Mais de 100 morrem no dia mais sangrento em dois anos no Iraque

Diversas cidades foram atacadas por suicidas e carros-bomba

Homem entre escombros em Taji, ao norte de Bagdá, nesta segunda (23) | AFP
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Uma onda de ataques no Iraque matou mais de 100 pessoas nesta segunda-feira (23), segundo agências, no dia mais sangrento vivido pelo país em mais de dois anos, depois que a Al-Qaeda alertou que iria preparar novos ataques e tentar recuperar territórios.

Os números totais de mortos e feridos ainda não são definidos. A Reuters divulga que ao menos 107 pessoas morreram e que outras 268 estão feridas. A France Presse também contabiliza 107 mortos, mas informa 214 feridos. Já a Associated Press fala em 103 mortos e quase 200 feridos.

Atentados envolvendo suicidas e carros-bomba foram registrados em Bagdá, Saadiyah, Khan Beni Saad, Kirkuk, Tuz Khurmatou, Dibis entre outros. O registro do número de cidades afetadas também varia entre 13 e 18, dependendo da agência internacional. Entre as principais vítimas estão policiais e soldados.

Um dos ataques mais mortíferos aconteceu contra uma base militar localizada a leste da cidade de Al Doloaiya, 90 quilômetros ao norte da capital iraquiana, onde pelo menos 15 soldados perderam a vida.

Relatos

"Ouvi explosões à distância então sai de casa e vi um carro do lado de fora", disse o morador de Taji de 40 anos Abu Mohammed, acrescentando que os inspetores da polícia concluíram que era um carro-bomba.

"Pedimos que os vizinhos deixassem suas casas, mas quando eles estavam saindo a bomba explodiu".

Abu Mohammed afirmou que presenciou a morte de uma idosa que carregava um recém-nascido e do policial que descobriu que o carro estava cheio de explosivos.

Um jornalista da AFP no local afirmou que diversas casas estavam completamente destruídas, e que os moradores vasculhavam os destroços em busca de vítimas e de seus pertences.

Em Bagdá, por sua vez, um carro-bomba em frente ao escritório do governo responsável por emitir documentos de identidade no bastião xiita da Cidade Sadr matou ao menos 12 pessoas e feriu outras 22, informaram fontes médicas e de segurança.

"Este ataque é um crime terrível contra a humanidade, porque eles o fizeram durante o Ramadã, quando as pessoas estão jejuando", afirmou uma vítima idosa que não quis se identificar.

Um jornalista da AFP informou que oito carros próximos estavam destruídos e que muitas das vítimas do ataque, ocorrido às 9h30 locais (3h de Brasília), poderiam não ser identificadas porque seus documentos estavam dentro dos escritórios tomados como alvo.

Duas outras explosões nos bairros Husseiniyah e Yarmuk de Bagdá mataram ao menos quatro pessoas e deixaram outras 24 feridas, enquanto um carro-bomba na cidade de Tarmiyah, ao norte de Bagdá, feriu nove pessoas, segundo autoridades.

Tiroteios em postos de controle e explosões na província de Diyala mataram 11 pessoas e deixaram outras 40 feridas, informaram fontes de segurança e o médico Ahmed Ibrahim, do principal hospital da capital provincial Baquba.

Insurgentes também lançaram ataques contra uma base militar perto da cidade de Dhuluiyah, matando ao menos 15 soldados iraquianos e deixando outros dois feridos, de acordo com dois funcionários dos serviços de segurança.

Dois outros ataques na mesma província - um tiroteio em um posto de controle e um carro-bomba perto de uma mesquita xiita - deixaram três mortos e seis feridos, segundo autoridades.

Nove explosões, algumas delas com alguns minutos de diferença, mataram sete pessoas e feriram 29 na cidade de Kirkuk e nas cidades de Dibis e Tuz Khurmatu, na província de Kirkuk.

Três ataques distintos - um carro-bomba, uma explosão e um tiroteio - na cidade de Mosul, no sul, e na cidade próxima de Baaj, deixaram nove mortos e sete feridos, de acordo com o tenente do exército iraquiano Waad Mohammed e com o policial Mohammed al-Juburi.

Uma bomba colocada em um mercado no centro da cidade de Diwaniyah, ao sul de Bagdá, matou três pessoas e deixou outras 25 feridas, informou o chefe dos serviços de saúde da província de Adnan Turki.

Na cidade de Heet, no oeste do país, um carro-bomba explodiu perto de uma patrulha, matando um soldado e ferindo outros 10, de acordo com um soldado do exército iraquiano e do médico Abdulwahab al-Shammari, do hospital da cidade.

Precedentes

Os ataques ocorrem um dia depois de uma série de explosões no Iraque matar ao menos 17 pessoas e ferir outras 100. O balanço desta segunda-feira foi o maior desde 10 de maio de 2010, quando 110 pessoas foram mortas.

Este grave episódio de violência ocorre depois que o país sofreu um aumento dos confrontos em junho, quando ao menos 282 pessoas foram mortas, de acordo com um balanço da AFP feito com dados fornecidos por fontes oficiais e médicas, embora autoridades do governo informem que 131 iraquianos morreram.

Ainda que estes números sejam significativamente menores do que os registrados durante o pico do derramamento de sangue no país, de 2006 e 2008, os ataques ainda são comuns.

Sem reivindicação

Não houve uma reivindicação imediata dos ataques desta segunda-feira, mas o principal grupo da Al-Qaeda no Iraque alertou há alguns dias que busca retomar territórios no país.

A organização Estado Islâmico do Iraque alertou em uma mensagem de áudio postada em vários fóruns jihadistas que começaria a tomar como alvos juízes e procuradores, e pediu a ajuda de tribos sunitas para recapturar territórios que já estiveram em seu poder.

"Estamos começando uma nova etapa", dizia a voz na mensagem, supostamente a de Abu Bakr al-Baghdadi, líder do Estado Islâmico do Iraque desde maio de 2010.

"A primeira prioridade nisso é libertar os prisioneiros muçulmanos em todos os lugares, perseguir e eliminar juízes e procuradores e seus guardas".

Não foi possível verificar se a voz é, de fato, de Baghdadi.

O locutor acrescentou: "Por ocasião do início do retorno do Estado às áreas que deixamos, convoco vocês a realizar mais esforços, e enviar seus filhos com os mujahedines para defender sua religião e obedecer a Deus".

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