013, conforme revelou o site da revista Car and Driver.
PORTAS QUE SE FECHAM
O comunicado do presidente da entidade também fala em "consequências irreversíveis" decorrentes da atual situação das importadoras, como o corte de até 10 mil vagas, mas anuncia "expectativa" do setor por um pacote de ajuda por parte do Planalto.
"Lamentavelmente, a atual situação de nossas associadas vai resultar em uma perda de 10 mil postos de trabalho até o final do ano", declara Padovan, que pede "tratamento justo para os importadores de veículos".
O "tratamento justo", no caso, seria o anúncio de um plano de cotas que livre os importadores dos 30 pontos extras sobre o imposto discutido junto ao governo federal e que poderia ser revelado até o final deste mês, quando vence também o prazo da atual benesse do IPI reduzido para a faixa mais popular do setor automotivo.