O garoto Sean Goldman, 11, afirmou nunca ter perguntado à sua mãe ou à sua avó o porquê de não ter mais contato com seu pai biológico e de nunca ter voltado para os Estados Unidos. ?Eu tinha medo de perguntar?, disse o menino, em entrevista à rede de TV norte-americana ?NBC?.
Na entrevista, ele diz ter tido sentimentos confusos em relação a sua volta aos EUA, em 24 de dezembro de 2009. ?Eu não estava bravo, estava confuso?.
Apesar dos sentimentos confusos sobre deixar o Brasil, a partir do momento em que ele entrou no avião, queria apenas que tudo acabasse. ?Eu me lembro de estar entrando no avião e ver meu pai olhando em volta e acenando. Eu disse apenas para ele se apressar, porque eu queria entrar no avião e voltar para os EUA?.
A emissora, que pagou o voo que levou o menino para os EUA, divulgou trechos da conversa (a entrevista completa irá ao ar nesta sexta-feira, 27) em que o garoto diz que nunca esqueceu o pai: ?Você tem que se lembrar do seu pai?.
Segundo a emissora, no começo, o garoto não chamava David Goldman de ?pai?, mas depois de mais de dois anos de reunião, eles desenvolveram uma relação de pai e filho. ?Outros pais podem ser apenas pais, mas ele é mais que um pai?, define Sean.
A disputa entre o pai biológico e a família brasileira da mãe do garoto, Bruna Bianchi, que morreu em 2008, ainda não terminou na Justiça nacional. O caso ainda deverá ser analisado pelo Supremo Tribunal Federal e a família brasileira defende que o menino seja ouvido sobre sua vontade ou não de ficar no Brasil.
Em 2009, o ministro do STF Marco Aurélio Mello concedeu uma liminar suspendendo decisão do Tribunal Regional Federal da 2ª região, que determinava a entrega de Sean ao pai biológico. Contudo, a liminar foi suspensa pelo ministro Gilmar Mendes no final de 2009, o que permitiu que Sean viajasse para os Estados Unidos.
A avó do menino, Silvana Bianchi, alega que o pai impede contato entre eles. A disputa começou depois da morte de Bruna, por complicações no parto de uma menina, filha de seu novo casamento.
Após a morte da mãe, Sean passou a ser criado pelo padrasto e pelos avós maternos, no Brasil. Mas seu pai biológico --que já tentava reaver sua guarda desde 2004, quando Bruna deixou os EUA e pediu o divórcio--, entrou com um processo na Justiça americana.
O debate sobre o caso chegou a criar incômodos diplomáticos entre Brasil e Estados Unidos, mobilizando a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton e o embaixador dos EUA no Brasil, Clifford Sobel. A questão Sean também esteve presente em conversa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com Barack Obama em visita a Washington.
Em dezembro do ano passado, a reportagem do jornal ?Folha de S.Paulo? foi a Tinton Falls, distrito de Nova Jersey, e conversou com um vizinho que afirmou que Sean tornou-se ?um típico garoto americano?. A reportagem tentou entrevistar o pai do menino, mas Goldman só dá entrevistas à mídia dos EUA.