A liderança do Partido Nacional Democrático, do governo do Egito, renunciou neste sábado (5), segundo a TV estatal.
Gamal Mubarak, filho do contestado presidente Hosni Mubarak e seu herdeiro político, está entre os que saíram, no que parece ser mais uma tentativa de conciliação do governo com o crescente movimento oposicionista.
Hossam Badrawi, considerado da ala liberal do partido e que estava "escanteado" por conta de suas críticas ao governo nos últimos anos, assume como novo secretário-geral do comitê central.
Ele, que tem boa relação com os oposicionistas, entra no lugar de Safwat el-Sharif, considerado um político bastante impopular e próximo a Mubarak.
A TV Al Arabiya disse que o próprio Mubarak renunciou à presidência do partido, mas ainda não havia confirmação oficial disso.
Mais cedo, o premiê egípcio, Ahmed Shafiq, disse que o governo já começou a negociar com alguns grupos de oposição e está tentando atrair outros para obter uma transição negociada do poder no país em crise.
Questionado se a Irmandade Muçulmana -importante grupo islâmico de oposição- entraria nas conversas, Shafiq disse: "Uma vez que os outros entrem, eles também vão entrar, ou ficarão sozinhos".
Abdel-Rahman Youssef, membro da juventude que protesta nas ruas do Cairo, confirmou que ele e outros líderes se reuniram com Shafiq na noite de sexta para tentar discutir a transição.
Uma das propostas, segundo Youssef, seria passar o poder para o recém-nomeado vice-presidente, Omar Suleiman, para, de alguma maneira, Mubarak renunciar ou ser afastado.
O ministro de Finanças, Samir Radwan, disse à BBC que o vice-presidente Suleiman iria se reunir com alguns representantes da oposição.
O oposicionista egípcio Mohamed ElBaradei disse que quer discutir uma transição política "sem derramamento de sangue" com o Estado Maior do Exército, em entrevista à revista alemã "Der Spiegel".
Impasse
Depois de 12 dias de crise política, o país enfrenta um impasse.
Pressionado por protestos de rua e por líderes internacionais, Barack Obama à frente, o presidente Mubarak, de 82 anos e há 30 no poder, recusa-se a sair imediatamente, argumentando que o Egito enfrentaria o "caos".
Já os manifestantes temem deixar as ruas, por acreditar que a falta de pressão iria dar margem a que Mubarak tomasse apenas medidas "cosméticas" para tentar se manter no poder.
Milhares de pessoas seguiam acampadas na Praça Tahrir, a principal do Cairo, que se tornou um símbolo da revolta. O clima, ao contrário dos primeiros dias de protestos, era pacífico.
O Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos calculou que pelo menos 300 pessoas morreram e 4.000 ficaram feridas nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança.
O governo tenta trazer o país, cuja economia foi bastante afetada pelos protestos, de volta à normalidade.
A TV estatal informou que os bancos e tribunais iriam voltar a abrir no domingo, primeiro dia útil da semana no Egito. A Bolsa de Valores ainda não abriria.
Mubarak reuniu seus principais ministros da área econômica neste sábado. A reunião incluiu o primeiro-ministro e os ministros de Finanças, Petróleo, e Comércio e Indústria. O presidente do Banco Central do Egito também participou.
Em Munique, a secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, apelou a todos os países da região que façam "reformas democráticas verdadeiras".
Incidentes
Ao mesmo tempo, uma explosão atingiu o importante gasoduto que abastece Israel e Jordânia, na província do Sinal. Os motivos e as consequências do acidente ainda não estavam claros, mas a TV estatal falou em sabotagem.
E a TV americana Fox News informou que o vice-presidente Suleiman escapou de um atentado.
Uma igreja de Rafah, no Sinai, fronteira com a Faixa de Gaza, incendiou-se neste sábado, segundo a France Presse. As causas do incêndio ainda eram desconhecidas, mas testemunhas disseram ter visto homens armados e ouvido uma explosão.
Grupos islâmicos pediram, nos últimos dias, a seus militantes que aproveitassem a crise egípcia para realizar atentados na região, segundo grupos de monitoramento.