Atirador da Noruega não mostra emoção ao ouvir sobreviventes

Tribunal ouve vítimas que escaparam de bomba em sede do governo

O ultradireitista Anders Behring Breivik sorri nesta sexta-feira (27) no tribunal em Oslo | AP
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Um funcionário público norueguês que precisou amputar a perna depois da explosão de uma bomba plantada pelo assassino de extrema-direita Anders Behring Breivik falou nesta sexta-feira (27) sobre o ataque.

?"De repente, algo me atingiu, uma onda de pressão muito forte que me levantou e me jogou longe", contou Tore Raasok, funcionário do Ministério dos Transportes, de 56 anos, ao depor no julgamento de Breivik pelo assassinato de 77 pessoas a sangue frio no ano passado.

Raasok é um dos oito sobreviventes do atentado contra escritórios do governo em 22 de julho que dão seu testemunho nesta sexta-feira para descrever o efeito que os crimes tiveram em suas vidas.

Os sobreviventes da outra atrocidade cometida por Breivik -- um tiroteio em um acampamento do Partido Trabalhista -- vão comparecer perante o tribunal em uma data posterior.

Aproximando-se do banco lentamente, de muletas, Raasok disse que tinha acabado de sair do Ministério dos Transportes em Oslo para cortar o cabelo quando a bomba de fertilizantes de Breivik explodiu a meio quarteirão de distância.

Raasok, que anteriormente era um ávido esquiador, disse que a explosão lançou em seus olhos cacos de vidro e que ambas as suas pernas tinham sido esmagadas. A esquerda teve de ser amputada. Ele contou que passou por dez cirurgias e perdeu o movimento do braço esquerdo.

?"As coisas têm ido muito bem com os meus olhos", disse o funcionário público, de óculos, enquanto Breivik observava atentamente a poucos metros de distância. "?Eu vejo tão mal quanto eu via antes do evento", acrescentou com humor negro.

?Tudo isso é muito difícil de ouvir", disse o promotor Svein Holden à Reuters. ?"Mas esses casos fazem parte da acusação, então as vítimas têm que informar sobre as consequências do que aconteceu."

Breivik, 33 anos, é acusado de terrorismo e assassinato por detonar uma bomba que matou oito pessoas e feriu mais de 200, e, em seguida, ter matado a tiros outras 69 pessoas em um acampamento do Partido Trabalhista, a maioria delas com idade entre 14 e 19 anos.

Ele admitiu ter cometido os assassinatos, mas negou culpa criminal, insistindo que as vítimas eram "?traidores" de esquerda, cujo suposto apoio político à imigração estava ajudando a destruir a cultura europeia.

Kristian Rasmussen, outra vítima da bomba, disse ao tribunal que estava escrevendo um e-mail em seu escritório no Ministério de Energia "quando ?tudo ficou escuro".

"?Eu fiquei em coma por aproximadamente 12 dias e havia muita incerteza sobre se eu iria sobreviver", lembrou a vítima, de 31 anos.

Rasmussen sofreu ferimentos graves na cabeça, incluindo hemorragia cerebral, teve o pescoço quebrado e ferimentos abdominais. Ele ficou internado por quase dois meses.

Outros sobreviventes perderam boa parte da audição.

Fora do tribunal, milhares de rosas ainda estavam no chão, colocadas por algumas das 40.000 pessoas que se reuniram na quinta-feira para cantar uma música ridicularizada por Breivik, em uma manifestação que visava apoiar as vítimas e mostrar que o atirador não havia destruído a sociedade tolerante.

Vestido em um terno verde-oliva, Breivik não iria depor nesta sexta-feira, mas foi informado do protesto de quinta-feira. Ele não demonstrou nenhum sinal visível de emoção enquanto suas vítimas falavam.

Recesso

O processo foi suspenso até a próxima quinta-feira, data em que o tribunal se concentrará na matança na ilha de Utoeya.

Na quinta-feira, o processo será retomado com o depoimento do capitão da balsa MS Thorbjoern, que faz a conexão entre o continente e a ilha de Utoeya, onde Breivik disparou durante quase uma hora contra uma multidão de jovens social-democratas reunidos em um acampamento de verão.

A saúde mental de Breivik continua sendo uma questão central do processo. Inicialmente, foi declarado psicótico, mas um segundo painel de especialistas considera que o extremista é mentalmente são.

Se for julgado como são, ele poderia obter 21 anos de prisão, com possibilidade de extensões. Caso contrário, ele pode ser condenado à detenção psiquiátrica por tempo indeterminado.

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