Abandonada pelos pais, garota com condição rara sofreu com bullying

“Pensei em me matar, várias vezes”, admitiu Mui

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A jovem Mui Thomas, 22 anos, foi abandonada quando ainda era bebê, em Hong Kong. Ela até hoje não sabe quem são seus verdadeiros pais. Mui, que sofre de uma uma doença genética raríssima, foi adotada por um casal que estava de férias na China. Rog, 52, de Cardiff, no País de Gales, e Tina, 47, de Frankfurt, na Alemanha, criaram a garota.

Ela tem uma história de vida marcada por isolamento, sofrimento, episódios de bullying e insultos, sobretudo na época em que estava na escola. Mui chegou ao limite, e cogitou várias vezes em se matar.

Mui nasceu com ictiose arlequim, uma doença que faz perder muita pele — em uma noite, a quantidade de pele perdida é equivalente ao que uma pessoa sem essa doença perde em uma semana.  Mui, tida como "persistente, corajosa e destemida", vem superando tudo isso.

Rog e Tina viram a criança abandonada num hospital em Hong Kong. Decidiram criá-la, apesar de os médicos garantirem que ela não iria sobreviver por muito tempo. "Davam 10, no máximo 15 anos de vida", diz Tina.

Ainda assim, o casal decidiu adotá-la oficialmente quando ela tinha 3 anos de idade. Casaram-se em Hong Kong e mudaram-se da Austrália, onde estavam,  para lá.

"Ela chegou a ficar semanas internadas, em estado grave, quando tinha 5, 6 anos. Outra vez disseram: ela vai morrer em breve. Mas ela sobreviveu. Médicos até pensaram em colocá-la para morar numa clínica. Mas fomos contra e tomamos medidas para que pudesse viver em casa conosco", diz Tina.

Apesar da doença grave, Mui tentava viver como uma criança sem esse distúrbio. Frequentou escola, e era, de acordo com os pais "estudiosa, sempre interessada em tudo".

Os problemas da garota com colegas começaram na adolescência. Primeiro, ela sofria com insultos e gozações na sala de aula. "Ela chegava da escola chorando, atordoada", conta Tina. "Depois se trancava no quarto. Ficava agressiva. Outras vezes parecia melancólica, distante".

Ela se queixava muito, e ficava tristíssima, também com os olhares na rua. "Também chorava quando a observavam, apontavam pra ela como se fosse uma alienígena", relembra Rog. Depois vieram as piadas implacáveis e o bullying por meio da internet, e, anos depois, pelas redes sociais .

"Pensei em me matar, várias vezes", admitiu Mui. "Até pesquisei maneiras de como seria o suicídio. Estava levando a sério mesmo essa ideia. Não suportava mais tanta perseguição".

Fã de rúgbi, Mui virou árbitra do esporte na escola. Ganhou ainda mais admiração por isso. A inteligência na escola também impressionava seus colegas.

Mui superou essa fase sombria. Escreveu um livro, cujo título pode ser traduzido como "A Garota por Trás do Rosto". E passou também a dar palestras sobre como enfrentas e conscientizar as pessoas a respeito do bullying. Logo ela ficou famosa na China .

Ela viaja para dar palestras, incluindo países da Europa e EUA. Já conheceu celebridades como a top Kate Moss e e o ex-primeiro-ministro britânico Tony Blair. "Quem pode ter esse privilégio todo?", brinca.

A pessoa com o distúrbio genético de Mui que viveu por mais tempo chegou aos 31 anos. "Estou com 22. Eu passo dessa idade", diz ela, confiante e decidida .

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