É "praticamente certo" que 2023 será o ano mais quente em 125 mil anos, disseram cientistas da União Europeia nesta quarta-feira (8), depois que dados mundiais mostraram que o mês passado foi o outubro mais quente já registrado. A maior marca de temperatura para o mês no planeta, de 2019, foi superada com folga, disse o Serviço de Mudanças Climáticas (C3S, na sigla em inglês) do Copernicus, observatório climático europeu. "O recorde foi quebrado por 0,4°C, o que é uma margem enorme", disse Samantha Burgess, diretora adjunta do C3S, descrevendo a anomalia de temperatura de outubro como "muito extrema". Em 2023, a média para o período foi de 15,38°C na superfície do planeta.
O aumento do calor é uma consequência das contínuas emissões de gases de efeito estufa resultantes da atividade humana, agravado pela influência do fenômeno El Niño, que provoca o aquecimento das águas superficiais no Oceano Pacífico Oriental. De forma global, a temperatura média do ar em outubro se elevou 1,7°C em relação à média registrada no período pré-industrial (1850-1900).
Ao longo de 2023, o ano apresentou quatro meses consecutivos que bateram recordes de calor para o respectivo período, com o mês de julho sendo notavelmente o mais quente já registrado na história. O recorde anterior havia sido estabelecido em 2016, durante outro episódio de El Niño. Desde o início do ano, a temperatura média do planeta tem se mantido como a mais elevada já registrada para os primeiros dez meses do ano, superando em 1,43°C a média do período 1850-1900, conforme o Copernicus.
O conjunto de dados do Copernicus remonta a 1940. "Quando combinamos nossos dados com o IPCC [Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas], então podemos dizer que este é o ano mais quente dos últimos 125 mil anos", afirmou Burgess. Os dados de longo prazo do painel de ciência climática da ONU, o IPCC, incluem levantamentos de fontes como núcleos de gelo, anéis de árvores e depósitos de corais. Só houve outra vez, antes de outubro, em que um mês ultrapassou o recorde de temperatura por uma margem tão grande, em setembro de 2023.
"Setembro realmente nos surpreendeu. Então, depois do mês passado, é difícil determinar se estamos em um novo estado climático. Mas agora os recordes continuam caindo e eles me surpreendem menos do que há um mês", disse Burgess. Para Michael Mann, cientista do clima da Universidade da Pensilvânia (EUA), "a maioria dos anos de El Niño agora são recordistas, porque o calor global extra do El Niño se soma ao aumento constante do aquecimento causado pelo homem".
A mudança climática está exacerbando eventos extremos cada vez mais devastadores. Este ano, testemunhamos inundações que resultaram na perda de milhares de vidas na Líbia, ondas de calor severas na América do Sul e a pior temporada de incêndios florestais já registrada no Canadá. A sequência de cinco meses consecutivos com recordes de calor reforça as preocupações expressas pelos cientistas antes da COP28, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, agendada para ocorrer em Dubai de 30 de novembro a 12 de dezembro.
O Acordo de Paris, estabelecido em 2015, definiu como meta limitar o aquecimento global a, idealmente, 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, visando evitar desastres climáticos significativos. A COP28 deverá apresentar a primeira avaliação oficial do progresso em relação a essa meta desde a sua adoção.
A OMM (Organização Meteorológica Mundial) previu que o limite deve ser superado pela primeira vez no período de 12 meses nos próximos cinco anos. Será necessário, porém, registrar o aumento de 1,5°C na média ao longo de vários anos para considerar que a barreira foi ultrapassada do ponto de vista climático. O IPCC prevê que há 50% de possibilidade de que isso aconteça entre 2030 e 2035, levando em consideração o ritmo das emissões de gases-estufa.
(Com informações da FolhaPress)