Fidel Castro confirmou sua renúncia à direção do Partido Comunista de Cuba (PCC), seu último alto cargo político no país, ao pedir sua exclusão do Comitê Central, segundo escreveu em um artigo difundido nesta terça-feira (19) pelo portal ?Cubadebate?.
?Raúl (presidente Raúl Castro, seu irmão) conhecia que eu não aceitaria na atualidade cargo algum no Partido?, escreveu Fidel, ao explicar sua ausência no novo Comitê Central do PCC, eleito nesta segunda-feira (18) durante o 6º Congresso do partido.
O ex-presidente escreveu que sugeriu que Raúl o excluísse da lista de candidatos ao Comitê Central por causa de sua idade e sua saúde, e porque já não poderia emprestar muitos serviços ao partido".
Fidel, de 84 anos, era primeiro-secretário, principal cargo do sistema comunista, do Comitê Central do PCC desde a criação do partido, único legal em Cuba, em 1965. O novo Comitê apontará o substituto de Fidel.
O próprio Fidel sugeriu, em artigo publicado em março, que o presidente do país deveria ocupar este cargo, no caso seu irmão Raúl, segundo secretário desde 1965.
Espera-se que tanto o Comitê Central como o Bureau Político sofram uma forte renovação, com maior presença feminina e equilíbrio racial, aprovados pelo grupo.
Os resultados devem ser apresentados nesa terça, último dia do Congresso.
A candidatura foi selecionada de um total de 1.280 propostas das células de base (núcleos) do PCC, integrado por cerca de 800 mil militantes e reconhecido pela Constituição como a "força dirigente superior da sociedade e do Estado".
Reformas
No final de semana, o PCC sugeriu aperfeiçoamentos nas amplas reformas propostas pelo presidente Raúl Castro, mas em termos gerais decidiu acatar as mudanças na precária economia do país, disse a mídia estatal na segunda-feira.
Os mil delegados do PCC se reuniriam em cinco comissões distintas no domingo (17), quando deram seu aval às propostas de Raúl para enxugar o funcionalismo público, cortar a ração mensal de alimentos distribuída à população, estimular a iniciativa privada e implementar outras medidas destinadas a melhorar a produtividade, mas sem abrir mão do planejamento central.
Os painéis apresentariam suas conclusões ao congresso na tarde de segunda-feira, segundo o Granma, órgão oficial do PCC. A aprovação parece quase assegurada.
Os relatos da mídia estatal não sugerem nenhuma discordância com o plano do presidente Raúl Castro, mas dão conta de que algumas medidas adicionais foram incluídas entre as 311 reformas que estão em discussão.
Nova liderança
O congresso, que termina nesta terça-feira, vai eleger uma nova liderança para o principal órgão político de Cuba -- um processo que será atentamente acompanhado por observadores, por dar pistas sobre novos nomes que eventualmente poderão substituir a velha guarda revolucionária.
Em artigo publicado na capa do Granma, o ex-presidente Fidel Castro disse que "a nova geração está sendo chamada a retificar e alterar sem hesitação tudo que deve ser retificado e alterado, e a continuar demonstrando que o socialismo é também a arte de fazer o impossível acontecer."
O "impossível", segundo ele, é "construir e provocar a revolução dos pobres, pelos pobres e para os pobres, e defendê-la por meio século da mais poderosa potência militar que já existiu" -- uma referência aos Estados Unidos, que mantêm um embargo comercial contra a ilha.
Fidel, que raramente aparece em público nos últimos anos, não participou da abertura do congresso. A mídia estrangeira não foi autorizada a acompanhar as sessões de domingo.
Debates
As comissões se concentraram em temas gerais, como a necessidade de construir uma cultura mais empresarial, e específicos, como a tributação aos mais de 200.000 cubanos que agora trabalham como autônomos.
Os delegados aprovaram uma proposta para que as alíquotas tributárias sejam revistas periodicamente, e sugeriu que elas sejam ajustadas localmente, para não serem onerosas demais em áreas de baixa atividade econômica.
Foi discutida também a necessidade de empregar mais jovens na agricultura, e houve sugestões de que terras ociosas sejam usadas para criar empregos. Nos últimos dois anos, mais de 113 mil cubanos arrendaram áreas de cultivo, numa iniciativa estimulada pelo governo para tentar reduzir seus gastos com a importação de alimentos.
As comissões apoiaram reformas destinadas a aumentar a produção de açúcar, que tem diminuído, mas disseram que o plano deve incluir verbas para a conservação de usinas antiquadas.