Polêmica da camisinha foi “ridículo”, diz autor de livro do Papa

Entrevista tem outros temas importantes, afirmou jornalista alemão

O Papa Bento XVI segura cópia do seu livro | AP
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O jornalista alemão Peter Seewald, autor de um livro-entrevista com o Papa Bento XVI, qualificou nesta terça-feira (23) de "penoso e ridículo" o enfoque dado pela imprensa à questão da recomendação papal sobre o uso do preservativo, apesar "da amplidão dos temas abordados" na obra.

"Nosso livro aborda a sobrevivência do planeta ameaçado, o papa faz um apelo a toda a humanidade, nosso mundo desmorona, e a metade dos jornalistas não se interessa senão pela questão do preservativo", lamentou Seewald durante entrevista à imprensa na apresentação, no Vaticano, do livro intitulado "Luz do Mundo".

Ele admitiu, no entanto, que o uso do preservativo se trata de uma "questão importante".

Os jornalistas, europeus em maioria, vieram em massa para assistir à apresentação do livro, que já deu muito o que falar: a sala de imprensa do Vaticano estava lotada. Os dispositivos de tradução - Seewald só fala alemão - foram logo tomados por profissionais e chegaram a faltar.

"A vida de nosso planeta vai terminar e nós nos atemos à questão de saber se o preservativo é permitido pela Igreja", insistiu o autor, que falou de "crise do jornalismo".

Na obra, a pergunta: "a Igreja Católica não é fundamentalmente contra a utilização de preservativos?", o pontífice responde "em alguns casos, quando a intenção é reduzir o risco de contaminação, podendo ser um primeiro passo para abrir o caminho a uma sexualidade mais humana, vivida de outro modo".

Erro

Bento XVI cita o caso de um prostituto, na versão alemã, e uma prostituta, na versão italiana.

A este respeito, o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano, confirmou que a versão italiana trazia um erro; "a versão de referência é a alemã".

Mas, acrescentou, "quer se trate de homem, mulher, ou transexual, é a mesma coisa: a mensagem é a de que se deve evitar um risco grave à vida do outro, uma responsabilidade".

O destaque dado ao preservativo, objeto de numerosas perguntas da imprensa, levou o cardeal Rino Fisichella, presidente do Conselho pontifical para a Nova Evangelização, afirmar que "os problemas morais não são condensados no preservativo: há questões morais dominantes como a bioética e a genética".

Para Peter Seewald, o livro "tem qualquer coisa de novo: chegamos a conhecer pessoalmente este papa, vimos Bento XVI como ele é, sem falsas interpretações, e aprendemos sua maneira de abordar e de ver seu pontificado".

"É um homem idoso, de 83 anos, fatigado, que tem uma tarefa muito pesada" mas "é autêntico e não mudou sua essência, sua personalidade" com a eleição, afirmou o autor, que já escreveu dois livros-entrevistas com o então cardeal Joseph Ratzinger antes de ele aceder ao papado.

Em sua opinião, o papa "não se apresenta como um ditador, um cardeal panzer" (uma abreviação de "Panzerkampfwagen", um substantivo alemão que se traduz como "Veículo Blindado de Combate"). "É um homem do diálogo que não tem problema ante a questões cruciais ou críticas, um homem dotado de enorme força intelectual, genial, simples e muito piedoso", acrescentou, considerando que "estas características maravilhosas de Joseph Ratzinger tornam-se manifestas, agora que é papa".

"Não houve censura: na versão escrita, reproduzimos a linguagem oral e o papa forneceu algumas precisões", explicou.

Para ele, "o livro tem por objetivo fazer um balanço do pontificado na metade do caminho" e "representa uma ajuda importante para melhor compreendê-lo".

Renúncia

No livro, Bento XVI diz ainda que não hesitaria em tornar-se o primeiro pontífice a renunciar por vontade própria em mais de 700 anos, caso se sentisse sem condições "físicas, psicológicas e espirituais" de liderar a Igreja.

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