O estudante Lennon Ferreira Corezoma, de 24 anos, possui motivos de sobra para cemomorar. Ele será o primeiro estudante indígena a cursar um mestrado na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Além disso, foi o primeiro indígena a concluir o curso de Licenciatura em Educação Física na universidade, sendo aprovado logo em seguida para uma pós-graduação em Educação.
De origem humilde, o rapaz busca ajudar a questão indígena, sem perder suas raízes por conta de sua vivência nos centros urbanos. Sua pesquisa, intitulada ‘Escola Indígena: compreendendo os processos educativos relacionados à afirmação da identidade Umutina’ tem como objetivo entender, a partir do olhar de seu povo, a valorização da identidade transmitida pelas aulas.
Da etnia Umutina Bala Tiponé, o jovem é filho mestiço de pai indígena e mãe não-indígena e nasceu em uma aldeia na região centro-oeste do Mato Grosso, a 180 quilômetros de Cuiabá (MT).
“Minha mãe não é indígena, mas está muito ligada às aldeias. Ela é professora e por isso acabei indo morar em lugares muito distintos. Quando ela deu aulas no Maranhão, em outra aldeia indígena, acompanhei ainda pequeno. Em seguida, fomos para uma aldeia no Mato Grosso e ficamos lá por algum tempo. Depois, morei em Rondonópolis e estudei em uma escola pública municipal até voltar para a minha aldeia e terminar os estudos em casa”, relatou.
Lennon explicou que, a partir de sua trajetória, passou a compreender melhor a importância da identidade Umutina e como a escola indígena a constrói. “Há uma forte relação da escola com a identidade e por meio do meu projeto de mestrado vou estudar esse elo. A nossa escola, a Escola Indígena Jula Paré, é uma das poucas que possui um projeto político e pedagógico. Minha intenção agora é a de descobrir o que é importante para a formação dessa identidade e, a partir disso, pensar em projetos para outras escolas indígenas, quem sabe”, disse.
Indígenas O estudante relatou que sua maior vontade é a de ajudar a questão indígena e, acima de tudo, levar inspiração para quem deseja seguir o mesmo caminho trilhado por ele. “Se meu projeto der certo, posso acabar influenciando em algo que ajude a nossa causa ou até abra algum caminho. Minha ideia é pegar o conhecimento e levá-lo de volta para a tribo. Além de organizar outras escolas indígenas, também podemos aprender sobre o que somos capazes de melhorar na nossa. Pretendo incentivar, pois também fui incentivado. Todos nossos professores da aldeia são indígenas e passaram por uma formação", contou.
"A maioria dos nossos docentes teve formação com projetos de magistério para indígenas e sempre nos incentivaram a fazer uma graduação. Tenho dois tios que são professores e me contaram sobre as dificuldades de ser um indígena em cursos assim. Mesmo assim, afirmaram que para eles foi muito gratificante, pois puderam levar conhecimento para a aldeia, o que mudou totalmente nossa rotina”, pontuou.
Temos que saber levar, não é chegar levando o conhecimento do não-indígena e querer mudar tudo. Por isso, acho importante mantermos o contato com a aldeia. O nosso pensamento aqui pode não ser o mesmo pensamento de lá, pois tivemos contato com outra realidade e pensamos de forma diferente. Temos que observar e ouvir o que querem de nós para melhorarmos nossa vida. Não tenho essa intenção de mudar as coisas, pois a partir desse conhecimento que adquirimos, conseguimos nos manter de uma forma melhor. Por exemplo, no caso de uma lei nova, podemos interpretá-la nós mesmos, e não depender de terceiros”, avaliou.