O encontro de várias culturas e etnias no Aterro do Flamengo, na Zona Sul do Rio de Janeiro, durante as discussões da Rio+20, revela uma nova geração de índios. Eles estão cada vez mais conectados com o mundo e a fronteira entre a vida tradicional e a tecnologia parece cada vez mais próxima.
Os índios ikpeng da aldeia Pavuru, localizada no Médio Xingu, no Mato Grosso, usam a internet como uma forma de integração e diversão. ?Nós usamos a internet para nos comunicar com os índios e com os não-índios. O celular a gente usa para ouvir música, registrar fotos e jogar, porque ainda não tem linha de telefone lá?, conta um deles.
Oreme Ikpeng explica que a tribo tem um banco de dados no computador para arquivar e planejar os trabalhos da comunidade: ?É um acervo digital. Aqui no Rio temos jovens índios registrando tudo que está acontecendo. Assim todo mundo vai ver que os ikpeng participaram da Rio+20.?
O acesso aos meios de comunicação facilita até mesmo o contato com os parentes que estão longe das aldeias. ?Antigamente, a gente não conseguia falar com os nossos familiares que estavam longe. Hoje, a gente se fala até por email do nosso próprio notebook?, conta Renan Ikpeng.
Yakira Santos, uma índia pataxó da Bahia, diz que a tecnologia tem que ser aliada até na hora de vender os produtos feitos aldeia. ?Hoje, as pessoas andam com pouco dinheiro no bolso, com medo de roubo e tal. Para isso, nós temos a maquininha de passar cartão para facilitar a vida dos clientes e as nossas vendas?, conta ela.
Já Anàncy Wassú tem que passar por cima das barreiras tecnológicas da sua aldeia. "Eu tenho que ir para cidades vizinhas, mas ainda assim me sinto conectada, porque através da internet a gente vai até para fora do país, conversa com os estrangeiros, mesmo sem saber direito o que eles falam?, explica.
Índios nas redes sociais
Kauã Tatá, da tribo tupinambá, na Bahia, tem Facebook, Twitter e MSN. ?Já conheci muita gente, índios e não-índios, porque eles se interessam pela cultura e pedem para me adicionar?, conta ela.
Para Renan Ikpeng, seu interesse vai além da amizade. ?Eu uso as redes sociais para arrumar namorada também. Ainda não encontrei, pois sou novato nisso, mas vou conseguir?, diz, confiante.
O projeto ?Repórteres da Floresta?, realizado pelos kaiapós do Mato Grosso, é um exemplo de que os índios aproveitam completamente a tecnologia. ?A gente veio com uma equipe para fazer matérias e postar no nosso site. Temos câmeras fotográficas, gravadores, filmadoras e ilha edição?, conta um dos índios integrantes da equipe.
Mas apesar de toda a ?evolução?, os índios fazem questão de reforçar que a tecnologia não atrapalha a cultura tradicional. ?Mesmo usando tecnologia, os índios mantêm a sua tradição. Na verdade, a tecnologia nos ajuda a divulgar nossa identidade?, explica um deles.
?Como tudo evoluiu, a gente tem que evoluir junto. No tempo da minha bisavó, não tinha nada disso, mas temos que seguir em frente, porque senão ficamos atrasados no tempo", conclui Yakira Santos.