Terminado o primeiro debate da campanha presidencial dos EUA --que opôs na quarta-feira à noite o republicano Mitt Romney e o democrata Barack Obama em Denver, Colorado-- a mídia americana saiu em busca de um "vencedor" para o evento.
Os comentaristas foram quase unânimes em ressaltar o desempenho "forte" de Romney, que pareceu mais alerta e determinado que Obama, e transmitiu domínio das respostas oferecidas para cada um dos temas domésticos abordados.
Uma pesquisa de opinião conduzida pela rede CBS após o encontro indicou que 46% dos eleitores consideraram Romney o vencedor do debate, contra 22% que deram a vitória a Obama.
Outro levantamento semelhante feito pela rede CNN indicou que 67% dos telespectadores deram a vitória a Romney e 25% a Obama.
Falando na rede MSNBC, um dos assessores de Obama, David Plouffe, admitiu que o rival demonstrou uma "agressividade teatral", mas insistiu que o presidente permaneceu fiel à "narrativa que quer passar" para o eleitor comum.
Acalmado o frenesi inicial da mídia, só as pesquisas de opinião das próximas semanas podem revelar se o desempenho de Romney se traduzirá em maiores intenções de voto, a pouco mais de um mês das eleições do dia 6 de novembro.
O debate realizado na Universidade de Denver se limitou a temas domésticos. Dos cinco "blocos" do programa --na verdade, o debate de uma hora e meia começou e terminou sem intervalos--, três foram dedicados à economia.
Os candidatos discutiram longamente os planos tanto de Obama quanto de Romney em relação a impostos, redução da dívida pública e criação de empregos. Em outras áreas, os candidatos debateram os planos dos candidatos para a saúde e o papel do governo na vida nacional.
Em todos os tópicos, Romney despejou estatísticas sobre o presidente, que evitou contestar diretamente os números oferecidos pelo rival.
"Presidencial", "respeitoso", "manso", e deixando passar "oportunidades perdidas" foram termos usados pela imprensa para descrever a atuação de Obama.
Um dos temas sobre os quais a discussão mais se demorou foi o dos cortes de impostos da era Bush, que expiram no ano que vem. Enquanto Romney pretende estender estes cortes indefinidamente, Obama tem defendido o aumento de impostos para famílias com renda acima de US$ 250 mil por ano.
Sobre o assunto, o presidente apenas alfinetou algumas vezes o republicano por não oferecer detalhes sobre seu plano de limitar isenções fiscais e fechar brechas legais para compensar a extensão dos cortes de impostos.
No último bloco do debate, em que os dois candidatos discutiram o papel do governo e poderiam ter entrado na questão dos benefícios sociais, Obama não fez menção ao desdém demonstrado por Romney sobre sua declaração de que "47% dos americanos não pagam imposto de renda".
"O desafiante sempre leva vantagem no primeiro debate", reconheceu o assessor de Obama David Axelrod na CNN, aceitando as "oportunidades perdidas" do presidente.
Sorridente, o senador republicano Marco Rúbio, que representa a Flórida e é considerado um dos jovens talentos do partido, disse que "a única pessoa mais frustrada que Obama (com o debate) é David Axelrod".
Para Rubio, o presidente se mostrou "desconfortável" com a discussão sobre impostos, dívida e a economia em geral.
Antes do debate, todas as expectativas eram de que Obama, político reconhecido pela sua oratória, tivesse uma performance mais forte do que demonstrou no embate com Mitt Romney.
Mas, com uma leve vantagem nas pesquisas, o presidente tem se beneficiado de apenas assistir à queda do adversário em consequência das suas próprias gafes. O que é uma ironia, considerando o estado da economia em marcha lenta, na qual o desemprego permanece acima de 8%.
"Obama jogou para não perder", resumiu o analista republicano Jack Burkman na Fox. Por outro lado, ele lembrou que é Romney quem "precisa vencer os três (debates) para ganhar" as eleições, se quiser recuperar o terreno perdido nas últimas semanas para Obama.
As pesquisas mais recentes vinham demonstrando que o republicano continuava atrás do democrata em Estados-chave, como Ohio e Flórida, sem os quais suas chances de levar a Casa Branca são pequenas.
Na última semana, vários analistas na imprensa também vinham indicando que, enquanto ser aclamado "vitorioso" nos debates é importante, para Romney é igualmente importante demonstrar conexão com os eleitores. Em todas as pesquisas, ele ainda é considerado menos "afável" (likeable) que o presidente.
Durante o encontro da quarta-feira, em poucos momentos o republicano olhou diretamente para a câmera. Quando Obama oferecia histórias para ilustrar suas posições, o rival lançava estatísticas.
Os dois candidatos se encontrarão mais duas vezes neste mês: no dia 16 de outubro, no Estado de Nova York --em um formato que aceitará perguntas do público sobre temas domésticos e internacionais--, e no dia 22, na Flórida, quando o tema será apenas a política internacional.
Na semana que vem (dia 11), os dois candidatos a vice-presidente, Joe Biden (democrata) e Paul Ryan (republicano) fazem outro embate em Kentucky.
Considerando que o vice de Obama é conhecido por dizer o que lhe vem à cabeça, e o número dois de Romney fez um discurso forte na convenção do partido, em agosto, não surpreenderia que o próximo duelo fosse mais dramático que o dos candidatos em si.