A carência na assistência social compõe o cenário da realidade enfrentada pelos indígenas da etnia Warao (povo da água na língua materna) que migraram para o Brasil. No entanto, aos poucos, iniciativas vão fazendo a diferença na vida dessas pessoas.
A Casa de Passagem de Teresina, situada no prédio onde funcionava a Unidade Escolar Anita Gayoso, bairro Memorare, zona Norte de Teresina, acolhe atualmente 25 refugiados e migrantes indígenas da Venezuela.
O espaço, que passou por adequações para prestar atendimento às famílias, pertence à Secretaria Estado da Assistência Social, Trabalho e Direitos Humanos (Sasc) e faz parte do Programa de Atendimento ao Migrante.
A iniciativa foi idealizada pela superintendente da Sasc Janaína Mapurunga e conta com repasses financeiros tanto da prefeitura de Teresina, quanto do governo do Piauí. O projeto é provisório para os beneficiários e as famílias podem ficar hospedadas na Casa de Passagem por até 19 meses.
Além da moradia, o projeto também oferece cestas básicas, assistência social, capacitação profissional e serviços de saúde e educação.
Gleycyara Lira, coordenadora da instituição, afirma que o trabalho busca dar apoio e proporcionar estabilidade aos desabrigados. “Nosso principal objetivo é acolher pessoas indígenas e não-indígenas que necessitam de cuidado e ajuda em Teresina. É gratificante poder ajudar de alguma forma, com um lugar para dormir e alimentação”, comentou.
A coordenadora relatou que o espaço começou a receber indígenas venezuelanos no dia 10 de junho deste ano. Ao longo desse período, além da moradia, alimentação e cuidados com a saúde dos abrigados, a coordenação da Casa de Passagem constatou que com mão-de-obra não qualificada e barreiras na comunicação, os migrantes seriam dificilmente inseridos no mercado de trabalho formal.
Ações educacionais
Diante disso, surgiu a necessidade de implantar atividades para auxiliar na educação de adultos, jovens e crianças da etnia Warao.
Um cômodo da Casa de Passagem acabou sendo transformado em sala de estudos para as seis famílias. “Dois caciques são responsáveis pelas aulas de língua portuguesa, espanhol e também dialetos Warao”, contou Gleycyara Lira.
O cacique Camilo Quimonez é um dos professores de língua espanhola e Warao do projeto. Na porta do seu alojamento, um cronograma indica o horário das aulas ministradas por ele durante cinco dias na semana.
O cacique relata que ainda enfrenta muitas dificuldades para conseguir emancipação social no Brasil, mas está conseguindo ajudar na educação da sua tribo, o que para Quimonez já é um importante passo.
“É muito difícil sair da sua casa, viver andando pelo mundo e não ter casa, mas vamos ficar bem”, comentou.
Tradições da etnia são mantidas
Além das aulas, o cacique também tenta conservar tradições da sua etnia e extrair uma renda extra através da confecção de colares e pulseiras. Para ele, a independência financeira é um sonho em construção.
“Temos diferentes culturas e precisamos comprar alimentos diferentes. Eu faço os colares e vendo nas ruas e parques de Teresina. Um dia vou conseguir comprar mais coisas para ajudar nossa vida”, falou.
O assistente social Carlos James Sousa explicou que a Casa de Passagem também realiza serviços de regularização migratória dos venezuelanos.
“Eles chegaram aqui sem nenhum vínculo empregatício ou renda. Sem documentos, é difícil para eles conseguirem acesso até mesmo para benefícios concedidos para migrantes. Aqui, nós ensinamos sobre documentos e ajudamos a regularizar a situação dos acolhidos” explicou Carlos James.
A venezuelana Yamili Mendonza é mãe de três crianças. Para ela, a Casa de Passagem oferece segurança e dá proteção à infância dos filhos.
"Aqui é bom, nós temos um quarto para cada família e não precisamos dormir em locais abertos. Tem escola e lugar para cozinhar”, relatou.
Capacitações podem dar novos rumos à vida dos venezuelanos
Gleycyara Lira aponta que ainda faltam mais ações para proporcionar dignidade às famílias venezuelanas. A Casa de Passagem ingressou com pedidos de implantação de cursos profissionalizantes desenvolvidos pela Fundação Wall Ferraz e Instituto de Assistência Técnica de Extensão Rural do Piauí (Emater).
“Estamos esperando aprovação dos requerimentos de solicitação. O objetivo é dar autonomia financeira com cursos que podem ajudar cada um a ter uma profissão”, explicou.