A corrida presidencial uruguaia começa a esquentar com os anúncios das pré-candidaturas. Num cenário em que os eleitores escolherão entre dar continuidade aos 14 anos de governo da esquerdista Frente Ampla ou optar pela alternância com alguma força de centro ou de direita, surge um opositor com o discurso de "correr por fora da política tradicional".
Já popularmente chamado pelos locais de "Bolsonaro uruguaio" ou "Macri uruguaio", o bilionário Juan Sartori, 38, apresenta-se como um pré-candidato que promete acabar com o excesso de gastos sociais do atual governo -"um assistencialismo que nem os pobres querem"-, tornar o Mercosul mais flexível e menos ideologizado e romper com um governo de esquerda que, segundo ele, tornou a administração do país uma máquina lenta e ultrapassada para dar respostas a uma economia mundial mais moderna.
O empresário Juan Sartori, do partido Nacional, em Montevidéu Miguel Rojo - 19.dez.18/AFP O empresário Juan Sartori, do partido Nacional, em Montevidéu As linhas de seu discurso são ainda bastante genéricas, mas é inevitável ver semelhanças com os dos presidentes brasileiro e argentino. Como o último, Sartori pertence a uma das famílias mais ricas do país e diz, assim como prometia Macri, que não quer a Presidência "para me mostrar publicamente e depois tirar proveito para meus negócios".
Sartori é fundador da Union Group, uma empresa de gestão de investimentos, principalmente na área agroprecuária, de onde vêm os principais produtos que o Uruguai exporta. A Union Group também atua nas áreas energética, de mineração, gás e construção de infraestrutura.
Assim como Macri, é ligado ao mundo do futebol, sendo um dos principais acionistas do time britânico Sunderland. É casado com Ekaterina Rybolovleva, filha de um magnata russo dono da empresa de fertilizantes Uralkali e do time francês de futebol Mônaco.
A cerimônia de casamento de ambos ocorreu na ilha grega de Skorpios, a mesma em que Aristóteles Onassis se casou com Jacqueline Kennedy.
Há pouco mais de dois anos, Sartori começou a dar palestras sobre o futuro da economia do Uruguai, animando o público local de investidores. Daí, saltou para a política e decidiu concorrer por um dos partidos mais tradicionais do país, o Nacional, de centro-direita.
Ali, disputará internamente com um desacreditado Luis Lacalle Pou, perdedor nas últimas eleições, nas primárias, que ocorrem em junho.
O empresário diz estar, por enquanto, financiando sua própria campanha. Ele esteve no último Fórum de Davos, para se encontrar com líderes e empresários. Também esteve com o presidente Jair Bolsonaro.
Segundo a imprensa uruguaia, Bolsonaro teria dito a Sartori que "varresse a esquerda do Uruguai".
Questionado sobre a veracidade da frase, Sartori disse que teve um "ótimo diálogo" com o brasileiro e que isso serviria para "nosso relacionamento no futuro", pois via que ambos tinham várias semelhanças na visão da região.
Sobre a frase que teria sido dita por Bolsonaro a ele sobre a esquerda, apenas disse "não confirmo nem nego".
Sartori tem feito sua campanha pensando em dois públicos. Um, o empresariado, com quem segue tendo encontros e dando palestras. Há duas semanas, esteve em Buenos Aires para uma série de reuniões com empresários locais.
O outro público tem sido o dos rincões do Uruguai e as classes populares. Fez atos junto a pequenos e médios agricultores, que reivindicam uma redução dos altos impostos.