Pelo menos 25 pessoas morreram no centro de Kiev, capital da Ucrânia, após confrontos entre manifestantes antigoverno e as forças de segurança, informaram o Ministério do Interior e da Saúde da Ucrânia, na manhã desta quarta-feira (19).
O governo do contestado presidente Viktor Yanukovich denunciou uma tentativa de golpe de estado e abriu uma investigação, e a União Europeia ameaçou impor sanções aos responsáveis pela violência.
Entre os mortos, 9 são policiais, segundo o Ministério da Saúde.
Outras 241 pessoas foram hospitalizadas durante os confrontos, entre elas 79 policiais e 5 jornalistas.
Os enfrentamentos continuaram ao longo da madrugada na Praça da Independência (Maidan), que seguia cercada pela polícia.
Na manhã desta quarta, manifestantes e policiais permaneciam frente a frente, separados por uma cortina de fogo, em um cenário de devastação.
As barracas instaladas no local pegaram fogo, assim como vários andares da Casa dos Sindicatos, quartel-general dos manifestantes em Maidan.
O hospital Medichna Varta informou sobre a morte do jornalista Viacheslav Vereméi, do jornal local ?Vesti?. Ele teria sido morto com um tiro.
Segundo a Reuters, sedes administrativas em Ivano-Frankivsk e em Lviv foram tomadas, assim como uma delegacia de polícia em Ternopil.
O parlamentar oposicionista Oleksander Aronets disse que manifestantes também tomaram o escritório do procurador-geral de Ternopil. Eles "queimaram todos os casos contra os heróis ucranianos", disse o parlamentar em seu perfil do Facebook.
O presidente Yanukovitch esteve reunido com o oposicionista Vitali Klitschko na noite desta terça, mas, segundo o ativista, as tentativas de diálogo falharam ao tentar encontrar uma solução pacífica para o conflito.
"Infelizmente eu não trago nenhuma boa notícia das conversas", disse Klitschko, segundo o site Ukrainska Pravda. De acordo com o oposicionista, a conversa acabou após o presidente exigir que a Praça da Independência, usada pelos manifestantes em Kiev, fosse incondicionamente esvaziada.
As manifestações contra o governo começaram em novembro, depois que o presidente cedeu à pressão da Rússia e desistiu de um tratado comercial com a União Europeia (UE), preferindo a ajuda financeira do Kremlin, principal aliado de Kiev.
Repercussão
A Rússia denunciou uma "tentativa de golpe de Estado", acusou os ocidentais de incitarem a revolta e afirmou que vai continuar com a política de "não-interferência" nos assuntos ucranianos.
A União Europeia acenou com "sanções individuais" e chamou uma reunião extraordinária dos chanceleres do bloco para esta quinta-feira.
O ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, alertou para a possibilidade de sanções europeias. O chanceler francês, Laurent Fabius, também falou em sanções "prováveis".
O primeiro-ministro polonês Donald Tusk considerou que a Ucrânia está ameaçada por uma "guerra civil", com consequências para a segurança e a estabilidade de toda a região.
A alta comissária de Direitos Humanos da ONU, Navi Pillay, pediu moderação e também uma investigação sobre o possível uso excessivo de força contra os manifestantes.
"Tomada ilegal do poder"
Os serviços especiais ucranianos anunciaram a abertura de uma investigação por tentativa de tomada ilegal do poder depois dos confrontos.
A investigação, sobre "alguns políticos", que não são citados, será centrada em "ações políticas ilegais para a tomada de poder", afirma um comunicado dos serviços secretos (SBU).
Luto nacional
O presidente Yanukovitch decretou a quinta-feira como dia nacional de luto em homenagem aos mortos.
As bandeiras serão hasteadas a meio-mastro nos prédios públicos e serão cancelados os eventos e competições esportivas, segundo o decreto publicado pela presidência.