Comitê pede indiciamento de Trump por ataque ao Capitólio dos EUA

A comissão organizou os resultados de 18 meses de apuração em cinco tópicos. Primeiro, a crença de Trump na chamada “Big Lie”.

Comitê pede indiciamento de Trump por ataque ao Capitólio dos EUA | Reprodução
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THIAGO AMÂNCIO

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) - O comitê da Câmara dos Representantes dos EUA que investiga a invasão do Congresso em 6 de janeiro de 2021 pediu nesta segunda (19) o indiciamento do ex-presidente Donald Trump por quatro crimes relacionados à recusa em aceitar o resultado da eleição presidencial de 2020: obstrução de procedimento oficial; conspiração para fraudar os Estados Unidos; conspiração para fazer uma declaração falsa; e incitação, assistência ou ajuda a insurreição.

Foi o último encontro do comitê, em uma sessão com forte apelo emocional transmitida pelos principais canais da TV aberta americana, que encerrou com acusações fortes contra o ex-presidente Donald Trump.

Comitê pede indiciamento de Trump por ataque ao Capitólio dos EUA

O resumo veio nas palavras do presidente do comitê, Bennie Thompson: "[Trump] perdeu a eleição de 2020 e sabia disso, mas optou por tentar permanecer no cargo por meio de um esquema complexo para anular os resultados e bloquear a transferência de poder", disse, na abertura da sessão.

A listagem de supostos crimes cometidos é um pedido para que o Departamento de Justiça indicie Trump por esses crimes, com as provas levantadas e organizadas pelo comitê, mas o grupo em si não tem poder de conduzir um processo contra o ex-presidente na Justiça.

A comissão organizou os resultados de 18 meses de apuração em cinco tópicos. Primeiro, a crença de Trump na chamada "Big Lie", a grande mentira de que as eleições de 2020, as quais perdeu para o democrata Joe Biden, foram fraudadas. Depois, a pressão contra autoridades eleitorais estaduais para mudar o resultado nos estados em que perdeu.

Na sequência, houve pressão contra autoridades do Departamento de Justiça para reverter a derrota. Além disso, Trump pressionou o vice-presidente, Mike Pence, presidente do Senado, a não aceitar o resultado. E por fim, como nada disso funcionou, o então presidente convocou a multidão a se rebelar contra o Congresso, segundo o comitê.

Cada um desses tópicos foi apresentado com depoimentos de testemunhas que corroboravam a argumentação do comitê. Ao relatar a pressão contra autoridades eleitorais, o comitê exibiu vídeo de uma mesária da Geórgia, Ruby Freeman, 63, que relatou como tem medo de dizer seu nome em público até hoje após as dezenas de ameaças de morte que recebeu. Em outro depoimento, o ex-procurador-geral William Barr apareceu em vídeo dizendo que avisou Trump que não havia indícios de fraude. A ex-diretora de comunicação da Casa Branca Hope Hicks também apareceu dizendo como pediu que Trump se manifestasse contra a violência nos protestos daquele dia, mas foi ignorada.

Os depoimentos e conclusões do comitê já eram conhecidos, mas foram organizados e apresentados ao público na sessão transmitida por alguns dos maiores canais da TV aberta americana –NBC, CBS e ABC. O jornal The New York Times chegou a incluir as audiências em sua retrospectiva anual dos melhores programas da TV.

"6 de janeiro de 2021 foi a primeira vez que um presidente americano recusou seu dever constitucional de transferir o poder de forma pacífica para o próximo", disse a deputada Liz Cheney, uma das duas parlamentares republicanas que fazem parte da comissão. "Entre as descobertas mais vergonhosas deste comitê, está o fato de que o presidente Trump se sentou na sala de jantar do Salão Oval e assistiu por horas o ataque violento ao Capitólio pela televisão", disse. "Nenhum homem que se comporta daquela maneira, naquele momento, pode jamais ocupar qualquer posição de autoridade na nossa nação."

O comitê foi constituído em 1º de julho de 2021 com nove deputados, incluindo dois republicanos, e funciona nos moldes de uma CPI (comissão parlamentar de inquérito) brasileira, com requisição de documentos e intimações para prestar depoimentos.

Trump já é investigado pelo Departamento de Justiça por sua participação no 6 de janeiro. Mesmo sem o poder de tomar medidas legais, o relatório final do comitê aumenta a pressão e entrega uma investigação detalhada para as autoridades da Justiça americana, em um movimento sem precedentes do Congresso americano contra um ex-presidente.

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