O Exército egípcio evacuou no começo da manhã deste sábado um quartel dos serviços da Segurança do Estado na zona de Ramla, em Alexandria, depois que centenas de pessoas invadiram o local na noite de sexta-feira, informou a agência de notícias egípcia Mena.
A multidão entrou à força no edifício, um dos símbolos do regime de Hosni Mubarak, apesar de soldados estarem de prontidão no local desde as revoltas populares de fevereiro, informou a Mena. A massa incendiou quatro veículos e destruiu outros seis carros da polícia que estavam estacionados em frente ao imóvel de quatro andares.
Os militares atiraram para o alto e precisaram intervir para proteger os agentes que se encontravam no edifício e defendê-los da multidão enfurecida que tentou destruir tudo o que encontrou.
Fontes dos corpos de segurança egípcios, por sua vez, negaram que houvesse policiais no interior do edifício na noite de ontem, indicando que o lugar estava vazio porque fora evacuado previamente. Os temidos serviços da Segurança do Estado eram o principal instrumento de repressão do regime de Mubarak.
Mundo árabe em convulsão
A onda de protestos que desbancou em poucas semanas os longevos governos da Tunísia e do Egito segue se irradiando por diversos Estados do mundo árabe. Depois da queda do tunisiano Ben Ali e do egípcio Hosni Mubarak, os protestos mantêm-se quase que diariamente e começam a delinear um momento histórico para a região. Há elementos comuns em todos os conflitos: em maior ou menor medida, a insatisfação com a situação político-econômica e o clamor por liberdade e democracia; no entanto, a onda contestatória vai, aos poucos, ganhando contornos próprios em cada país e ressaltando suas diferenças políticas, culturais e sociais.
No norte da África, a Argélia vive - desde o começo do ano - protestos contra o presidente Abdelaziz Bouteflika, que ocupa o cargo desde que venceu as eleições, pela primeira vez, em 1999; mais recentemente, a população do Marrocos também aderiu aos protestos, questionando o reinado de Mohammed VI. A onda também chegou à península arábica: na Jordânia, foi rápida a erupção de protestos contra o rei Abdullah, no posto desde 1999; já ao sul da península, massas têm saído às ruas para pedir mudanças no Iêmen, presidido por Ali Abdullah Saleh desde 1978, bem como em Omã, no qual o sultão Al Said reina desde 1970.
Além destes, os protestos vêm sendo particularmente intensos em dois países. Na Líbia, país fortemente controlado pelo revolucionário líder Muammar Kadafi, a população vem entrando em sangrento confronto com as forças de segurança, já deixando um saldo de centenas de mortos. Em meio ao crescimento dos protestos em diversas capitaos, Kadafi foi à TV estatal no dia 22 de fevereiro para xingar e ameaçar de morte os opositores, que desafiam seu governo já controlam partes do país. Na península arábica, o pequeno reino do Bahrein - estratégico aliado dos Estados Unidos - vem sendo contestado pela população, que quer mudanças no governo do rei Hamad Bin Isa Al Khalifa, no poder desde 1999.
Além destes países árabes, um foco latente de tensão é a república islâmica do Irã. O país persa (não árabe, embora falante desta língua) é o protagonista contemporâneo da tensão entre Islã/Ocidente e também tem registrado protestos populares que contestam a presidência de Mahmoud Ahmadinejad, no cargo desde 2005. Enquanto isso, a Tunísia e o Egito vivem os lento e trabalhoso processo pós-revolucionário, no qual novos governos vão sendo formados para tentar dar resposta aos anseios da população.