O herdeiro do grupo Samsung e outros quatro executivos da empresa foram oficialmente indiciados nesta terça-feira (28) por corrupção, num novo golpe para a fabricante de smartphones. A Samsung é o principal conglomerado do país e representa 20% do PIB (Produto Interno Bruto) sul-coreano.
É mais um passo no âmbito do escândalo político que abala a Coreia do Sul há vários meses e que levou à saída da presidente do país, Park Geun-Hye.
Lee Jae-Yong, 48, é o vice-presidente da Samsung Electronics, filho do presidente do grupo e neto do fundador. No dia 17 de de fevereiro foi decretada sua detenção provisória. Ele foi acusado de "corrupção, utilização indevida de bens públicos, ocultação de ativos no exterior e perjúrio", segundo a equipe especial que investiga o caso. O executivo nega todas as acusações.
Lee se tornou o principal executivo da Samsung após uma crise cardíaca de seu pai em 2014. Seu indiciamento significa de maneira quase certa que será levado, ao lado dos quatro executivos, a um tribunal. Três dos cinco indiciados pediram demissão, mas não o herdeiro do grupo, informou a Samsung.
O fato provoca novas inquietações à empresa, que enfrenta dificuldades desde que retirou do mercado o Galaxy Note 7, que registrou vários casos de baterias com defeito.
Mudanças internas
A Samsung anunciou o fim do Escritório de Estratégias Futuras, que supervisiona todas as decisões importantes da empresa, como parte de um "programa de reformas" que prevê maior independência para cada departamento da empresa.
A empresa também decidiu acabar com o poderoso departamento responsável por fazer lobby junto ao governo. Além disso, afirma que deseja tornar a política de doações mais transparente.
"Resta saber se é uma nova medida cosmética para desviar a atenção das críticas da opinião pública", afirmou Chung Sun-Sup, diretor do chaebol.com, site que monitora o comportamento das empresas.
No passado, recordou o analista, "a Samsung acabou com departamentos de controle do grupo quando foi descoberto que não cumpriam a lei, mas depois os criou novamente com outro nome". A família Lee "deve continuar exercendo seu poder e sua influência em todo o grupo", afirmou Sun-Sup.
'Lava Jato' coreana
O escândalo político na Coreia do Sul tem como principal nome Choi Soon-Sil, amiga há 40 anos da presidente afastada Park, acusada de ter utilizado sua influência para obter mais de US$ 70 milhões de diferentes empresas, e de interferir nos assuntos do Estado.
A Samsung foi a empresa mais generosa para as fundações duvidosas controladas pela amiga da ex-presidente. Também repassou milhões de euros a Choi sob o pretexto de financiar na Alemanha os treinamentos de ginetes sul-coreanos, incluindo a filha de Choi Soon-Sil.
Em contrapartida, a Samsung teria recebido o aval do governo para a polêmica fusão, em 2015, de duas de suas unidades, a Cheil Industries e a C&T.
A operação foi denunciada por alguns acionistas que consideraram que a C&T foi deliberadamente desvalorizada. Mas a Caixa de Previdência, importante acionista da Samsung, controlada pelo Ministério dos Assuntos Sociais, apoiou a decisão.
Um ex-ministro de Assuntos Sociais foi acusado no mês passado de abuso de poder.
Investigação deve focar novas empresas
Os indiciamentos foram anunciados no último dia de mandato da equipe especial de investigadores nomeada em dezembro pela Assembleia Nacional, que agora deve transmitir o caso aos juízes do Ministério Público.
No total, 31 suspeitos foram indiciados, 17 deles nesta terça-feira. Uma ex-ministra da Cultura e um ex-chefe de gabinete da presidência estão na lista.
Agora, o Ministério Público deve prosseguir com a investigação sobre outros grupos, como Hyundai Motor e Lotte, afirmou o porta-voz da equipe de investigação.