Em uma rara aparição, a primeira-dama dos Estados Unidos, Melania Trump, foi a voz responsável por demonstrar empatia com as vítimas da covid-19 no país. Em discurso que fechou a última noite da convenção republicana nesta terça-feira (25), Melania fez a mais forte manifestação de solidariedade pelo governo aos que sofrem na pandemia, durante um evento em que o tema é praticamente ignorado.
Trump evita dar gravidade ao assunto e é cobrado publicamente por não oferecer palavras de conforto às vítimas. O republicano adotou uma resposta tardia e errática para o controle do vírus, depois de ter minimizado a gravidade do coronavírus por mais de dois meses a despeito dos avisos de especialistas do governo. Os EUA acumulam 5,7 milhões de infectados e 177 mil mortos por covid-19, o maior número no mundo.
O tema virou um teto de vidro para o republicano e fez Trump, que começou o ano como favorito à reeleição, ficar quase 10 pontos atrás do democrata Joe Biden nas pesquisas de intenção de voto. Na campanha à reeleição, o presidente tem ignorado o componente humano da tragédia e mantém a estratégia de culpar a China pelo vírus.
O discurso de Melania destoou da abordagem assumida por Trump e pelos demais oradores da convenção republicana, ao demonstrar a preocupação com o sofrimento dos americanos. "Desde março, nossas vidas mudaram dramaticamente. O inimigo invisível afetou todos nós. Minha maior simpatia a todos os que perderam alguém", disse Melania, que ofereceu orações para os que estão doentes e as famílias que perderam alguém.
Outros oradores da noite minimizaram o impacto do vírus e elogiaram Trump pela condução do país na pandemia. O Diretor do Conselho Econômico da Casa Branca, Larry Kudlow, falou do vírus usando verbos no passado, como se a pandemia tivesse acabado.
Ainda em tom de consolo das vítimas da covid-19, Melania defendeu Trump e disse que o marido "não irá descansar até que possa cuidar de cada um afetado pela pandemia". "Eu sei que muitos estão ansiosos e alguns sem esperança. Quero dizer que vocês não estão sozinhos. O governo do meu marido não estará satisfeito até encontrar tratamento ou vacina", afirmou a primeira-dama.
O pronunciamento da primeira-dama foi feito nos jardins da Casa Branca, em mais um dos atos da noite em que a presidência foi explorada para a campanha política de Trump. O presidente e o vice, Mike Pence, assistiram o discurso na primeira fileira de uma plateia de cerca de 70 convidados. Os presentes não usavam máscaras e não havia distanciamento entre as cadeiras. Como parte das medidas de contenção da covid-19, o Distrito de Columbia proíbe reuniões de mais de 50 pessoas.
Melania é discreta e avessa aos pronunciamentos políticos - diferentemente dos filhos do presidente. Em 2016, ela foi acusada de plagiar trechos do discurso de Michelle Obama no discurso da convenção republicana que nomeou Trump como candidato à Casa Branca. Dias depois, uma redatora disse ter sido a culpada pela cópia de trechos da fala da democrata.
O tema da segunda noite de convenção republicana foi "Terra de Oportunidades". Melania, uma ex-modelo eslovena naturalizada americana, lembrou que chegou aos EUA com 26 anos. Ela repetiu parte das críticas à imprensa feitas pelos dois filhos de Trump que discursaram na mesma noite, Tiffany e Eric, mas manteve um tom suave. Ao final, a primeira-dama disse que não iria fazer críticas à oposição pois isso "divide o país", em um claro contraste com todo o restante da convenção, que apresenta Biden e os democratas como uma ameaça à liberdade, segurança e economia americanas.
Com Melania, a campanha republicana também busca angariar apoio do eleitorado feminino. Antes da aparição da primeira-dama, um vídeo de mulheres que trabalharam com Trump foi exibido durante a convenção.