A indústria de invasões voltou com força total no período eleitoral em Teresina. Na quarta e quinta-feira, a Prefeitura de Teresina abriu, com dois tratores, uma grande avenida no meio de invasão de terrenos privados no Vale do Gavião, na zona Leste da cidade. “Estamos aqui na invasão de um terreno privado há um ano. A Prefeitura de Teresina disse que não ia fazer obras em terrenos privados, mas somos mais de cem famílias e ela resolveu abrir a rua com tratores e máquinas”, afirmou a dona de casa Márcia Santos.
A invasão do Vale do Gavião, além da intervenção da Prefeitura de Teresina abrindo larga avenida, dando o pontapé para a urbanização do local, que tem casas feitas de taipa. Com a abertura da avenida pela Prefeitura de Teresina, novos invasores ocuparam o outro lado da artéria, mas têm perfil diferente dos invasores pioneiros.
Antes de construírem casas e barracos, os novos invasores já estão ocupando lotes de tamanho definido, de oito metros por 20 metros, cercam o terreno com arame farpado antes de qualquer construção e pagam diárias de até R$ 50,00 a pedreiros para que ergam as cercas de arames, delimitando a propriedade invadida de terras que não são suas, mas de famílias e empresários prejudicados agora com a indústria de invasões em período eleitoral.
O pedreiro Antônio dos Santos Carvalho afirmou que foi contratado por R$ 50,00 a diária para erguer a cerca de arame farpado por um funcionário de uma empresa, que ele não sabe o nome. Os novos invasores têm melhores condições financeiras porque em alguns dos lotes das terras invadidas estão sendo construídos baldrames para dar sustentação às residências bem diferentes dos barracos ao lado, que foram construídos sem esses cuidados.
Nova modalidade de ocupação
Algumas das casas que estão sendo construídas na invasão do Vale do Gavião têm estrutura de ferro e cimento da construção. A indústria da invasão no período eleitoral neste ano criou novos costumes. A invasão da Avenida Pardal, na zona Leste, tem mais de 50 hectares e começa na Cidade Leste, continua no Porto do Centro e vai até o bairro Mirante dos Morros, derrubando árvores, palmeiras, entupindo riachos sem que os órgãos ambientais e a Prefeitura de Teresina enviem policiais militares e fiscais para impedir a destruição de área ambiental ou de uso público e coletivo, o que é uma rotina no período não eleitoral.
Os 20 hectares da invasão da Cidade Leste já têm sete hectares divididos em lotes de oito metros por 25 metros por cerca de arame farpado, que é mais caro do que erguer barracos precários, como fazem ou invasores de outras regiões porque não têm dinheiro para compra de material mais caro, do que palhas e argila.
O líder da invasão da Cidade Leste, Marcos Sousa, disse que como o terreno é muito acidentado e tem muitas pedras, os ocupantes do terreno fizeram um mutirão e arrecadaram R$ 2 mil para abrir uma rua e facilitar a entrada de mais pessoas na ocupação.
“A invasão começou há quatro meses, mas agora as pessoas estão ocupando e construindo mais casas porque o trator abriu as ruas”, falou Marcos Sousa. O auxiliar de serviços gerais Jefferson Wilson da Silva afirmou que os invasores pagaram R$ 2,6 mil para abrir cada uma das duas ruas abertas até agora. “Cada um morador deu R$ 20,00 para pagar o trator”, acrescentou o pedreiro Francisco Pereira da Silva, um dos invasores do terreno da Cidade Leste.
Destruição gera crime ambiental
Sem qualquer punição, repressão ou multas da Prefeitura de Teresina e órgãos ambientais, os invasores de terrenos particulares no Porto do Centro e Mirante dos Morros, na zona Leste da cidade, soterraram pequenos lagos, córregos e riachos que existem na região e são desconhecidos da maioria da população, cortaram e atearam fogo nas palmeiras, ipês, angicos brancos e caneleiros. Muitos dos galhos das árvores foram usados para fazer esqueletos das casas, ainda não construídas.
O cenário é de destruição e devastação ambiental, sem que surjam fiscais ambientais para impedir os crimes ambientais.
Uma parte do terreno é pantanoso e as palmeiras viviam nos ambientes verdes, dando frutos e acolhendo uma rica fauna, mas foram derrubadas. O que se vê são galhos cortados, troncos de árvores centenárias queimados.
O cenário de desastre ambiental é evidente e as aves que chegavam no final da tarde para ficar nas árvores da região desapareceram.
“Na mata tinha sabiás. A gente ouvia os pássaros cantando pela manhã e no final da tarde, mas com o corte das árvores, eles fugiram”, comentou o aposentado Luiz Eduardo, de 65 anos, que mora no bairro Mirante dos Morros.
A dona de casa Norma Lopes de Sousa afirmou que um dia apareceu um homem em um carro medindo os terrenos em lotes e depois começou as queimadas e a destruição das matas. “A fumaça era tão forte que minha mãe, Francisca Maria Lopes de Sousa, de 82 anos, passava a noite com problemas respiratórios e a gente não conseguia dormir”, afirmou Norma Lopes de Sousa. As árvores foram substituídas por lotes cercados de arame farpado e esqueletos não concluídos das casas.
Repórter: Efrém Ribeiro