Os seguintes ditados populares, como “Devagar se vai ao longe” e “A união faz a força”, representam muito bem o trabalho que a violinista profissional, Wânya Sales, tem feito em sua comunidade, que se localiza no bairro Parque Alvorada, zona Norte, voltado para jovens de 10 a 20 anos.
A ideia da escola de música chamada “Escola de Música de Dona Gal”, em homenagem a mãe da violinista, de nome Maria das Graças, teve início, no ano passado, após a formação de um coral para se apresentar durante o período natalino na qual reuniu em torno de 40 crianças. É o que revela Wânya Sales.
“No final do ano passado, fiz uma ação para comunidade, um coral com Natal Iluminado, juntei umas 40 crianças e montei o coral, totalmente gratuito. Ia à comunidade e à igreja convidar os jovens a participarem. Os vizinhos ajudavam a espalhar a ação.
Comecei com 20 crianças, e quando me dei conta, já reunia 40 crianças. Com elas, fizemos um Natal diferenciado, com garrafas pet e luzes, tudo vindo de doações. Conseguimos decorar a calçada da igreja. Era um espaço aberto para visitação”, explica.
Após a apresentação natalina, os jovens que participaram e até quem apenas observou o resultado do trabalho da instrumentista, decidiram participar da “Escola de Música de Dona Gal”, que hoje já contabiliza 26 alunos, com 12 violinos, oriundos de doação anônima.
“Agora tenho duas turmas, que totalizam 26 alunos e continuamos de portas apertas a quem se interessar. Não quero deixar de receber, quero mais alunos e profissionais interessados em contribuir com essa iniciativa.
Escolhi essa faixa etária, de 10 a 20 anos, porque é nessa fase da vida que aparece todas as oportunidades ruins e mais ainda para quem é carente.
Estou tentando dar um novo foco para eles. Para prevenir das drogas, para sair da rua e de todas coisas ruins. Além de abrir portas, mostro a eles que é possível chegar lá. Digo aonde o violino me levou, os lugares e pessoas que conheci, eles ficam empolgados demais”, revela a violinista.
A história de 9 violinos e um doador anônimo
Fazer o bem às pessoas é uma das lições que se aprendem na "Escola de Música da Dona Gal", que foi fundada no início de fevereiro deste ano, após uma surpresa de um doador, que continua anônimo.
Eram apenas nove violinos vindos dos Correios. Ato nobre que a fez ter a iniciativa de montar a escola de música, que tem acontecido em sua casa, no Bairro Parque Alvorada, zona Norte.
Wânya Sales revela a sensação de receber a doação dos violinos que mudaria a realidade de muitos jovens de sua comunidade. "No dia 2 de fevereiro de 2015, tive uma surpresa. Estava fazendo faxina, quando me chamaram para assinar o papel e receber a encomenda.
Quando vi uma caixa enorme, não quis receber. Ainda mais num período em que vivemos, de muita guerra, receber uma caixa daquele tamanho de brinde, é muito suspeito. Mas o entregador me convenceu a receber.
Eu assinei e trouxe para dentro de casa. Ao rasgar a caixa, li o nome violino...
Comecei a chorar. Contei 1, 2, 3, 4 … 9, eram 9 violinos dentro da caixa. Eu pensei: 'Tem gente mais doida que eu'.
Se é assim, então viva os loucos!", destaca violinista. Após essa iniciativa, a violinista Wânya Sales recebeu mais três violinos de amigos. O que a deu mais ainda confiança de dar continuidade ao projeto da escola de música. Hoje, já contabilizam 12 violinos e com mobilização para adquirir o CNPJ, firmando assim, a "Escola de Música de Dona Gal". (M.G.)
Entre Dona Gal e Torquato Neto, o que há em comum?
A equipe do Jornal Meio Norte, ao visitar a "Escolinha de Música da Dona Gal", descobriu uma história que envolvia o poeta e músico piauiense Torquato Neto. Mas afinal, qual a relação que Maria das Graças, a Dona Gal, tinha com Torquato Neto?
Maria das Graças, mãe de Wânya, foi empregada de Torquato Neto, no estado do Rio de Janeiro, no final da década de 60 para início de 70, sendo ela a pessoa que encontrou o poeta morto, no banheiro.
Wânya Sales conta que a paixão pela música se deu pelo conhecimento e convívio que sua mãe tinha com Torquato, o Tropicalismo e os amigos do artista, como Gal Costa.
"Eu entrei na música com quatro anos de idade, através da minha mãe, cujo nome eu dei à escola. Ela, durante 10 anos, foi a empregada da casa de Torquato Neto, foi ela quem o encontrou morto.
Com ele, viveu muita cultura, conviveu com a Tropicália. Quando ela retornou a Teresina, após o falecimento dele, quis dar continuidade ao que via com ele, para os filhos.
Me matriculou, aos quatro anos no coral infantil "Raio de Sol", fundado por Cláudia Tenório, e aos 11 anos, em 1993, saí por já não ter aspectos infantis.
Em seguida, entrei no projeto da Orquestra de Câmara do Emanuel Coelho Maciel, que era só de cordas, instrumentos como violino, viola, violoncelo e contrabaixo. Foi a época que entrei na orquestra, não como violinista, mas como sua aluna", relata, a instrumentista.
E foi no Rio de Janeiro que Maria das Graças, mãe de Wânya Sales, conheceu a artista de mesmo nome, Maria das Graças, conhecida por Gal Costa, que devido ao convívio e intimidade, a cantora emprestou seu apelido à empregada de Torquato Neto.
De acordo com Wânya Sales, quem escolheu o instrumento que hoje é sua maior paixão, o violino, foi sua mãe Maria das Graças. "O professor Emanuel Maciel me deu duas alternativas, viola ou violino.
E foi minha mãe quem escolheu por mim, o violino. Era a orquestra quem sedia o instrumento para quem participava. Era algo muito prazeroso e via como diversão, não imaginava que poderia se tornar minha profissão. Hoje toco violino, violino popular que me levou a rabeca, que também dou aula", revela emocionada Wânya Sales.
As aulas na Escola de Música da Dona Gal ocorrem nas terças, com duas turmas, uma às 17h e outra às 19h, já nas quintas-feira o horário é às 18h30, em que reúne as duas turmas. (M.G.)