Florencia Rocha, de 22 anos, compartilha um riso constrangido ao afirmar: 'Não é preciso um frango para ser feliz'. Vivendo na Argentina e grávida de seis meses do terceiro filho, ela recebeu a recomendação de sua nutricionista para evitar o consumo excessivo de macarrão devido ao sobrepeso e pressão alta.
"Eu falei: olha, não é porque eu quero. Eu tenho que comer o almoço e a janta, e se compro verdura não vai sobrar para mais nada", conta ela. "Às vezes eu não como para que as crianças comam, no último mês piorou muito. Antes já estávamos mal, mas se conseguia de um jeito ou de outro. Agora já não.",afirmou a jovem, para uma reportagem da Folhapress.
Diante da escalada dos preços na Argentina desde dezembro, com a mudança de governo liderada por Javier Milei, a inflação mensal disparou para 26%, causando uma queda significativa no consumo, incluindo o turismo interno durante as festas de fim de ano e o verão, refletido sobretudo pelo freio nas classes média e média alta.
Destinos como Bariloche, muito visitado por argentinos no verão, e praias como Mar del Plata e Pinamar, a cerca de quatro horas de Buenos Aires por terra, ficaram mais vazios nessa temporada. A ocupação de hotéis se reduziu de 100% a cerca de 80%.
"Claramente há uma queda na demanda, se antes as pessoas iam sete dias, agora vão quatro", relata Gabriela Ferrucci, presidente da Associação de Hotéis de Turismo (AHT) para a Folhapress. "O combustível também aumentou muito [mais do que dobrou no último mês], e isso certamente impactou na decisão de quem tinha planejado viajar de carro."
Comerciantes relatam uma diminuição de 14% nas compras, sendo alimentos e bebidas os itens mais impactados. Fernando Savore, vice-presidente da Confederação Geral de Armazéns da Argentina, destaca a preocupação com a capacidade dos clientes de pagar diante da crise econômica.
As mercearias enfrentam declínio nas vendas, com projeções de baixas ainda maiores nos próximos meses. Savore calcula um declínio de 20% nas vendas dos comércios de bairro em dezembro e projeta baixas ainda maiores em janeiro e fevereiro, de até 50% por mês.
"Sacrifícios"
Milei, desde sua posse, alertou para um início difícil, prevendo esforços e sacrifícios da população por seis meses a um ano. As famílias argentinas já sentem esses sacrifícios, com relatos de refeições mais simples, cortes de itens essenciais e redução nas compras. Mesmo com a perda do valor dos salários, o presidente ultraliberal mantém uma aprovação de 55%, enquanto 37% o reprovam, segundo pesquisa de opinião pública de janeiro.
A responsabilidade pela situação econômica é atribuída, em sua maioria, ao governo anterior de Alberto Fernández. O cenário atual gera preocupações entre os argentinos, enquanto o país enfrenta desafios econômicos e sociais.
Com informações da Folhapress