O brasileiro Diego Armando Guimarães, 24 anos, morreu na última quarta-feira no deserto do Texas após cruzar a fronteira mexicana em tentativa de entrar ilegalmente nos Estados Unidos, segundo o amigo que o acompanhava, o balconista Cláudio Afonso Pereira, 22 anos. Eles haviam embarcado para o México no mês passado. O balconista, que foi preso nos Estados Unidos após cruzar a fronteira, disse para a mãe que enterrou o amigo no deserto porque não queria deixar que os urubus o devorassem. A comerciante Laudicéia Oliveira, 45 anos, conversou com o filho na segunda-feira e disse que ele ainda está muito abalado com o que aconteceu.
"Ele está perturbado, está tendo até alucinações. Eles eram amigos de infância, o Diego morreu nos braços dele", disse. De acordo com Laudicéia, o filho irá acompanhar a polícia do estado americano do Texas, entre hoje e amanhã, até o deserto, onde enterrou o colega, para procurar o corpo de Diego. "Ele disse que não sabe direito onde o corpo está. Quando Diego morreu, ele lembrou que chorava e pedia para o coiote (guia) ajudar a socorrer o amigo, mas o homem não quis ajudá-lo", revelou.
Os amigos, que moravam em Ferruginha, distrito de Conselheiro Pena, no Vale do Rio Doce, a 458 km de Belo Horizonte, chegaram ao México no dia 26 de maio. Eles atravessaram a fronteira com os Estados Unidos e caminharam durante quatro dias pelo deserto do Texas. No dia 8 de junho, quarta-feira da semana passada, Diego, que estava acima do peso, começou a se sentir mal e teria morrido desidratado. Cláudio está preso na cidade de Huston.
Segundo Laudicéia, Cláudio e o amigo pagaram antecipadamente a um "agente" cerca de R$ 4 mil, cada um, para entrar clandestinamente no país. Caso eles conseguissem, deveriam desembolsar mais R$ 3 mil cada pelo serviço. "Meu filho pegou dinheiro emprestado para alguns colegas e parentes que estão lá (nos Estados Unidos)", contou.
A comerciante afirmou, ainda, que muitos familiares e pessoas da região tentam a sorte na travessia, que ela chamou de "passarela da morte". Segundo ela, alguns conseguiram e estão até regulares no país, mas "a maioria vai e morre no caminho". Laudicéia lembra que não conseguiu impedir o filho de embarcar. "Eu acho uma loucura, mas ele é maior de idade e faz o que quer. Alguns amigos o seduziram, disseram que dava certo e ele acabou indo", disse.
A mãe do balconista, conta que foi a primeira a dar a notícia à família de Diego, que mora na zona rural da cidade. "A mãe dele está desesperada, acha que vai ser muito difícil encontrar o corpo", considera. Laudicéia disse que foi procurada pelo Itamaraty na semana passada, mas que ainda não teve retorno. Segundo ela, só com a ajuda de um advogado ela vai poder trazer o filho de volta. "Se eu não procurar outros meios, ele vai ficar lá eternamente", lamentou.
O Ministério das Relações Exteriores apura o caso e informou que aguarda um posicionamento do governo americano sobre o paradeiro do corpo de Diego.