Uma imagem se tornou símbolo da tragédia dos migrantes. Numa praia da Turquia, um menino sírio foi encontrado afogado, e junto com a família ele tentava só chegar à Europa. A Grécia estava logo ali. Era o meio do caminho entre o inferno da Síria e o sonho de viver no Canadá. A viagem seria curta, pouco mais de cinco quilômetros de travessia de Bodrum até a ilha de Kos.
Mas ventava demais. O mar estava bravo. E as ondas de mais de três metros viraram o bote superlotado. Como contaria no dia seguinte, o pai, Abdullah, conseguiu segurar os dois filhos se apoiando no barco virado, lutando contra as ondas. Mas não por muito tempo. Depois de muita luta, Aylan, o irmão Ghalib e a mãe acabaram sendo vencidos por esse mar. O corpo do menino foi parar no ponto da praia onde foi fotografado. A imagem correu e comoveu o mundo.
Aylan, ainda com a roupinha da viagem, estava morto nos braços de um guarda turco. E a foto, tirada às 6h de quarta-feira (2), se multiplicou pelas mãos de artistas do mundo inteiro, que homenageavam o menino de dois anos ao mesmo tempo em que falavam de um problema que finalmente recebia a atenção merecida.
Se a aventura desse certo, a família Kurdi se juntaria aos outros milhares de refugiados que chegam à União Europeia procurando o apoio de leis relativamente favoráveis a eles. O pai tinha dinheiro e queria pegar um avião para o Canadá. Enquanto ele não começasse o trabalhando como cabeleireiro, morariam todos no porão da casa de uma tia de Aylan.
Em Vancouver, Tima Kurdi, a tia, contou que o Canadá rejeitou o pedido de refúgio para um outro irmão dela. Mas que, assim mesmo, pretendia fazer em breve o mesmo pedido para a família de Aylan. Neste sábado (5), participou de um memorial em homenagem à cunhada e aos sobrinhos.
O sonho era complicadíssimo, mas foi interrompido antes da hora, entre outros motivos, pela desonestidade do contrabandista que cobrou o equivalente a R$ 17 mil, prometeu levar a família em um barco motorizado, e na última hora apareceu só com um bote inflável. Que por falta de dinheiro ou alternativa é o que milhares de refugiados continuam usando.
O vídeo mostra um dos caminhos mais usados pelos refugiados pra atravessar para a ilha de Kos, na Grécia, que fica na frente. Em uma embalagem encontrada no chão, dá para ver a bomba, como foi usada para a família que naufragou. E dá pra ver também muitas embalagens ed água pelo caminho. Sinal de que é recente a passagem das pessoas por lá.
Chama muito a atenção ver pelo chão boias de criança, usada em piscina. Muito frágil, que obviamente não vai aguentar uma onda que às vezes chega a cinco metros de altura, como inclusive acontecia no dia em que o Aylan, a mãe e o irmão dele morreram.
E quem sobreviveu, vive com medo. Entre casas destruídas, e ruas vazias. Sem imaginar como construir um futuro num lugar como esse. Foi com medo do Estado Islâmico, das bombas e dos tiroteios que a família de Aylan resolveu ir embora. Sem imaginar que voltaria tão cedo. E, muito menos, desse jeito.