Cientistas da Universidade de Oxford, que lideram um estudo sobre tratamentos para Covid-19 em mais de 11 mil pacientes no Reino Unido, anunciaram nesta sexta-feira (5) que não encontraram benefícios em tratar a Covid-19 com hidroxicloroquina. Por isso, essa parte dos estudos, que envolve 1,5 mil pessoas, será suspensa.
"Concluímos que não há efeito benéfico da hidroxicloroquina em pacientes hospitalizados com Covid-19", anunciaram os líderes dos ensaios. "Decidimos, portanto, interromper a inscrição dos participantes no braço da hidroxicloroquina do estudo Recovery com efeito imediato".
Segundo os pesquisadores, a parte da pesquisa que testou a eficácia da hidroxicloroquina comparou os resultados de 1.542 pacientes que usaram o remédio contra os de outras 3.132 pessoas, que foram submetidas ao cuidado padrão (o grupo controle). Eles concluíram que "não houve diferença significativa na mortalidade" entre os pacientes que usaram a substância.
"Também não houve evidência de efeitos benéficos na duração da internação hospitalar ou em outros resultados. Esses dados excluem de forma convincente qualquer benefício significativo da hidroxicloroquina em relação à mortalidade em pacientes hospitalizados com Covid-19", disseram.
Os pesquisadores afirmaram que os resultados completos da pesquisa serão divulgados "em breve".
Peter Horby, professor de doenças infecciosas emergentes e saúde global em Oxford e pesquisador-chefe do estudo, declarou que "hidroxicloroquina e cloroquina receberam muita atenção e têm sido amplamente utilizadas no tratamento de pacientes com Covid, apesar da ausência de boas evidências".
"O estudo Recovery mostrou que a hidroxicloroquina não é um tratamento eficaz em pacientes hospitalizados com Covid-19. Embora seja decepcionante que esse tratamento tenha se mostrado ineficaz, ele nos permite concentrar o cuidado e a pesquisa em medicamentos mais promissores", ponderou Horby.
Martin Landray, professor de medicina e epidemiologia na universidade e vice-pesquisador-chefe, afirmou que os resultados preliminares do estudo são "bastante claros".
"A hidroxicloroquina não reduz o risco de morte entre pacientes hospitalizados com esta nova doença. Esse resultado deve mudar a prática médica em todo o mundo e demonstra a importância de grandes ensaios randomizados para informar as decisões sobre a eficácia e a segurança dos tratamentos", disse Landray.
Testes da OMS mantidos
Especialistas da Organização Mundial de Saúde (OMS) comentaram a decisão da suspensão do ensaio britânico em coletiva nesta sexta em Genebra. Eles afirmaram, entretanto, que continuariam os testes da entidade com a substância, que foram retomados, depois de uma suspensão temporária, na quarta (3).
A OMS chegou a suspender os testes com a hidroxicloroquina, no final de maio, por causa de um estudo com 96 mil pessoas publicado na revista "The Lancet", que apontava não haver benefícios do remédio contra a Covid-19 e indicava haver risco de arritmia cardíaca entre os pacientes que o haviam utilizado.
O estudo, entretanto, foi retratado pelos autores na quinta-feira (4), por causa de problemas na base de dados utilizada para fazer as análises. Eles afirmaram não poder mais garantir a veracidade dos dados usados na pesquisa.