Zhang Yang é um brilhante jovem de 18 anos de uma cidade rural na província de Anhui, no leste da China, que foi aceito para estudar em uma faculdade tradicional e prestigiada de medicina da cidade de Hefei. Mas a notícia foi demais para seu pai, Zhang Jiasheng.
Ele havia ficado parcialmente paralisado após sofrer um derrame, há dois anos, e estava impedido de trabalhar. Temia que a família, já em dívida para pagar medicamentos, não fosse capaz de pagar pelo ensino do filho.
Então, enquanto seu filho viajava para casa para comemorar seu sucesso, Zhang Jiasheng se suicidou, ingerindo pesticida.
O caso de Zhang é extremo. Mas o fato é que as famílias do leste asiático estão gastando cada vez mais dinheiro para garantir a melhor educação possível para seus filhos.
Em países como a Coreia do Sul e a China, a "febre por educação" está forçando as famílias a fazerem escolhas, às vezes radicais, para pagar as contas.
Há famílias que até vendem seus apartamentos para levantar dinheiro e mandar seus filhos para estudar no exterior.
"Gastos Extremos"
Andrew Kipnis, antropólogo da Universidade Nacional da Austrália e autor de um recente livro sobre o intenso desejo por educação na China, diz que o montante gasto em educação está "se tornando extremo".
Não são apenas as famílias de classe média que estão gastando mais em instrução. Operários também querem que seus filhos tenham uma vida melhor que a deles e veem a educação como o único meio de assegurar a mobilidade social. Alguns acabam endividados.
"As famílias estão gastando menos em outras coisas. Há muitos casos de pais em regiões rurais que deixam de pagar um seguro de saúde para gastar o dinheiro na educação de seus filhos", disse Kipnis. "Os pais podem ser forçados a adiar a construção de uma casa nova para investir nos estudos dos filhos."
Kipnis fez a maior parte de sua pesquisa no distrito de Zouping, na província de Shandong (leste da China), com famílias de classe média e rurais.
"Pode ser (algo) muito intenso. Eles costumam pegar empréstimos com parentes. E é claro que algumas pessoas têm dificuldade em pagá-los de volta", disse.
Uma pesquisa feita pelo Euromonitor constatou que a renda anual per capita disponível na China aumentou 63,3% nos cinco anos até 2012, mas as despesas em educação aumentaram quase 94%.
Projeto de família
Educar uma criança se tornou um projeto da família. "É uma responsabilidade que vai além dos pais, também inclui avôs e avós", disse Todd Maurer, especialista em educação asiática e sócio da consultoria Sinica Advisors.
Há evidências de altos níveis de gastos com educação na China, na Coreia do Sul, em Taiwan, Hong Kong e Cingapura. Esses gastos também estão aumentando na Índia e na Indonésia.
Na Coreia do Sul, as despesas no setor têm contribuído para alçar o endividamento familiar a níveis recordes. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica LG, 28% das famílias sul-coreanas não conseguem pagar as prestações de empréstimos, e seus salários não são suficientes para viver.
Uma grande parte dessa renda - 70% das despesas das famílias coreanas, de acordo com estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Samsung em Seul - vai para o ensino privado, para obter uma vantagem educacional em relação a outras famílias.
Famílias fazem cortes em todos os tipos de gastos domésticos, disse Michael Seth, professor de história coreana na Universidade James Madison (EUA) e autor de um livro sobre o zelo educacional da Coreia do Sul. "Há menos dinheiro para gastar em outras coisas, como habitação, aposentadoria ou férias."
"Todos os países em desenvolvimento da Ásia, especialmente a China, parecem ter um padrão semelhante", disse.
Isso é explicado por um modelo altamente competitivo e por aspirações sociais crescentes.
"O sistema de ensino coreano coloca uma enorme pressão sobre as crianças", disse o professor. "A única maneira de optar por sair do sistema é não ter filhos. É tão caro educar uma criança que este é, sem dúvida, um fator para a baixa taxa de natalidade na Coreia do Sul."
Obsessão
A obsessão pela educação se tornou motivo de preocupação para o governo sul-coreano, ante os altos gastos familiares com aulas extracurriculares e escolas de ensino intensivo, com provas altamente competitivas.
Ainda que em níveis menores que os sul-coreanos, a "febre por educação" chinesa também pressiona o orçamento das famílias. Uma pesquisa recente da consultoria Mintel identificou que nove entre dez crianças de classe média chinesas fazem cursos extracurriculares pagos - que seus pais esperam que as ajude a entrar em uma boa universidade.
"Como o custo da educação aumentou e a disputa por vagas em boas universidades ficou muito mais intensa, (as famílias) estão investindo mais de suas economias para garantir que as crianças obtenham as notas necessárias", diz Matthew Crabbe, pesquisador da Mintel.
E 87% dos pais chineses entrevistados na pesquisa disseram que estão dispostos a financiar a educação de seus filhos no exterior - algo antes restrito aos chineses mais ricos -, em busca de um "atalho" para o sucesso profissional de seus descendentes.
Zhang Jianbai, que coordena uma escola particular na província de Yunnan (sul do país), diz que pais do interior da China frequentemente vendem seus apartamentos para pagar o custo da educação no exterior.
No ano passado, cerca de 40 mil estudantes chineses foram a Hong Kong participar de processos seletivos para universidades americanas. Uma empresa chinesa que organiza essas viagens para a ex-possessão britânica cobra mil dólares em média pela jornada, para estudantes vindos da China continental.
E os pais desses estudantes pagam até US$ 8 mil em despesas de educação nos Estados Unidos, caso eles sejam aceitos.
"Os pais estão investindo seus últimos recursos no futuro de seus filhos ao mandá-los ao exterior", diz Lao Kaisheng, pesquisador de políticas educacionais na Universidade Capital Normal, em Pequim.
Isso significa que, quando esses jovens se formarem, recairá sobre eles uma grande pressão para ganhar dinheiro rapidamente.
O debate em torno da questão deve crescer à medida que aumenta o número de formandos no exterior - serão 7 milhões neste ano, o que indica que seu diploma não terá a mesma vantagem competitiva no mercado que tinha antes.
Mas não é fácil combater a "febre educacional". Na Coreia do Sul e em outros países do leste asiático, "é algo profundamente enraizado na cultura e baseado na realidade de que não há caminhos alternativos para o sucesso (profissional)", diz Michael Seth.
"Enquanto for assim, é racional que os pais gastem tanto e coloquem tanta pressão sobre seus filhos."