Em represália a foguetes do Hamas, Israel mata 20 pessoas em Gaza

Autoridades de saúde palestinas dizem que entre os mortos estão nove crianças e um comandante militar do grupo

Em represália a foguetes do Hamas, Israel mata 20 pessoas em Gaza | Reprodução
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A Força Aérea israelense lançou uma série de ataques contra a Faixa de Gaza, após o lançamento de dezenas de foguetes do território contra áreas dentro de Israel. Segundo autoridades sanitárias de Gaza, 20 pessoas morreram, incluindo nove crianças e um comandante do Hamas, no ataque mais letal de Israel contra o território palestino em três anos. Sessenta e cinco pessoas ficaram feridas.

O enfrentamento se dá em meio a um levante civil palestino em Jerusalém, na maior onda de protestos na cidade desde a Segunda Intifada (2000-2005), com mais de 500 palestinos feridos desde sexta-feira.

Ataque aéreo israelense contra a Faixa de Gaza na noite de segunda-feira, 10 de maio Foto: IBRAHEEM ABU MUSTAFA / REUTERS 

O islamista Hamas, que controla Gaza, reivindicou o lançamento dos foguetes, que não provocaram vítimas fatais, "em resposta à agressão do inimigo" em Jerusalém, onde palestinos foram às ruas motivados pelo processo de despejo de famílias que vivem no setor oriental da cidade, majoritariamente árabe. Segundo o premier israelense, Benjamin Netanyahu, os ataques de hoje não devem ser os únicos, e podem se estender a outras áreas além de Gaza.

Sem dar detalhes, os militares israelenses confirmaram o ataque, apontando que o alvo era um comandante do Hamas, mais tarde identificado como Muhammad Fayad, das Brigadas al-Qassam, braço armado do grupo. Eles disseram também que “não poderiam confirmar ou negar” que mortes em Gaza foram provocadas pelos bombardeios.

Forças de segurança israelenses detêm um manifestante palestino - Foto: EMMANUEL DUNAND / AFP 

Segundo os israelenses, o Hamas e o grupo Jihad Islâmica lançaram, nas últimas horas, 45 foguetes em direção a áreas habitadas — em sua maioria, os projéteis caíram em áreas abertas perto das cidades de Ashkelon e Sderot, onde um míssil antitanque atingiu um veículo, provocando ferimentos leves em um homem que estava nos arredores. Um outro míssil acertou uma casa abandonada nos arredores de Jerusalém, e o sistema de defesa aérea Cúpula de Ferro  interceptou um outro foguete vindo de Gaza. Já o Hamas garante ter lançado 100 foguetes.

O último ataque israelense com maior número de mortos ocorreu em 14 de maio de 2018, quando mais de 60 palestinos morreram durante protestos e confrontos coincidentes com a inauguração da nova embaixada dos EUA em Jerusalém. 

Palestinos correm para buscar proteção do gás lacrimogêneo lançado pelas forças de segurança israelenses durante o Dia de Jerusalém Foto: AHMAD GHARABLI / AFP 

Ao longo do final de semana e nesta segunda, o Hamas prometeu lançar ataques contra o território israelense, como forma de marcar posição nos protestos que há semanas são registrados em Jerusalém. Os palestinos reclamam do despejo de quatro famílias do distrito de Sheikh Jarrah, uma área de maioria árabe mas que é alvo de disputa há décadas.

Os manifestantes querem pressionar a Suprema Corte para que reverta a decisão de um tribunal de instância inferior que cedeu as casas das famílias a colonos israelenses que afirmam ter comprado as propriedades. Os atos, reprimidos pelas autoridades israelenses em plena Esplanada das Mesquitas, o terceiro local mais sagrado do Islã, deixaram 331 palestinos feridos apenas nesta segunda, e mais de 500 desde o fim de semana.

Os protestos também ocorreram em Gaza, e passaram das ruas para as barreiras que separam a região do território israelense. No sábado e no domingo, manifestantes jogaram pedras e pneus queimados contra as tropas em postos de controle. Ao mesmo tempo, o Hamas passou a afirmar que retomaria o lançamento de foguetes contra cidades de Israel, incluindo Jerusalém, que foi alvo de pelo menos sete projéteis nas últimas horas.

Manifestante palestino atira pedras com um estilingue próximo a pneus em chamas durante um protesto na fronteira com Israel, a leste de Rafah, no sul da Faixa de Gaza Foto: SAID KHATIB / AFP 

Opções sobre a mesa

Em comunicado, o porta-voz da ala militar do Hamas, Abu Obeida, afirmou que os foguetes eram uma resposta ao que chamou de “crimes e agressão” de Israel, e que essa era “uma mensagem que o inimigo precisa entender bem”. O grupo também deu um ultimato para que as forças de segurança israelenses deixassem Sheikh Jarrah até as 18h pelo horário local, 11h pelo horário de Brasília, e que realizaria novos ataques caso a repressão na Cidade Velha de Jerusalém continuasse.

A resposta veio pouco depois. Segundo o porta-voz das Forças de Defesa de Israel, Hidai Zilberman, os foguetes, em especial o que atingiu um veículo, “foram um evento significante que não passará impune”.

— O Hamas vai sentir que nossa resposta a esse evento não vai durar alguns minutos, mas sim dias — declarou Zilberman à imprensa. — Se o Hamas não entendeu isso ainda, eles vão entender depois do que fizermos. Temos algumas opções sobre a mesa.

Em pronunciamento, Netanyahu confirmou que a resposta israelense deve ser prolongada, e não se resumirá apenas a Gaza.

— As organizações terroristas em Gaza cruzaram a linha vermelha à noite no Dia de Jerusalém e nos atacaram com mísseis nas entradas de Jerusalém. Israel responderá com grande força. Não sofreremos danos ao nosso território, nossa capital, nossos cidadãos e nossos soldados. Quem nos ataca vai pagar um preço alto — afirmou, em pronunciamento. — O conflito atual pode continuar por algum tempo. Não queríamos escalar, mas aqueles que escolherem escalar sentirão a força de nossos braços.

Ao se pronunciar sobre a crise, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que o Hamas deve suspender imediatamente o lançamento de foguetes contra Gaza. Ao mesmo tempo, pediu a todos os lados que trabalhem para amenizar as tensões em Israel.

Segundo um funcionário do governo palestino, em entrevista à Reuters, representantes do Egito, do Qatar e das Nações Unidas ja estão em contato com lideranças do Hamas para tentar reverter a escalada. Ele pontuou que, no passado, esses países e a ONU já mediaram tréguas entre o grupo e Israel no passado.

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