O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, reconheceu em entrevista à rede ABC que não estava bem preparado para o debate presidencial com Donald Trump. O democrata também mencionou estar doente e assumiu a responsabilidade pelo "episódio ruim".
"Não foi culpa de ninguém, foi culpa minha", declarou Biden sobre seu desempenho no debate. A entrevista, exibida na noite desta sexta-feira (5), é considerada crucial entre os democratas para a continuidade da candidatura de Biden. Nos bastidores, cresce a pressão entre apoiadores e doadores para que ele desista da corrida eleitoral.
Mesmo assim, durante a entrevista, Biden descartou a possibilidade de desistir da reeleição após o fraco desempenho no debate do dia 27 de junho, que levantou dúvidas sobre sua saúde e capacidade. "Foi um episódio ruim", disse Biden. "Não foi nenhuma indicação de que exista uma condição séria [comigo]. Eu estava exausto. Não segui meus instintos em termos de preparação."
Questionado sobre a possibilidade de desistir se outros democratas no Congresso afirmassem que ele estava prejudicando suas chances de reeleição em novembro, Biden respondeu que só desistiria se Deus o mandasse: “Se o Senhor Todo-Poderoso aparecer e me disser, eu poderia fazer isso”.
Biden explicou que se sentia "terrível" no dia do debate, após diversas viagens pela Europa e pelos Estados Unidos, e consultou médicos para descartar uma possível infecção, incluindo a Covid-19. "Eu só estava com um resfriado muito forte", justificou.
Sobre testes cognitivos e neurológicos, Biden afirmou que passa por avaliações neurológicas "todos os dias" enquanto desempenha suas funções como presidente. "Ninguém disse que eu preciso de testes neurológicos e cognitivos", afirmou. Nesta sexta, a porta-voz da Casa Branca disse que Biden consultou seu médico recentemente.
Quando questionado sobre um possível declínio cognitivo ao longo de seu mandato, Biden destacou as conquistas de seu governo e negou estar mais frágil do que anos atrás, brincando com o repórter: "Cumpra a minha agenda".
Durante a entrevista e em um comício em Wisconsin nesta sexta (5), Biden procurou desviar o foco dos 90 minutos ruins do debate para os três anos e meio de trabalho realizado durante seu mandato. "Não vou deixar o debate apagar anos de trabalho", disse ele no evento eleitoral. Biden também mencionou que não assistiu ao debate, mas estava ciente do desempenho fraco. A rede ABC ofereceu uma entrevista a Donald Trump após o debate, mas o candidato republicano recusou.
Havia um consenso de que Biden não podia se permitir outro "dia ruim". Não estava claro se uma performance mediana seria suficiente para dissipar as preocupações sobre sua capacidade de governar. A Casa Branca aumentou as expectativas para a entrevista de Biden, com a secretária de imprensa Karine Jean-Pierre dizendo que "milhões de americanos" eram esperados para assistir.
Apesar da ansiedade entre legisladores democratas, doadores e estrategistas após a performance prejudicial de Biden no debate, a maioria do partido manteve silêncio público.
No debate do dia 27, a intenção de mostrar um Joe Biden "aceso" fracassou. A performance do presidente foi considerada "desastrosa" apesar de ele ter se isolado em Camp David com seus principais assessores para se preparar. Em vários momentos, Biden mostrou-se apático, com a voz rouca e pouco entusiasmo, além de hesitações. O debate foi marcado também por trocas de acusações e mentiras de Trump, que passaram despercebidas pelos analistas políticos.
No dia seguinte, Biden admitiu o desempenho ruim e se defendeu das críticas sobre sua capacidade para governar mais um mandato. "Não ando com tanta facilidade como antes, não falo com tanta fluidez como antes, não debato tão bem como antes, mas sei o que sei: sei dizer a verdade", concluiu o presidente.