O soldado israelense Gilad Shalit, que passou cinco anos em cativeiro na Faixa de Gaza, foi libertado na madrugada desta terça-feira, no Egito, após o acordo entre Israel e o grupo islâmico Hamas que prevê a libertação de centenas de prisioneiros palestinos.
Em entrevista à TV egípcia, Shalit disse esperar que o pacto possa levar a um acordo de paz entre os dois povos. "Tenho esperança de que a cooperação entre os dois lados seja consolidada", afirmou.
Shalit foi levado de Gaza para o Egito e, em seguida, entregue a autoridades no lado israelense da fronteira. Israel afirmou que seu estado de saúde é bom. Depois, Shalit foi levado de helicóptero a uma base militar na região central de Israel, onde encontrou seus familiares e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, segundo informou o gabinete de governo. Shalit deixará a base acompanhado de familiares nesta tarde em um helicóptero, que o levará a seu destino final, sua casa em Mitzpe Hilá, no norte de Israel.
Netanyahu afirmou que, com a libertação, cumpriu a missão que se impôs ao assumir o cargo há mais de dois anos. "Uma das principais missões que encontrei em minha mesa e fixei na agenda do meu coração era trazer de volta para casa nosso soldado são e salvo", declarou em entrevista na base militar de Tel Nof, no centro de Israel.
À TV egípcia, o soldado de 25 anos descreveu seu período de cativeiro em Gaza como "anos de solidão", mas disse que sempre acreditou que seria "libertado algum dia". Ele disse que soube que seria solto "há uma semana".
Shalit afirmou sentir "falta de encontrar pessoas normais", conversar e contar sobre sua experiência. "Tenho muito o que fazer quando estiver livre", afirmou. "Obviamente sinto muita falta de minha família e de meus amigos."
Ao mesmo tempo em que Shalit era libertado, uma primeira leva de 477 prisioneiros deixava prisões israelenses a caminho do Egito. De lá, eles atravessaram a fronteira para a Faixa de Gaza, em Rafah, onde foram recebidos por uma multidão de palestinos. Mais tarde, os ex-prisioneiros palestinos devem participar de uma grande festa de recepção preparada pelo Hamas na Cidade de Gaza.
O presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmud Abbas, disse que o "sacrifício e o trabalho duro" dos presos libertados não foi em vão. "Hoje é um grande dia para a Palestina", afirmou Abbas em discurso perante cerca de 3 mil pessoas em em Ramallah, na Cisjordândia.
Ao todo, Shalit será trocado por mais de mil prisioneiros palestinos. Dentre os 477 soltos nesta terça-feira, 280 haviam sido condenados à prisão perpétua pela morte de civis israelenses. Israel terá agora de cumprir a segunda parte do acordo. Nos próximos dois meses, 550 outros prisioneiros devem ser libertados. Os nomes desses presos ainda não foram definidos.
Referindo-se à "difícil" decisão de libertar os presos palestinos, o premiê israelense afirmou que o governo tem a obrigação de conseguir o retorno daqueles que envia ao front. Além disso, Netanyahu frisou que tentou garantir que a maior parte dos libertados, considerados perigosos para a segurança do país, fosse deportada.
Captura
Shalit foi capturado em 25 de junho de 2006, quando tinha 19 anos, por militantes palestinos ligados ao Hamas. Ele servia em um posto do Exército israelense na fronteira com a Faixa de Gaza. Meses depois, o Hamas assumiu a tutela de Shalit.
Desde então, foram feitas várias negociações para a troca do soldado por prisioneiros palestinos. As conversas nunca progrediram. Um ano após o sequestro, o Hamas divulgou um áudio no qual Shalit dava provas de que estava vivo. Em outubro de 2009, o soldado apareceu em um vídeo.
Os pais de Shalit, Noam e Aviva, passaram a liderar um movimento para a libertação do filho, que ganhou a adesão de israelenses, que se juntaram em grandes manifestações. Nos últimos meses, ativistas montaram um acampamento em frente à residência de Netanyahu, para pressionar o governo a assumir um acordo.
Conexões brasileiras
Um dos liberados em troca de Shalit é Tawfic Abdallah, preso com a mulher, a brasileira Lamia Maruf, em 1986, dois anos após o assassinato do soldado israelense David Manos. A pista que levou as forças de segurança israelenses a prenderem o casal foi o fato de que o carro utilizado para o sequestro do soldado foi alugado com o passaporte brasileiro de Lamia.
Embora tenha afirmado não ter envolvimento no assassinato, Lamia também foi condenada à prisão perpétua, da qual cumpriu 11 anos, até ser libertada em fevereiro de 1997, após um acordo similar ao atual.
Quem também foi incluído na primeira lista é Husan Badran, condenado por planejar o atentado à pizzaria Sbarro, em Jerusalém, que provocou a morte de 15 pessoas, em 2001. Entre os mortos estava o brasileiro Giora Balazs, de 68 anos. A esposa de Balazs, Flora, e sua filha, Deborah, ficaram feridas pelos estilhaços da explosão.