Foi uma estreia bem sucedida, com alta demanda e apenas algumas dificuldades técnicas que não ofuscaram um momento que vinha sendo esperado desde 2013, quando o Parlamento do Uruguai aprovou a lei 19.172 sobre produção, distribuição e comercialização da maconha. Ontem, 16 farmácias do país começaram a vender os já famosos pacotinhos de 5 gramas que, em alguns casos, sobretudo em Montevidéu, se esgotaram em poucas horas. A procura superou o estoque das quatro farmácias na capital e levou à formação de filas, que demoraram um pouco mais num processo que em geral é bastante ágil, segundo comentaram ao GLOBO farmacêuticos locais. Em meio à emoção e euforia dos primeiros compradores, os uruguaios ainda debatem a qualidade do produto. Para alguns, a maconha das farmácias “não dá tanta onda” como a que é cultivada individualmente ou nos 38 clubes de cannabis que existem no Uruguai.
A lista das 16 farmácias foi divulgada ontem e, desde cedo, os pontos de venda em Montevidéu ficaram lotados, disse o vice-presidente do Centro de Farmácias do Uruguai, Alejandro Antaliach.
— Pense que 60% dos 4.959 compradores registrados no Instituto de Regulação e Controle do Cannabis (IRCCA) estão na capital, onde temos apenas quatro farmácias. Essa situação das filas e da falta de produtos era esperada — explicou Antaliach.
Cada pessoa inscrita no IRCCA pode adquirir até 10 gramas por semana. Quem não consumir sua cota semanal, a perde.
— Pode ser que outras farmácias decidam aderir à iniciativa, temos de esperar — disse o vice-presidente do Centro de Farmácias.
A baixa participação de farmácias se deve, de acordo com Antaliach, a vários motivos. Questões morais e éticas — vale lembrar que cerca de 60% dos uruguaios rechaçam a medida — mas, também, exigências ao governo que nada têm a ver com a venda de maconha: as farmácias pedem, há anos, para recuperar o mercado de venda de remédios, controlado pelos planos de saúde sindicais. A falta de uma resposta, assegura o representante do setor, também explica o escasso respaldo à lei promovida pelo governo do ex-presidente José Mujica (2010-2015) e finalmente implementada por seu sucessor, Tabaré Vázquez (2005-2010 e no poder desde 2015), ambos da esquerdista Frente Ampla.
Com este pano de fundo, a realidade é que hoje apenas 16 das três mil farmácias do Uruguai estão vendendo o produto, em suas duas variedades: “Alfa I” e “Beta I”. A primeira, a chamada índica, é a que gera uma sensação mais relaxante por sua composição: 2% de THC (tetrahidrocanabinol) e 7% de CBD (canabidiol), que é o que produz o efeito terapêutico. A “Beta I” tem 2% de THC e 6% de CBD e por isso, esclareceram especialistas uruguaios, “dá um pouco mais de onda”.