A dois dias do início do conclave que irá escolher o sucessor de Bento 16, o cardeal dom Odilo Scherer, apontado como um dos favoritos para o posto, celebrou neste domingo (10) uma missa na igreja Sant´Andrea al Quirinale (do italiano Santo André no Quirinal), em Roma.
Em um clima descontraído, dom Odilo cumprimentou as dezenas de jornalistas brasileiros e de diversos outros países que se acotovelavam na entrada da igreja: "Que maravilha, veio muita gente hoje". Ele comentou ainda o grande interesse que a presença dos cardeais em Roma tem despertado no mundo.
Assim como dom Odilo, cada cardeal fica como titular de uma igreja na capital romana e, neste fim de semana, vários deles estão celebrando missas na cidade.
Tempos difíceis
Durante a missa, celebrada em italiano, dom Odilo mencionou os tempos difíceis vividos pela Igreja Católica. "Convido a orar para a Igreja fazer bem sua missão nesse tempo. Seguramente um tempo difícil, mas também alegre".
Em um sermão que durou 22 minutos, ele ressaltou a importância da reconciliação com Deus e do perdão ao próximo. "Tem muita gente que vive como se Deus não existisse ou não tivesse importância", disse.
No momento da missa em que são colocadas as intenções das orações, foi pedido que todos rezassem "pelos cardeais que vão eleger o papa para que sejam iluminados pelo Espírito Santo" e "pelo papa emérito Bento 16, que guiou o povo de Deus com caridade".
Antes de encerrar a celebração, o cardeal chamou à frente do altar um casal de italianos que completava 70 anos de matrimônio. "Há 70 anos eu não tinha nem nascido", brincou dom Odilo.
Maria e Carmine Persighetti, ambos de 89 anos, se disseram surpresos e felizes com a oportunidade de ter o sacramento do matrimônio renovado por um cardeal cotado com chances de se tornar papa. "É uma honra muito grande", disse Maria, emocionada.
Crise
A eleição do novo papa acontece em meio a uma crise de credibilidade que afetou parte da Cúria Romana. Até a definição da data do início do conclave - que será em 12 de março -, passaram-se oito dias desde a saída oficial de Bento 16, em 28 de fevereiro.
O agora papa emérito justificou a sua renúncia alegando estar com a saúde fragilizada. No entanto, um dossiê, elaborado a pedido de Bento 16 para investigar casos de corrupção e nepotismo no Vaticano, teria tido influência na decisão dele. O relatório também identificou os diferentes grupos que disputam poder na cúpula católica e um esquema de chantagem contra clérigos homossexuais.
A demora, então, para definir a data do conclave se deveria à exigência por parte de alguns grupos de cardeais em ter acesso ao dossiê. O Vaticano, porém, negou com veemência que esse tivesse sido o motivo. Nas coletivas de imprensa, Lombardi afirmou diversas vezes que os cardeais não estavam com pressa por se tratar de um processo que exigia reflexão.
Na terça-feira (12), haverá apenas uma votação à tarde. Nos demais dias, estão previstos dois escrutínios pela manhã e outros dois à tarde. Se não houver definição após quatro dias, no quinto é feita uma pausa para orações. A votação é retomada com uma nova rodada no dia seguinte e segue até o 12º, com pausas no sétimo e no décimo dias. Após 12 dias e 34 votações, o sistema muda e a escolha passa a ser entre os dois mais votados.
Como é a votação
Não há uma previsão de quanto tempo o conclave poderá durar até sair o novo nome que liderará a Igreja Católica. Em 2005, o conclave que escolheu Bento 16 foi bastante rápido: em apenas dois dias, chegou-se a um consenso sobre o novo pontífice.
O Colégio de Cardeais, composto por aqueles com menos de 80 anos, tem 115 integrantes. Para ser eleito, é necessário receber dois terços mais um dos votos, equivalente, neste caso, a 77 votos favoráveis.
Entre os eleitores estão cinco brasileiros: dom Odilo Scherer, dom Raymundo Damasceno, dom Cláudio Hummes, dom João Braz Aviz e dom Geraldo Majella.
Se nenhum cardeal receber os dois terços dos votos, as cédulas são queimadas, uma fumaça preta sai da chaminé da Capela Sistina e a votação é retomada.